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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 20-07-2022

    SECÇÃO: Destaque


    FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO

    CONFERÊNCIA: A gestão democrática das nossas autarquias

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    Integrada na Feira do Livro, teve lugar no dia 15 de julho, à noite, no palco junto à tenda onde decorreu este evento, no Parque Urbano de Ermesinde, a conferência com o título “A Gestão Democrática das Nossas Autarquias”, proferida por Manuel Augusto Dias, presidente da direção da Agorárte e professor de História Contemporânea, e com a participação de Carlos Magalhães.

    João Rosas, da Biblioteca Municipal de Valongo, apresentou o conferencista Manuel Augusto Dias, que, por ser bem conhecido no meio ermesindense, nos dispensamos de repetir o que disse o apresentador, dizendo apenas que é um investigador da história local, com várias obras publicadas, preside à direção da Agorárte e é também o diretor do jornal “A Voz de Ermesinde”.

    A assistência era maioritariamente composta por alunos da Universidade Sénior de Ermesinde (incluindo a maior parte da direção da Agorárte), mas havia também alguns autarcas e vários dirigentes associativos.

    Manuel Augusto Dias começou por fazer referência à efeméride do dia, recordando o vice-presidente da Comissão Administrativa Republicana de Valongo, Marques de Sousa (o presidente também era de Ermesinde, o Dr. Joaquim Maia Aguiar que havia proclamado a República no concelho, a 10 de outubro de 1910), que no dia 15 de julho de 1911, na reunião daquela Comissão se referiu, em pormenor, à Tomada da Bastilha (ocorrida em Paris, no dia 14 de julho de 1789, e particularmente significativa por ser tida como a anuência do povo parisiense aos acontecimentos revolucionários de Versalhes). Desta sua prédica foi dado conhecimento ao governo francês, através do embaixador francês em Lisboa, e o governo de França deu provas do seu agrado com o envio de um telegrama à Comissão Valonguense. Marques de Sousa, pouco tempo depois, deixou a Comissão por não poder comparecer às reuniões que tiveram de ser antecipadas, devido ao facto de mais para a tarde se não poderem fazer por não haver ainda energia elétrica. Recordou depois o “25 de Abril” de 1974, como a data, a partir da qual, se deram grandes mudanças na gestão democrática dos nossos municípios. Falou dos seus antecedentes e das formas de gestão imediatas à revolução, quer a nível central (Junta de Salvação Nacional e depois Governos Provisórios, ainda sem legitimidade democrática), quer a nível local (Comissões Administrativas, normalmente presididas por pessoas ligadas à oposição ao regime deposto).

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    Recordou o nome do último presidente da Câmara, antes do 25 de Abril, Dr. José Ribeiro Pereira (que também era presidente da Assembleia Geral do Centro Social de Ermesinde e já havia sido diretor do jornal “A Voz de Ermesinde”) e o nome do 1.º Presidente da 1.ª Comissão Administrativa do Município, após o “25 de Abril”, Prof. Manuel Borges Rodrigues Aresta (filho de Eugénio Aresta, que tinha combatido na 1.ª Grande Guerra e havia apoiado a candidatura do General Humberto Delgado). Desta Comissão fizeram parte também duas personalidades relevantes de Ermesinde, os Eng.os Manuel Augusto Braga Lino e Manuel Joaquim Moutinho (este seria, mais tarde, eleito deputado constituinte). Lembrou também o nome do último presidente da Junta de Freguesia de Ermesinde, antes do “25 de Abril”, Joaquim Alves de Oliveira; e o 1.º Presidente da Comissão Administrativa da Junta, depois da Revolução, Prof. Joaquim Fernandes Teixeira. Falou de um “Grupo de Democratas de Ermesinde” que reunido no dia 2 de maio de 1974, segundo consta numa das atas da Junta de Freguesia, pretendia tomar o poder na Junta de Freguesia, nos Bombeiros Voluntários de Ermesinde, no Clube de Propaganda da Natação, na Casa do Povo e no Ermesinde Sport Clube. Houve ainda tempo para falar dos resultados comparados, no concelho e a nível nacional, das primeiras eleições para as Constituintes (25-4-1975), das primeiras eleições legislativas (25-4-1976) e das primeiras eleições autárquicas (12-12-1976). Na sequência destas últimas a primeira Câmara Municipal de Valongo passou a ter a seguinte constituição: João Moreira Dias (de Valongo) – presidente; António Ferreira dos Santos (de Ermesinde); Fernando Ferreira Neves (de Alfena); Eng.º Manuel Joaquim Moutinho (de Ermesinde); Álvaro de Sousa Ribeiro (de Valongo); e Dr. Fernando António Sampaio (de Ermesinde).

