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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-12-2020

    SECÇÃO: Opinião


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    A Cultura e a Barbárie, lado a lado

    “The future alone will judge which was the true Germany in 1933, and who were the true Germans - those who subscribe to the more or less materialistic-mythical racial prejudices of the day, or those Germans pure in heart and mind, heirs to the great Germans of the past whose tradition they revere and perpetuate.”

    in EVAN, Richard -The Coming of the Third Reich (Penguin 2003) p.429

    Edmund Husserl (1859-1938), filósofo e matemático alemão e fundador da Fenomenologia, testemunhou em 1933 a ação do agente destruidor a partir do seu epicentro – a Alemanha Nazi. Nem o seu estatuto lhe permitiu escapar às leis raciais. Em 6 de abril de 1933, em virtude das suas origens judias, foi demitido da atividade como investigador na Universidade de Freiburg e proibido de publicar na imprensa da época.

    Para além de Husserl muitos outros membros da elite cultural alemã foram alvo de perseguições por motivos raciais e ideológicos. Hannah Arendt, também de origem judia e aluna de Heidegger (que tinha sido assistente de Husserl na mesma universidade), viu-se obrigada a fugir para França onde experimentou o internamento no campo de concentração de Gurs, criado pelo governo de Vichy. Contudo, conseguiu atravessar o Atlântico, e em 1963 assume funções como professora na Universidade de Chicago.

    Nesse mesmo ano tornar-se-ia o centro da mais acesa polémica e o alvo das piores críticas por parte da comunidade judaica e não judaica devido à sua mais recente publicação. A obra consiste numa reflexão sobre a cobertura jornalística que Hannah Arendt tinha feito do julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pela deportação de milhares de judeus. O livro dava uma nova perspetiva à análise sobre a atuação dos colaboradores nazis ao introduzir o conceito da “banalidade do mal”. De facto, ficou patente nos julgamentos que o criminoso de guerra se via a si próprio como um simples funcionário mediano que apenas cumpria ordens. Ora, segundo Arendt, a mentalidade que estava por trás deste tipo de argumento derivava do facto de que a sociedade alemã se havia tornado numa multidão acrítica e sem pensamento moral. Como tal obedecia-se zelosamente a ordens sem as questionar. Para além disso, denunciou as organizações judaicas por terem colaborado com as SS ao negociarem o número de judeus que podiam ser enviados para os campos de concentração.

    HANNAH ARENDT
    HANNAH ARENDT
    Quanto a Husserl, proferirá, ainda em 1935, algumas conferências intituladas “Filosofia e a Crise das Ciências Europeias”. Morreria a 26 de abril de 1938, a alguns dias da Kristallnacht, que aconteceria a 9 de novembro do mesmo ano.

    O certo é que a barbárie se disseminou a partir do coração da Europa, do país de Beethoven, de Kant ou de Thomas Mann que em 1938 afirmava, já nos Estados Unidos: “onde eu estou está a cultura alemã.”

    Podemos elencar alguns motivos que justificam este fenómeno. Em primeiro lugar a Alemanha saiu ferida de morte do tratado de Versalhes. Por isso ela “(…) encarnará o protesto contra o DIKTAT imposto pela violência, contra os vencedores e seus cúmplices. É a lenda da punhalada nas costas: o exército não foi vencido, foi traído no interior; a cumplicidade dos socialistas, dos comunistas, dos judeus, com os aliados do Ocidente desarmou a Alemanha. Nacionalistas vigilantes, sempre alerta, os fascistas caracterizam-se por um estado de inquietação permanente e a palavra de ordem “Alemanha acorda!” ecoa noutros países.” (In RÉMOND, René – Introdução à História do nosso tempo, do antigo regime aos nossos dias. Lisboa, Gradiva editora, 1994, p. 347). Em segundo lugar, a crença na superioridade da raça alemã. Hitler concebe a História como uma luta pela sobrevivência da cultura, isto é, uma luta de raças entre os povos fundadores que transmitem a cultura e os que a destroem. Os alemães seriam os descendentes de uma civilização superior representada na raça ariana. Em terceiro lugar a importância das elites vista por Alfred Rosenberg, teórico do nacional-socialismo, do seguinte modo: “uma alma não é igual a outra alma e uma pessoa não é igual a outra”. Por isso os membros do partido do poder são vistos como os melhores da sua raça, os “Super-Homens”.

    Contudo Husserl vive inquieto com o julgamento que farão da Alemanha. Como serão vistos os alemães? Bárbaros e racistas ou simplesmente indivíduos bons de alma e coração, os herdeiros de um passado cultural de excelência?

    Como olhar então para os perpetradores dos crimes hediondos? Confundi-los com a cultura alemã? Poderemos nós julgar um povo pelos crimes cometidos pelas elites que subiram ao poder num contexto de crise, fome e miséria através de um discurso populista de um “Super-Criminoso” que já deixava indícios da sua atuação em Mein Kampf?

    E essa antecipação de nada serviu?

    (...)

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    Cândida Moreira

     

     

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