50 ANOS DO 25 DE ABRIL
A Fita-do-Tempo da Revolução: As movimentações militares na Revolução dos Cravos (6)
A QUESTÃO DAS SENHAS DO 25 DE ABRIL A TOMADA DO RÁDIO CLUBE PORTUGUÊS
Desde muito cedo na preparação da movimentação militar, o Major Otelo Saraiva de Carvalho foi encarregado de ser o seu coordenador operacional. E rapidamente viu a necessidade de criar uma forma de alertar simultaneamente todo o dispositivo militar, de norte a sul do país, para que todas as operações militares se iniciassem em simultâneo, cedo na madrugada.
O mais fácil seria utilizar uma rádio nacional. Só havia três: a Emissora Nacional, o Rádio Clube Português e a Rádio Renascença, todos com estúdios em Lisboa.
A Emissora Nacional foi de imediato descartada. Era a emissora do Regime, não abundavam democratas por lá. E se os houvesse, estariam demasiado controlados para cumprirem alguma missão mais revolucionária. Mas, curiosamente, no decorrer da Jornada, a Emissora Nacional “aderiu” ao Golpe e passou também a difundir os Comunicados do Posto de Comando.
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IMAGEM AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PONTE DA BARCA |
Otelo conhecia um locutor do Rádio Clube Português, João Paulo Dinis, seu antigo subordinado na Guiné. Contactou-o, não seria possível. João Paulo Dinis trabalhava no Rádio Clube Português, mas num programa matinal. Demasiado tardio. Mas esse mesmo locutor tinha um programa na rede dos Emissores Associados de Lisboa, um conjunto de pequenos emissores que cobriam a cidade de Lisboa e arredores. Poderia pôr no ar uma qualquer senha com a qual, pelo menos, se alertariam as unidades militares da cidade de Lisboa e arredores, as que teriam as missões mais importantes.
Caricata foi a conversa entre Otelo Saraiva de Carvalho e João Paulo Dinis. Este pergunta a Otelo “e se corre mal?” Otelo, como bom militar, responde “vai correr bem”. “Mas se correr mal?”, insiste João Paulo Dinis. Aí Otelo desce à terra e responde com franqueza: “se correr mal, nós os militares vamos para a Trafaria e vocês, os civis, ides para Caxias”. [Nota do autor: isto foi ouvido pelo autor na rádio Antena 1 pela boca do próprio João Paulo Dinis, em entrevista dada no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril].
Outra razão para se ter descartado o Rádio Clube Português é que havia sido decidido que esta rádio seria ocupada nos primeiros minutos do Movimento para ser a rádio difusora dos comunicados à população. Se a senha partisse desta rádio, poderia muito bem acontecer que a mesma fosse tomada pela polícia e ficasse silenciada. O Movimento perderia a “sua” rádio emissora.
Porém, e no que constituiu um verdadeiro golpe de sorte, João Paulo Dinis conhecia um locutor da Rádio Renascença, Manuel Tomás, democrata, homem da confiança do Major Vítor Alves, militar integrado no Comando do Movimento, bem como do Comandante Almada Contreiras, oficial da Marinha revoltoso. Este locutor tinha um programa noturno na Rádio Renascença, o “Limite”, e poderia colocar no ar a senha principal, de âmbito nacional. Tanto mais que o “Limite” não era um programa da Rádio Renascença, mas esta alugava o seu tempo e antenas para a sua difusão. Haveria um pouco mais de liberdade.
Porém, a missão não seria fácil. Manuel Tomás era considerado um homem “do reviralho” e o seu “Limite” estava sujeito à censura, para o que a Rádio Renascença dispunha dum censor (pago pelo próprio programa!!!) em permanência no estúdio durante a transmissão do mesmo. Haveria que ser prudente.
Às 22:55 horas do dia 24 de abril é lançado pelas antenas dos Emissores Associados de Lisboa o primeiro sinal, na forma da canção “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho. O sinal foi ouvido na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. As unidades militares da capital e arredores iniciaram as suas movimentações.
A senha principal seria difundida pelas antenas da Rádio Renascença às 00h:20 minutos. A voz do locutor Leite de Vasconcelos, numa gravação previamente feita e colocada no ar pelo locutor de serviço Paulo Coelho, recitou a primeira estrofe do poema imortal de Zeca Afonso “Grândola Vila Morena”, logo seguida da entoação da canção pela voz inconfundível do Zeca.
No Posto de Comando, à Pontinha, Otelo exclamou “isto já não volta atrás”.
Mas não bastava colocar no ar uma senha. Havia que ocupar uma estação de rádio. Tratava-se duma revolução democrática, o Povo deveria ser informado do desenrolar das operações.
Havia-se decidido pelo Rádio Clube Português (RCP). Mas esta emissora teria de
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José Campos Garcia*
*Médico
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