50 ANOS DO 25 DE ABRIL
A Fita do Tempo da Revolução: As movimentações militares na Revolução dos Cravos (9)
SALGUEIRO MAIA OCUPA A BAIXA DE LISBOA
Às 03:30 horas sai a coluna da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, composta por 1 Esquadrão de Reconhecimento, 10 viaturas blindadas, 1 Esquadrão de Atiradores, 160 homens com 12 viaturas de transporte pessoal, 2 ambulâncias, 1 veículo todo-o-terreno e uma viatura civil, perfazendo, no total, 250 militares. Tinha como missões o controlo do Banco de Portugal, da Companhia Portuguesa de Rádio Marconi e do Terreiro do Paço.
O Terreiro do Paço não era um objetivo militar propriamente dito. No entanto era o coração da cidade de Lisboa e ocupar o Terreiro do Paço era de interesse psicológico de elevado valor. Corria uma máxima nos anais da História Militar: quem ocupa o Terreiro do Paço conquista Lisboa. Não seria bem assim no século XX, mas o Terreiro do Paço foi considerado de valor estratégico insuperável.
Havia, porém, uma razão mais musculada: o Regimento de Cavalaria 7, sedeado na Calçada da Ajuda, em Belém, e considerado o punho de ferro do Regime, poderia entrar em cena. E para se deslocar para eventuais teatros de operação necessitaria de passar pelo Terreiro do Paço. Daí a presença duma Unidade Militar com elevada capacidade de fogo.
Salgueiro Maia e a sua tropa chegam ao Terreiro do Paço às 05:40 e ocupam os objetivos previstos. Um dispositivo da PSP que se encontrava no local colaborou com Salgueiro Maia isolando a zona dos poucos civis que, curiosos, se encontravam na zona.
Porém, sem que Maia o soubesse, tinha havido uma corrida entre a sua tropa e o Regimento de Cavalaria 7 na ocupação do Terreiro do Paço, pois poucos minutos depois de Maia o ter ocupado, chegou um esquadrão de reconhecimento do RC7 comandado pelo Alferes (Miliciano) David Silva. Este, ao conhecer o objetivo da tropa de Salgueiro Maia, de imediato adere à Revolução. Foi a primeira deserção de peso nas tropas fiéis. Outras se seguiriam, dentro do mesmo RC7.
O grosso do Regimento de Cavalaria 7 vinha a caminho, comandado pelo seu comandante, o Coronel Romeiras Júnior, que horas antes tinha despistado um comando do MFA que o tentara prender. O Segundo-comandante, o Tenente-coronel Fernand d’Almeida, deslocava-se à cabeça no seu todo-o-terreno. Adiantou-se algumas centenas de metros e, vendo as “chaimites” do seu regimento ocupando o Terreiro do Paço, internou-se confiantemente na Praça. Não imaginava que estas “chaimites” já não estavam sob o seu comando. Foi cercado pela tropa de Salgueiro Maia e outro remédio não teve do que se render. Fê-lo ao Alferes David Silva por ter preferido render-se a um oficial da sua própria Unidade. Os carros de combate que Fernand d’Almeida comandava pessoalmente são integrados na força de Salgueiro Maia.
O Regimento de Cavalaria 7 não vinha sozinho. Acompanhavam-no atiradores do Regimento de Infantaria 1, da Amadora, e militares do Regimento de Lanceiros (Polícia Militar), todos comandados pelo Brigadeiro Junqueira do Reis, Segundo-comandante da Região Militar de Lisboa e nomeado comandante das Forças Fieis.
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Cerca das 07:30 horas Salgueiro Maia é informado que se encontra estacionado no Campo das Cebolas, algumas centenas de metros para nascente do Terreiro do Paço, uma unidade da GNR. Tratava-se do 2.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria. Desconhece-se o nome do seu comandante, mas é conhecido o nome do segundo comandante, o Tenente Dario Guiomar. Salgueiro Maia aproxima-se em todo-o-terreno da coluna da GNR e os respetivos comandantes aproximam-se. Em vez de armas houve um apertado abraço entre Maia e Guiomar. Guiomar havia sido instruendo de Maia. As câmaras fotográficas dos populares explodiram e esta fotografia dos dois contendores a abraçarem-se correu o mundo. “Guerra à Portuguesa”! Mais uma particularidade do 25 de Abril.
Uma curta conversa permitiu aos militares da GNR perceberem que não tinham qualquer possibilidade de confrontarem Maia, pelo que retiraram.
Maia voltou para a sua tropa. Tarefa bem mais difícil o esperava: enfrentar o Regimento de Cavalaria 7 que se aproximava do Terreiro do Paço, com os seus 4 carros de combate M47, na altura o melhor que o Exército possuía.
Maia mediu forças. Estava mal. Embora dispusesse de mais carros, os M47 eram superiores em blindagem e poder de fogo. Um confronto seria uma catástrofe para ambos os lados, pelo que Maia tenta o diálogo. Aproxima-se desarmado e com um lenço branco da Força. O Brigadeiro Junqueira dos Reis não está para conversas, pelo que ordena a um carro que faça fogo contra Maia. A tripulação do carro recusa e o seu comandante, o Alferes (Miliciano) Fernando Sotto Mayor é detido pela Polícia Militar. E os tripulantes do carro recusam cumprir ordens doutro militar que não o seu próprio comandante, pelo que não cumprem a ordem do Brigadeiro. Este explode de raiva.
Entretanto entra na refrega a Fragata Almirante Gago Coutinho, mas este episódio merecerá artigo próprio.
Junqueira dos Reis havia dividido a sua força em duas, no sentido de tentar cercar Maia. Ao comando da Força na Avenida Ribeira das Naus, à beira rio, ficou o Major Pato Anselmo.
Cerca das 10:30 horas Maia decide abordar o Major Pato Anselmo e tentar a rendição deste. Comanda o grupo o Major Jaime Neves e dele faz parte um civil, Fernando Brito e Cunha, antigo militar. O diálogo não faz parte da História, mas da tradição. Não é conhecido Registo Histórico. Mas o que se julga saber é a lapidar frase de Brito e Cunha apontando uma pistola ao peito de Pato Anselmo: “tens 3 hipóteses: ou passas para o nosso lado, ou te rendes, ou eu mato-te”. Pato Anselmo, entre lágrimas, rendeu-se. Maia recebeu, de braços abertos, os
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José Campos Garcia
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