    João Rosas apresentou, a seguir, Carlos Magalhães, licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto e com o curso de Doutoramento em Estudos de Património/Museologia pela Faculdade de Letras do Porto, tendo publicado nos últimos tempos uma obra diversificada, que vai da poesia à história, passando pelo património, a arte, o fabrico de brinquedos e a pedagogia. Ligado ao MAIS – Movimento de Cidadania Independente e ao Movimento Cívico “Maia Para Todos” justificava-se ouvi-lo no âmbito desta temática. No início da sua intervenção disse que o seu antecessor, Manuel Augusto Dias, falara das virtudes da democracia representativa, mas ele falaria antes das suas disfuncionalidades.

    A Constituição da República Portuguesa de 1976 estabeleceu os órgãos do poder local: Assembleia Municipal, Câmara Municipal, Assembleia de Freguesia e Junta de Freguesia (o Conselho Municipal foi, entretanto, extinto).

    Com a revolução republicana de 1910 as juntas de paróquia foram substituídas pelas atuais juntas de freguesia. Foi o caso de Ermezinde (grafia anterior ao acordo ortográfico de 1945) que até mudou de nome com a República, passando de S. Lourenço de Asmes, para Ermesinde.

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    As autarquias são o poder de proximidade, mas há ainda vários problemas de representatividade a resolver. Vereadores da oposição? Recordou o caso da Maia (mas há muitos outros) em que se deram pelouros a vereadores da maioria, quando na oposição havia vereadores com muito mais competência para o seu exercício; porque não fazer a formação do executivo a partir da Assembleia Municipal como acontece nas freguesias? Referiu-se ao poder discricionário do presidente do executivo, à falta de equidade nas eleições para os órgãos de acesso ao poder local (9.ª alteração de 2020 à lei orgânica n.º 1 de 2001), ao financiamento das campanhas e recolha de assinaturas que prejudica os movimentos independentes (só no início do ano de 2000 puderam existir candidaturas independentes para a Assembleia Municipal e para a Câmara Municipal, já possíveis para as Assembleias de Freguesia), aos mandatos demasiados longos. A propósito recordou a frase de Margaret Thatcher «a democracia é um sistema feito não para que os melhores sejam eleitos, mas para que os piores não fiquem para sempre».

    Carlos Magalhães referiu-se ainda às três dimensões funcionais da democracia: representativa, popular e direta (esta última ainda é hoje uma miragem), os cidadãos elegem governantes e não propriamente representantes. Há democracia para além dos partidos; a democracia é mais antiga que o sistema partidário. A democracia na cidade-Estado Ateniense era rica em profundidade, mas pobre em extensão, apenas um décimo da população da cidade tinha direitos políticos. Recordou os 3 pilares da democracia ateniense: isonomia, igualdade na representação e perante a lei; isogoria, igualdade de expressão e de manifestação; isocracia, igualdade no acesso aos cargos públicos.

    A terminar fez referência elogiosa aos Orçamentos Participativos (nas Assembleias Municipais) e Colaborativo (nas Assembleias de Freguesia) como instrumentos da democracia participativa e disse que Valongo é pioneiro no Orçamento Participativo em Portugal (casos do Orçamento Jovem e do “Conselho das Crianças”).

    No final foi dada a palavra aos presentes que tiveram oportunidade de interrogar os conferencistas, sendo evidente o interesse com que foi seguida a sessão.

     

     

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