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Edição de 29-02-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2021

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (22)

    Alguns precedentes históricos

    IV “O MASSACRE DA BAIXA DO CASSANJE”

    O s trágicos acontecimentos que ficaram conhecidos como “O Massacre da Baixa do Cassanje” constituem, pela sua relevância política e consequente impacto sociológico não estritamente luso-angolano, mas também de nível internacional, o lançar da primeira acha para a fogueira em que se viria a tornar a luta armada pela independência das então colónias portuguesas em África, durante 13 longos e penosos anos.

    Acontecimentos esses que tiveram como retaliação por parte da UPA, mais tarde UPA/FNLA, liderada por Holden Roberto, a partir da vizinha e recém-independente República do Congo, a chacina de largas centenas de colonos brancos e seus assalariados bailundos, em 15 de março de 1961, de que, noutra sede, já aqui falámos.

    Com efeito, a 4 de janeiro desse mesmo ano de 1961, contratados da empresa algodoeira Cotonang (Companhia Geral dos Algodões de Angola)1, da baixa do Cassanje, na província de Malanje, cansados de suportar o trabalho forçado, as péssimas condições laborais, remuneração irrisória e quase sempre em espécie, impostos excessivos, sanções e castigos desumanos, arbitrariamente aplicados, quer por representantes da entidade patronal quer pelas autoridades administrativas locais que, muitas das vezes, com eles compactuavam, decidiram boicotar o cultivo de algodão para aquela empresa monopolista, sublevando-se numa greve geral. Lembramos que estes trabalhadores eram legalmente forçados a trabalhar e, por isso, retirados às suas aldeias, às suas famílias, a maior parte deles bailundos provenientes do centro e sul do território angolano. A cada um era distribuído um hectare de terreno de cultivo de algodão que era forçado a cultivar, em regime de monocultura intensiva, tendo de “vender” a totalidade da sua produção à companhia, pelo preço que esta muito bem entendesse, em detrimento doutras culturas indispensáveis ao sustento de si próprios e de suas famílias. Culturas essas que, tradicionalmente, eram praticadas na região desde tempos imemoriais, como era o caso da mandioca, amendoim, café, etc., cujos produtos eram comercializados pelos próprios produtores e constituíam a base da sua sobrevivência.

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    Assim, em outubro ou novembro, não se sabe bem ao certo, do ano anterior, 1960, os trabalhadores rurais recusam-se a receber as sementes para a época agrícola que então se iniciava. Seguidamente, em 3 de janeiro, instigados por um tal António Mariano, indivíduo pertencente a uma seita religiosa e com ligações à UPA, num protesto coletivo, procedem à destruição das sementes, das culturas, de casas e vias de acesso, episódio conhecido por “Guerra de Maria”. Além disso, chegam mesmo a capturar, torturar e até a matar alguns dos seus capatazes e agentes da autoridade administrativa, instaurando o caos na região, criando assim um verdadeiro e generalizado clima de terror.

    Contextualizando um pouco os acontecimentos, há que referir que aquilo que aparentemente se apresentou como um mero incidente de cariz laboral, reivindicativo de melhores condições salariais e laborais, foi muito além disso. Aliás, como é sabido, ao regime político então vigente na metrópole não interessava que, fora das suas fronteiras, se fizesse eco da insatisfação das populações africanas autóctones sob o jugo colonial, da sua tenaz luta pela independência e muito menos dos episódios violentamente repressivos eventualmente praticados pelas autoridades coloniais, nomeadamente pelas suas forças armadas, no sentido de lhes pôr cobro. Ou não estivesse Portugal, a esse propósito, há alguns anos, sob os holofotes das Nações Unidas! Depois, há que considerar que a recém-independência da República do Congo ocorrida cerca de meio ano antes veio acicatar ainda mais essa luta e fazer o povo angolano acreditar que, também ali, tal seria possível. Aliás, tratando-se dum país fronteiriço, grande número de famílias da região repartia-se entre os dois territórios, para além da circunstância de muitos angolanos terem para ali emigrado, em busca de melhores condições de vida. E é a partir desse território estrangeiro vizinho que ativistas políticos, “agitadores” na lógica colonial, se infiltram na região da Baixa do Cassanje, aproveitando o mal-estar das populações e invocando a experiência e os ensinamentos, senão o próprio aconselhamento, dos líderes congoleses que haviam lutado pela independência do Congo Belga e assumido as rédeas do poder no seu primeiro ato eleitoral pós-independência. Referimo-nos, concretamente, a Joseph Kasavubu e Patrice Lumumba, respetivamente Presidente da República e 1.º Ministro. Assim, esses ativistas creem piamente que, incitando os trabalhadores rurais a insurgirem-se contra o “branco colonialista”, irão, também eles, alcançar a sua própria liberdade e independência.

    Para isso, eivados dum certo messianismo, não se coibiram de enganar a própria população, fazendo-a acreditar que, ao revoltar-se, cumpria a vontade duma entidade mística protetora que dava pelo nome de “Maria” e que não tivesse receio de dar o peito às balas, se necessário fosse, que não tivesse medo das armas dos brancos, pois apenas disparavam inofensivos jatos de água.

    (...)

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    1 Consórcio luso-belga que, por concessão, detinha o monopólio do cultivo e comércio do algodão na extensa área de oitenta mil quilómetros quadrados, na região denominada por “Baixa do Cassanje”, estendendo-se da província de Malanje até às Lundas.

    Por: Miguel Henriques

     

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