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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-03-2021

    SECÇÃO: História


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    MEMÓRIAS DA NOSSA GENTE (21)

    A necessidade aguça o engenho

    Continuo a recordar algumas passagens de “Memórias da Nossa Gente”, mostrando como a necessidade, também aqui, aguçava o engenho. Hoje, lembro alguns artefactos e adornos feitos pelo artesão ermesindense Serafim Mechas, mas também os vários tipos de vassouras que aqui eram feitas, pelos “lavradores-artesãos” e usadas nas diferentes divisões das casas.

    A agricultura desapareceu em Ermesinde. É um facto. Os campos deram lugar a empreendimentos urbanísticos e a fábricas. A maioria dos descendentes dos antigos agricultores ou vivem dos rendimentos a que a venda das terras deram origem, ou mudaram de profissão. Como não podia deixar de ser, os artesãos ligados à agricultura também não fugiram ao destino e hoje a existência de um artesão como Serafim Mechas, é um caso raro.

    Este homem simples, na casa dos sessenta, sobrevive hoje com muito sacrifício, ajudado pelas filhas e pela mulher. As novas circunstâncias do mercado obrigaram-no a optar pela quantidade para revenda e por nova variedade de peças, agora mais ligadas aos caninos e cavalos. Dedica-se, agora, a trabalhar o ferro e o arame, produzindo em grande quantidade «destorcedores», fivelas e argolas, material este que vai ser colocado nas peças de couro, dando origem assim às coleiras para cães, cabrestos para cavalos etc. Este trabalho em série, contudo, não o impede, como diz, de fazer um jugo ou uns pares de cofinhos, caso haja encomendas. A sua participação nas feiras também acabou, pois não são rentáveis, com a excepção da feira de S. José, em Março e da de S. Miguel, em Outubro, ambas em Leça do Balio. O trabalho em madeira, segundo nos diz, agora, é quase inexistente.

    DAS VASSOURAS

    DO CAMPO

    ÀS VASSOURAS

    DA FÁBRICA

    Artefactos e adornos vários, feitos por Serafim Mechas
    Artefactos e adornos vários, feitos por Serafim Mechas
    Para melhor percebermos o tipo de vassoura usada nos vários locais da casa agrícola, teremos de dar a conhecer, a quem nos lê, as suas características físicas e a utilização que, nesse tempo, era dado a esses espaços. A cozinha era a divisão da casa onde se podia, conforme o trabalho a desenvolver, aplicar mais que um tipo de vassoura e daí a necessidade que sentimos em a descrever mais pormenorizadamente. A natureza fornecia as plantas, umas recolhidas directamente e outras originárias de uma sementeira prévia, como acontecia com a que se usava na sala.

    Muitas foram as plantas que pela natureza ou estrutura dos seus caules, folhas ou copas, foram utilizadas ao longo dos séculos na manufactura das vassouras. Cada terra servia-se dos materiais que tinha à mão e a nossa não fugiu à regra. Numas, por exemplo, usou-se o junco, o codesso e a piteira, enquanto, aqui, a giesta e o painço, foram rainhas.

    Para analisarmos este assunto teremos que ter em conta não só os materiais da sua confecção, como os acabamentos, factores, estes que estão relacionados com os serviços a que se destinavam esses objectos caseiros. Assim, e para melhor enquadramento histórico, podemos dividir as vassouras (em vassouras de sala e vassouras de cozinha), embora esta divisão não seja de todo rigorosa.

    VASSOURAS DE SALA

    Como o nome indica usava-se para limpar divisões em madeira, pouco sujeitas ao pó e à terra. Era a vassoura de milho painço que geralmente era feita em casa, embora, por vezes, fossem compradas.

    No primeiro caso, fazia-se a sementeira num canto solarengo da cortinha e, passados alguns meses, eram cortadas, para se lhe retirar as sementes. Depois eram penduradas, para secarem completamente e retiradas as folhas, para que só restassem os pequenos braços e hastes. Agora cabia ao homem da casa(2) com mais jeito para esta tarefa, escolher o momento para a sua construção, geralmente um dia de pouco trabalho ou invernoso.

    Começava por preparar previamente o cabo que podia até já ter servido noutras funções, fazendo-lhe uma espécie de pinha numa das pontas, seguida de um pequeno estrangulamento na madeira. As ferramentas eram simples e geralmente faziam parte do seu espólio de trabalho: um pequeno serrote, formão e faca e pouco mais. Depois juntava as canas suficientes para uma boa vassoura e cortava-lhes os caules, deixando-lhes apenas uma extremidade com cerca de 10 centímetros. Com um fio grosso de algodão ou linho ia então entrelaçando, alternadamente, essas extremidades à volta dessa pinha, com uma ou duas fiadas conforme a grossura pretendida(3). O fio que enrolou os caules era depois pregado com uma tacha na extremidade para não mais se soltar, embora a segurança também estivesse garantida, pois o corte e a pinha, além de uniformizar o conjunto enrolado ainda servia para segurar melhor a «copa» que ia limpar o chão.

    (...)

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    (continua)

    1 Este artigo (texto e fotos) baseia-se na publicação do autor, “Ermesinde: Memórias da Nossa Gente”. O autor não segue o atual Acordo Ortográfico.

    2 Estamos perante um lavrador vocacionado para outros trabalhos de maior exigência. Trata-se do “lavrador-artesão”.

    3 Hoje ainda, se encontram, nas feiras de artesanato, vassouras deste material, mas com acabamento mais simples e menos seguro.

    Por: Jacinto Soares

     

     

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