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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 31-01-2020

    SECÇÃO: Local


    GENTE DA NOSSA TERRA

    Teresa Silva abriu-nos as portas do seu ginásio para nos guiar pelo seu trajeto glorioso no karaté

    Com apenas 21 anos Teresa Silva é dona de um invejável e notável palmarés – nacional e internacional – numa modalidade à qual se encontra ligada desde tenra idade: o karaté.

    A jovem karateca residente em Sobrado e com ligações a Ermesinde – mais concretamente ao ginásio/clube Studio AF 104 – exibe no seu currículo inúmeros títulos, sendo um dos últimos um pomposo 1.º lugar na vertente de kumite/seniores femininos alcançado no Campeonato do Mundo de Karaté Goju-Ryu, disputado em setembro passado na Malásia.

    Além de ter recordado junto do nosso jornal este momento de glória, a atleta/treinadora abordou o seu trajeto no karaté, os segredos do seu sucesso, a forma como concilia a modalidade com a sua vida pessoal, a sua forma de ser quando está fora dos "tatamis", bem como a opinião que tem da Cidade e do Concelho que a acolhem e a «ingrata» falta de apoios (institucionais) com que se tem deparado ao longo do seu trajeto.

    Fotos ALBERTO BLANQUET
    Fotos ALBERTO BLANQUET
    A Voz de Ermesinde (AVE): Como e quando é que que o karaté surge na tua vida? E já agora qual a vertente desta modalidade que praticas e porquê?

    Teresa Silva (TS): Experimentei a modalidade quando tinha 4 anos, mas a princípio não me agradou. Aos 6 anos, voltei a experimentar e desde então tem sido a modalidade que pratico. Até hoje mudei de clube duas vezes, ou seja, dos 6 anos aos 12 anos estive num clube, e dos 12 anos até aos 19 anos estive noutro, sendo que agora encontro-me ao serviço do Clube de Karaté da Maia. Quanto às vertentes kata e kumite eu pratiquei as duas desde cedo, embora sempre tivesse gostado mais de kata, porque em pequena eu era receosa, não gostava de combater, porém sempre progredi positivamente nas duas. Quando cheguei aos 15 anos e frequentava os treinos de seleção os selecionadores a certa altura tiveram de escolher quem iriam levar com eles para representar o país no Campeonato do Mundo e, então, o selecionador perguntou-me qual das duas (vertentes) eu gostava mais. Como eu gostava das duas a escolha foi do próprio selecionador, e a partir desse momento pratico kumite.

    AVE: Recentemente (em setembro) viveste um capítulo importante na tua carreira, que foi teres sido campeã do Mundo. Qual o sentimento que vivenciaste ao representar Portugal na Malásia, e posteriormente teres sido campeã do mundo?

    TS: Antes, devo dizer que existem dois tipos de campeonatos, os que são aprovados pela Federação (Nacional de Karaté), nomeadamente os campeonatos do Mundo e da Europa da “WKF” (Federação Mundial de Karaté) e os outros que são aqueles em que eu participo por livre vontade, como foi o caso do campeonato na Malásia. Nos da Federação eu participei com 15, 19 e 20 anos e nunca consegui um título, pois esses campeonatos englobam todos os estilos de karaté, ou seja, todas as vertentes. A prova mundial onde eu conquistei o título é um campeonato de karaté goju-ryo, onde só participam os atletas desta vertente. Quanto ao título conquistado na Malásia, claro que fiquei extremamente feliz, pois é um título muito importante e ainda por cima ser conquistado num país onde eu nem sequer imaginava ir. Foi uma sensação completamente diferente das que tinha vivido até ao momento. Sinto que me superei, mesmo durante a competição era a versão que eu tinha idealizado de mim como atleta. A cada combate desafiei-me e competi com atletas excelentes, o que foi motivador para mim. E por fim ganhar um título, foi a sensação de mais um feito, mais um motivo para continuar a lutar e insistir na modalidade.

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    AVE: Tens alguma história/momento curioso ou especial que tivesses vivido nesta viagem à Malásia (e à cidade de Kuala Lampur, em concreto) e que guardas na memória?

