O DIA DA ESCRITURA
Cinco de junho do ano 2000
Ao cair da tarde
O derrubar dum sonho
Corte definitivo com as nossas origens
Lá se foi
O jardim dos encantos
Das escondidinhas
Dos sonhos feitos palácios
Lá se foi
A sombra da ramada
Teto da casa invisível
Onde as mulheres pequenas
Fritavam passarinhos
Feitos presas
Pelos pretensos homens
Com artesanais figas
Lá se foi
O tanque
Outrora nossa piscina
Onde flutuavam
Dornas que nos levavam
A lugares longínquos
Lá se foram
As paredes solarengas
Das tardinhas
Onde em inesquecíveis noites de verão
Se faziam revisões da matéria dada
Com sermões de permeio
Conselhos e carinho
Lá se foi
O esconderijo dos três irmãos
Ao serviço da asneira
Irremediavelmente praticada
Com consequente fuga à sanção materna
E o eco dos risinhos das crianças
Da voz quente do nosso pai
Dos melodiosos sons da nossa mãe
Quê dele
Infiltrado nas entranhas daquela terra
Semeada por aquele que nos gerou
Romperá sem limites daquele solo
E nas noites estreladas sob brisa macia
Irradiará entre os novos intrusos
No final
Só restará a saudade
Daquela menina boneca loirinha
Que no nosso palácio brincava
E sorrateiramente beliscava
A comida do cão
E nós?
Sentimos o que não tem forma
Demasiado forte para não nos perturbar
De saudade esfarrapada
Presos àquela casa ficamos
Por Eles leais e coesos
Às nossas origens
Somos filhos da mesma terra
Do mesmo ventre.
Agradeço a meus Pais e Irmãos
o Amor com que me inundaram.
Por:
Eugénia Ascensão
|