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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-11-2020

    SECÇÃO: Crónicas


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    Revoluções: ignomínia e redenção

    Duas pátrias. Dois sistemas políticos e sociais em mudança. Brasil e Portugal, países irmãos, amigos e independentes, uma língua e um passado em comum. Entre ambos reparti a minha vida, cumpri os meus deveres e exerci os meus direitos de cidadania. Faz sentido? Claro que sim. O que determina são as circunstâncias. Quem dizia “eu sou eu e a minha circunstância”?

    28 de março de 1964 – Rio de Janeiro. Ao começo da tarde regressava eu da PUC (Pontifícia Universidade Católica) onde estava matriculado em Ciências Políticas e Sociais (Sociologia) a caminho de casa no bairro de Engenho Novo. ”Se bem me lembro”… Era este o nome do programa televisivo do saudoso Prof. Vitorino Nemésio. Do Alto da Gávea na Zona Sul até à parada do ônibus da Rua Barão do Bom Retiro a viagem demorava. Uma nuvem toldava o ambiente em frente ao Colégio D. Pedro II. Bombas de gás lacrimogénio espocavam desde a Rua Dª Romana quase até ao Meier a centenas de metros e muito próximo da nossa residência. Os órgãos de comunicação social difundiam a notícia da chamada revolução que mais não era do que a intentona militar contra o governo em funções chefiado por João Goulart (do Partido Trabalhista Brasileiro). O movimento era liderado pelo General Castelo Branco a que aderiram, de imediato, os governadores do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda e de Minas Gerais, Magalhães Pinto que, algum tempo depois, teriam os seus direitos políticos cassados nos dez anos seguintes por essa mesma Junta Militar. O Presidente da República João Goulart, natural de S. Borja cidade do Rio Grande do Sul que fora berço também de Getúlio Vargas fundador do Partido Trabalhista. João Goulart tentou pôr em prática as Leis Trabalhistas, herdadas do seu antecessor, e que davam à classe operária direitos que até então não possuía. O Presidente e seu cunhado Leonel Brizola entraram numa deriva esquerdista que motivou mal-estar crescente das classes média e alta e das chefias militares. Estávamos em pleno outono tropical de maus auspíciose de repressão sobre a sociedade brasileira. Os sucessivos governos militares durariam até 1985. Entretanto, concluí a licenciatura e regressei a Portugal pouco depois de Salazar “ter caído da cadeira”. Não obstante, os meus esforços de ver reconhecido o diploma de sociólogo, tal não me foi concedido pelo seu sucessor Professor Marcelo Caetano e pelo Ministro da Educação do seu governo Prof. José Hermano Saraiva.

    Tal como Jacob a quem “Labão pai de Raquel, serrana bela” “começa de servir outros sete anos…)” também eu me matriculei na Faculdade de Letras da Universidade do Porto para obter a Licenciatura em “Filologia Românica” que me permitiu “ganhar a vida” ensinando… Ora, estava eu a frequentar o 2º ano quando os tanques vieram para as ruas e o entusiasmo tomou conta de professores e alunos. Nesse dia 25 de abril de 1974 Portugal recuperou a sua alma.

    Por: Nuno Afonso

     

     

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