    TS: Penso que o que mais se tornou especial foram todos os passeios, embora de pouca duração, que fazíamos a vários locais, como por exemplo, ao shopping que se situava nas “Petronas Tower”, ou as visitas às caves onde tinham macacos e onde acabei por descobrir que não gosto muito deles (risos) pois, não são animais muito amigáveis, porque gostam de nos levar os nossos pertences (risos). Kuala Lampur é uma cidade espetacular, de onde guardo muitas experiências, como as gastronómicas, por exemplo.

    AVE: Também participaste (em novembro último) no “Maia International Karaté Open 2019”, onde também conquistaste um título! Em termos de emoções, é muito diferente uma competição realizada em Portugal, neste caso na Maia, do que uma competição ocorrida fora do país, como por exemplo na Malásia?

    TS: Comparando a experiência da Malásia com os campeonatos aprovados pela Federação, a pressão é maior nas provas da Federação. No da Malásia, senti menos pressão pois estava acompanhada com o meu treinador pessoal e pelos colegas com quem treino, enquanto que nas provas da Federação são pessoas doutros países, doutros clubes e vários treinadores, sendo que a intimidade não é a mesma e a pressão é elevada. Comparando com os campeonatos de Portugal (que não são chancelados pela Federação), a pressão é maior na Malásia, porque no nosso país, neste caso na Maia, nós conhecemos toda a gente, sabemos como os atletas irão atuar, conhecemos os seus métodos, enquanto que fora é totalmente diferente, acaba sempre por ser uma surpresa.

    AVE: Quando competes fora do país costumas criar laços de amizade com outros atletas?

    TS: Honestamente não tenho muita tendência de conviver ou criar laços com os atletas estrangeiros. Já com o meu treinador acontece o contrário, ele possui vários conhecimentos e muitas amizades com pessoas de outros clubes e de outras nacionalidades. Exemplo disso foi uma prova em que participei na China, mais concretamente em Shanghai, onde convivemos com vários atletas de outras nacionalidades e foi espetacular, ainda hoje mantenho contacto com eles e passou um ano desde a prova. A maior parte das pessoas ligadas à modalidade é muito convidativa, todos têm uma boa relação entre si, porém eu não costumo ter essa iniciativa por ser um pouco tímida. Contudo, nas redes sociais, por exemplo no instagram, as pessoas acabam por me seguir e dar as felicitações em algumas publicações que faço referentes às minhas provas. Porém, pessoalmente, são sempre elas que tomam a iniciativa de me “vir” conhecer.

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    AVE: És uma atleta bastante vivida em termos de competições nacionais e internacionais, qual foi o título mais importante da tua carreira e porquê?

    TS: Já tive alguns que me marcaram, pois estão todos equiparados. Porém, o primeiro que eu ganhei foi o de campeã nacional quando tinha 14 anos. Foi como que um começo de algo. Senti que isto tinha passado para um patamar mais sério. Quanto aos outros, foi o Campeonato Nacional Sénior, que só consegui aos 20 anos. Com 17 anos consegui o título de vice-campeã, com 18 e 19 anos fiquei em terceiro, portanto aos 20 conseguir esse prémio foi algo espetacular para mim, porque quero sempre mais, e tê-lo conseguido foi uma sensação de outro mundo. Destaco ainda o Campeonato da Europa e o Campeonato do Mundo de Goju-Ryo, onde fiquei em primeiro lugar e isso foi motivador.

    AVE: Tens ligações com o Studio AF 104, ginásio/clube sediado em Ermesinde, mais concretamente no facto de seres treinadora das faixas etárias mais jovens. Como é treinar os mais pequenos, sendo que já passaste por essa fase? Que princípios, valores e noções tentas incutir-lhes?

