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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2020

    SECÇÃO: Crónicas


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    A GUERRA COLONIAL PORTUGUESA (10)

    As campanhas de pacificação em Angola - A Batalha de Mongua

    Na sequência da derrota das tropas portuguesas pelas forças alemãs do Sudoeste Africano (Damaralândia), em Naulila, de que aqui tratámos na nossa última crónica, e o consequente abandono forçado das nossas posições no além-Cunene, territórios Cuanhama, Cuamato, Evale, etc., os respectivos povos aproveitaram esse momento de vulnerabilidade da nossa presença soberana para voltarem a pegar em armas contra aquelas que eles consideravam verdadeiras forças invasoras, frustrando-se, assim, todo o esforço e sacrifícios que haviam custado as anteriores expedições ou campanhas de que já aqui falámos. Pese embora, logo de seguida, tivessem sido levadas a cabo diversas tentativas de reocupação e reactivação desses postos (fortes), no sentido de restaurar a autoridade e a soberania nacional nesses territórios, a verdade é que os povos conhecidos por Ovambos (aqui incluídos os Cuamatos e Cuanhamas) e Humbes, se mantinham revoltosos, estimulados pelos alemães que, como sabemos, estavam interessados em desalojar dali os portugueses, para mais aliados do seu visceral inimigo na guerra que veio a ficar historicamente conhecida por Grande Guerra Mundial, que já grassava na Europa. Por essa altura, ainda Portugal se mantinha neutral, o que terá levado a que a estratégia de defesa dos seus territórios em África, nomeadamente em Angola e Moçambique, da voracidade dos germânicos, seus vizinhos, não tivesse sido devida e atempadamente preparada. Recorde-se que só em Março de 1916, Portugal entrou oficialmente na Grande Guerra, ao lado do Reino Unido, seu velho aliado, e da França. E se por um lado os povos nativos revoltosos eram estimulados e ajudados pelos alemães na revolta contra os portugueses, eles retribuíam na mesma moeda, ajudando-os igualmente contra nós.

    É nesse período de forte pressão política e militar expansionista germânica na Damaralândia, mais tarde designada por Sudoeste Africano, inclusive através da acção missionária, que o povo Cuanhama liderado pelo monarca Mandume, que, em 1910, fundara a capital do reino Cuanhama, em Ondjiva (Vila de Pereira D’Eça, durante o domínio colonial), onde estabelecera a sua embala, recrudesce a sua resistência e combate ao branco português, no sentido de o expulsar do seu território. Pretendiam, obviamente, os germânicos conquistá-lo para a sua causa, fazer dele seu vassalo e, por isso, o ajudaram a preparar-se para a liderança, armando e treinando os seus lenga (generais) e os seus exércitos. O rei Mandume sempre se mostrara um político versátil, ardiloso, fazendo acordos ora com uns ora com outros, conforme o que mais lhe conviesse, na defesa dos seus interesses enquanto déspota e rei absoluto das suas gentes e dos seus territórios. E tanto assim era que chegou a denunciar aos portugueses as incursões alemãs no seu, nosso território, como se aliou àqueles na luta contra a coroa lusa. Não olhava a meios para atingir os seus fins.

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    Germânicos e ingleses que, desde o famoso incidente do mapa-cor-de-rosa, nunca descuraram, igualmente, a sua ambição expansionista em África. Crê-se até que um dos argumentos invocados por aqueles que defendiam a entrada de Portugal na Grande Guerra, tal como veio a acontecer, não obstante uma certa oposição dos ingleses, foi precisamente o da afirmação de Portugal como nação autónoma capaz de se sentar à mesa das negociações, no final do conflito em que acreditava sair vitorioso, e vir a integrar o lote dos vencedores, numa situação de paritária igualdade e com a mesma legitimidade reivindicativa.

    É neste contexto, tendo em vista recuperar os territórios eventualmente ocupados pelas forças alemãs na sequência da batalha de Naulila e bem assim, como acima se disse, restaurar a soberania nacional na Huíla, que em 3 de Fevereiro de 1915, parte para o sul de Angola um contingente militar composto por pouco mais de dois milhares de portugueses metropolitanos, sob o comando do General Pereira D’Eça. A estes juntar-se-iam mais umas centenas de combatentes mobilizados em Moçambique, auxiliares recrutados localmente, em Angola, e alguns bóeres, formando dois batalhões, equipados com armamento ligeiro e pesado, sobretudo, duas baterias de artilharia de campanha, quatro baterias de metralhadoras, para além de inúmeros solípedes e outros animais de tracção para o transporte de toda a logística indispensável à operação, desde armas a mantimentos. Ao todo, não excederiam muito os três mil homens.

    Uma vez a operação em marcha e tendo verificado que, afinal, os alemães que haviam atacado as nossas posições, como ocorrera com Naulila e Xangongo (Forte Roçadas), não haviam ocupado os respectivos fortes, a expedição concentrou todos os seus esforços no sentido de alcançar Ondjiva, a embala do famoso e temível rei Mandume. Arcando com todas as dificuldades, particularmente a sede, já que a região atravessava um longo período de seca e as cacimbas (pequenos reservatórios de água cavados no solo) estavam completamente enxutas, a coluna lusa foi avançando, em quadrado, até que, a escassa distância do objectivo, numa chana do lugar de Mongua, é barrada e atacada por uma força indígena calculada entre cinquenta e sessenta mil homens (15.000 guerreiros cuanhamas, 10.000 cuamatos e mais 20.000 vindos da Damaralândia), armados com entre dez a doze mil espingardas Martini Henry, Kropatchek e Mauser, para além, obviamente, de toda a espécie de armas brancas artesanalmente fabricadas. Os portugueses cavaram trincheiras para melhor se protegerem e, formados em quadrado, foram resistindo, respondendo ao ataque com recurso a todo o armamento de que dispunham, especialmente a artilharia e as armas automáticas, as metralhadoras.

    O combate durou três dias, entre 17 e 20 de Agosto de 1915, e terá constituído a maior batalha campal alguma vez ocorrida em solo africano entre tropas indígenas e europeias. Apesar da diferença qualitativa, dum grau de eficácia e letalidade incomensuravelmente superior do armamento luso, a verdade é que o cerco às nossas tropas durou três dias, tendo um só combate durado 10 horas, chegando as forças nativas a aproximarem-se até a uns escassos 50 metros do quadrado.

    O espectro da fome, particularmente a sede, e a necessidade de avançar rapidamente para as fontes de abastecimento de água (cacimbas, mulolas) de que dispunham nos seus aldeamentos (embalas ou sanzalas) os rebeldes nativos, constituiu o grande catalisador para os nossos militares combaterem até à exaustão, levando de vencida uma força incomensuravelmente superior, em meios humanos. A alternativa à luta até à exaustão seria a grande probabilidade de, mantendo-se o cerco, virem a morrer à fome e, sobretudo, à sede. E muitos mais seriam os sitiadores se não tivesse sido a grande seca que entre 1911 e 1916 afectou aquele território, dizimando cerca de um terço da população indígena. Calcula-se que cerca de duzentas e cinquenta mil almas tenham perecido, reduzindo, assim, drasticamente a capacidade de resistência e de liderança dos Cuamatos, Cuanhamas e Evales, facilitando a tarefa de ocupação pela administração portuguesa.

    (...)

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    Nota (2): o autor opta por utilizar a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

    Por: Miguel Henriques

     

     

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