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    Arquivo: Edição de 31-03-2021

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (19)

    Graves incidentes em Angola - O deflagrar da guerra

    A angola, um território com 1.246.700 quilómetros quadrados, era, em 1961, habitado por 4.500.000 negros, 200.000 brancos e 40.000 mestiços, tendo como principais atividades económicas, cujos produtos eram maioritariamente destinados à exportação, as seguintes: as culturas de café, algodão e cana de açúcar, para além da extração de diamantes. E era nestas atividades que era utilizada a mão-de-obra dos contratados, uma espécie de escravatura encapotada, ou mitigada, se preferirem, como referimos na nossa anterior crónica, pois tratava-se, na prática, de trabalho forçado. A acrescer a isto, a existência de monopólios que obrigavam a que toda a produção dos particulares, e só esta poderia ser feita, em regime de monocultura, nos seus próprios terrenos, lhes fosse entregue ao preço que os empresários monopolistas muito bem entendiam. Para além disso, os camponeses estavam, ainda, sujeitos a pagar ao Estado um imposto considerado excessivamente elevado face aos seus parcos rendimentos auferidos com o seu trabalho.

    Ora, é, em suma, o panorama sociolaboral das sociedades nativas das colónias ou províncias ultramarinas portuguesas africanas descritas na nossa anterior crónica que perdura até ao eclodir da chamada guerra colonial, stricto sensu. Guerra esta que teve o seu início faz este ano precisamente seis décadas e, por coincidência, exatamente neste mês de março, dia 15, com aquele tristemente célebre e trágico ataque de guerrilheiros da UPA, precursora da FNLA, rudimentarmente armados com alguns canhangulos(1), muitas catanas, pedras e mocas, para além de umas quantas armas de fogo, pistolas e carabinas, estas mais modernas e sofisticadas, de que os atacantes se iam apropriando, à medida que iam fazendo vítimas entre os colonos brancos e muitos dos seus trabalhadores, os tais contratados, que serviam nas suas fazendas e outras explorações agrícolas do norte do território.

    Com efeito, por isso mesmo, o ano de 1961 ficou para a História como o ano em que teve início a luta armada pela independência de Angola. É certo que já na madrugada de 4 de fevereiro desse mesmo ano, ocorrera um ataque simultâneo à casa da reclusão, à cadeia administrativa de São Paulo, ao quartel da companhia móvel (7.ª esquadra) da Polícia de Segurança Pública, a uma estação de rádio e ao aeroporto, perpetrado por vários grupos de nativos. Há quem fale num total de duas centenas, armados de catanas e uma ou outra pistola, com o principal objetivo de libertar ou, pelo menos, impedir que cerca de uma centena de presos políticos angolanos ali reclusos, alguns do chamado “processo dos 50”, defensores da independência fossem transferidos para a colónia penal de alta segurança do Tarrafal, em Cabo Verde, e bem assim como apropriar-se das armas de fogo das forças de segurança. Rezam as crónicas que os assaltantes se apresentavam drogados, muitos em tronco nu, de boina na cabeça e corpos engordurados, convencidos de que as armas dos brancos não matavam, apenas lançavam água, ao mesmo tempo que, completamente alucinados, gritavam: “mata, mata, Angola é nossa!” Destes confrontos, terá resultado, segundo os relatos oficiais da nação, a morte, à catanada, de 5 guardas brancos da PSP surpreendidos num jipe que se encontrava parado no percurso de um daqueles grupos, um sipaio(2), um cabo da guarda da casa da reclusão e 25 assaltantes. A maioria dos participantes no ataque terá sido presa pela PIDE e posteriormente morta, segundo algumas fontes, para além de muitos outros que foram massacrados nos próprios bairros de origem, às mãos das milícias armadas dos colonos, nomeadamente no dia seguinte, durante o funeral dos que morreram durante o assalto.

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    Pese embora haja quem entenda que este ataque teria sido organizado pela UPA, pois o que alegadamente tem vindo a ser apontado como o seu principal mentor, o cónego mestiço Moreira das Neves, vigário geral da diocese de Luanda, teria ligações àquele movimento, mas também ao MPLA e a outras organizações anticolonialistas, a verdade é que a operação foi liderada pelo bancário Adão Neves Bendinha, militante do MPLA. Ora, é precisamente o MPLA, movimento autonomista e partido político que assumiu o poder em 11 de novembro de 1975, aquando da independência daquela então colónia portuguesa ou província ultramarina, como também era designada pelo Estado Novo, que o reivindica, no dia seguinte, a partir de Conacry, pela voz dos seus dirigentes Mário Pinto de Andrade e Viriato Cruz, considerando-o, por isso, o início da luta armada. E é tal a relevância que oficialmente é atribuída a essa data que, após a independência, a novel nação, a passou a considerar feriado nacional. Aliás, o próprio aeroporto de Luanda foi rebatizado de “Aeroporto 4 de Fevereiro”.

    Contudo, como se referiu, é a 15 de março desse mesmo ano de 1961 que é ateado o fogo ao rastilho dum enorme barril de pólvora que, durante séculos, se foi acumulando no seio da população autóctone. Com efeito, numa plantação de café situada perto de S. Salvador do Congo, a cerca de 100 km da fronteira com a nova nação independente República do Zaire(3) ou Congo-Kinshasa, antigo Congo Belga e atual República Democrática do Congo, os contratados sublevam-se, recusando-se a trabalhar naquelas condições. Como o patrão os tivesse tentado forçar a retomarem o trabalho, eles contra-atacaram e massacraram-no a ele e a todos os colonos brancos, suas famílias, seus colaboradores e todos os outros trabalhadores que com eles não alinharam e que não conseguiram fugir. A rebelião, que virou autêntica carnificina a golpes de catana, a que nem as inocentes criancinhas foram poupadas, é replicada noutras explorações do norte do território, nomeadamente na região dos Dembos, Negage, Úcua e Nambuangongo, estendendo-se do Atlântico ao Cuango, do Congo ao Quanza, e é reivindicada pela UPA, liderada por Holden Roberto, cujas bases militares havia instalado na vizinha República do Zaire. Calcula-se que terá sido chacinado, indiscriminadamente, perto de um milhar de almas, homens, mulheres e crianças, entre brancos, negros e mestiços. Citando Franco Nogueira, na sua obra “Salazar Volume V – A Resistência” cujo excerto aqui nos permitimos, com a devida vénia, transcrever: “Em menos de 48 horas, pelos distritos do Zaire e do Uíge, é a devastação maldita. Plantações e casas solitárias são saqueadas e incendiadas; aldeias são arrasadas; é posto o cerco a vilas e pequenas povoações, cortando-se-lhes os abastecimentos; vias e meios de comunicação social ficam destruídos”.

    (...)

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    (1) Armas de fogo de fabrico artesanal, de um só cano muito estreito e de carregar pela boca.

    (2) Polícia ou militar indígena recrutado geralmente para policiamento local ou rural.

    (3) A então designada República do Zaire, ex-colónia Belga, havia-se tornado independente em 30 de junho do ano anterior (1960). Este país partilha com Angola, incluindo o enclave de Cabinda, uma fronteira com a extensão de 2.511 km.

     

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