    TS: É muito gratificante quando eles experimentam pela primeira vez a modalidade. Ficam empolgados e vêm a semana inteira, e para mim isso é espetacular. Contudo, quando eu vejo que eles começam a evoluir, ainda é melhor! Uma das coisas que eu mais exijo é o respeito, porque é um dos valores do karaté, exijo não só respeito por mim como também tento que eles se respeitem uns aos outros, porque foi assim que eu fui ensinada. Na minha ótica não faria sentido doutra forma! Acho que para se ensinar, tem de se ter vivenciado certas coisas e eu principalmente passei por três instrutores diferentes, com métodos distintos. Porém, com cada um deles aprendi diversas coisas, mas todas elas úteis e, por isso, tento sempre incutir isso nos meus alunos, porque o que eu quero é que eles sejam melhores do que eu, esse é sempre o objetivo. Adoro dar aulas às classes mais jovens, tenho uma aluna de 14 anos que é muito esforçada nos treinos. Depois, tenho meninos mais novos, com 9, 11, 12 anos e dois meninos ainda mais jovens, de 6 e 7 anos. Trabalhar com estas idades é fantástico, o que se torna vantajoso porque os mais jovens aprendem muito sobre as atitudes, o respeito a ter com os mais velhos, e mesmo que não estejam todos ao mesmo nível (competitivo) conseguem crescer juntos!

    AVE: Como consegues conciliar os teus treinos, com os teus estudos e, ainda com as aulas que dás aos mais pequenos?

    TS: A vantagem é que o meu horário académico não é pesado, mas mesmo assim a carga de trabalhos e frequências (exames) é grande! Qualquer tempo disponível que tenha adianto os trabalhos, estudo, nem que seja um bocadinho de cada vez, porém tudo fica finalizado a tempo e a horas. Os finais dos dias estão sempre ocupados com os meus treinos e os treinos que dou, então quando chego a casa, dá ainda, depois de jantar, para estudar um pouco tendo sempre em atenção o descanso porque este é fundamental para qualquer atividade física!

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    AVE: És muito exigente e/ou perfecionista contigo própria nos treinos?

    TS: Sou demasiado perfecionista comigo! Nos meus treinos se tiver um exercício que não está a sair como eu queria fico bastante frustrada, mas nunca desisto dele, até vir outro exercício, embora fique sempre a pensar naquele (que correu menos bem). No final, acabo por voltar ao que correu mal para ver o que está a falhar! Já tive treinos que correram menos bem e quando saí fiquei a pensar neles, apesar de fisicamente eles até terem seguido a norma, mas acho sempre que falta mais. Penso sempre que amanhã vou compensar o que falhou hoje, e dou sempre a volta por cima!

    AVE: Que tipo de apoios tens, sejam eles de âmbito financeiro ou de qualquer outro tipo, para praticar a modalidade? Por exemplo, na tua viagem à Malásia, que apoios tiveste, e de onde vieram, para participares na competição?

    TS: Todas as saídas internacionais que eu tenha são pagas por mim e pelos meus pais! Modalidades como o karaté deviam ter mais apoio, mas a questão passa por muito mais do que isso! Por exemplo, pela Federação, todas as provas que fiz em representação da seleção nacional foram todas pagas por mim, algo que não devia acontecer pois é uma federação que acaba por receber sempre apoios! No entanto, foi-me dito que não tinham dinheiro para pagar esses custos, o que nós sempre compreendemos e os meus pais acabaram por gastar em cinco anos milhares de euros para que eu pudesse participar em campeonatos promovidos pela Federação! Quanto às outras competições, como as da Malásia, de Shanghai, ou de Istambul, são provas em que participo por minha vontade, não sou convocada, e posto isto faz sentido ser eu pagar, porque fui eu que quis participar por livre vontade e fiz todas as provas precisas para entrar, enquanto que na Federação nós vamos a uma seleção e somos escolhidos por eles! Se eu sou escolhida para ir representar a seleção, porque é que eu tenho de pagar? Acaba por ser a parte mais madrasta da minha modalidade. Eu já só peço mesmo apoios financeiros, porque todas estas competições ficam muito caras. Mesmo a nível do concelho de Valongo, eu pedi um apoio monetário (à Câmara), porém, foi-me negado porque não apoiam atletas a título individual!

    AVE: Qual a chave para progredir sempre de forma positiva?

    TS: É o trabalho sem dúvida! É o acreditar que somos capazes, porque efetivamente somos mesmo tendo mais ou menos capacidades! Se nós trabalharmos cada uma dessas partes, seja a parte psicológica, física, ou emocional e nos aplicarmos a 100 por cento conseguimos qualquer coisa.

    (...)

    Leia esta entrevista na íntegra na edição impressa.

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    JOANA OLIVEIRA

     

     

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