QUEIMA DO JOÃO
Tormentos de Ermesinde bem expressos na paródia das deixas
Como é habitual, o texto (das deixas, ou quadras), começa por fazer referência às raízes do João, que como dá para ver é um cidadão (multifacetado) do Mundo!...
Em Lisboa fui nascido
No Porto fui batizado
Com nome de João Bastardo
Minha mãe deitou-me à roda
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Em Bragança fui criado
Em Amarante fui soldado
Em Foz Côa funileiro
Em Coimbra tirei curso
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Vim para o Porto para caixeiro
Aprendi a sapateiro
Fui trabalhar para o Pinhão
Concorri para escrivão
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Fui escrivão na Albânia
Delegado em Vila Flor
Juiz de Direito em Aveiro
Em Viana fui doutor
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Em Chaves fui ferrador
Em Guimarães fui dentista
Auditor em Macedo
Em Moncorvo maquinista
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Na Régua fui fadista
No Peso fui serralheiro
Capitão em Vidago
Em Lamego relojoeiro
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Tanta oficina que tive
Para quê tanto sabedoria
Assim meu nome elevo
Tentei pedir como um cego
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Por terras onde andei
Fui sempre um folião
Agora nos meus finais
Estou numa confusão
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Contada a minha vida
E sem mais algum lamento
Vão ser lidas as queixas
E ainda o testamento
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E depois desta brejeira apresentação, seguem-se alguns recados/alertas para os governantes da terra face a diversos problemas com que esta convive no presente, no sentido de que sejam resolvidos o mais breve possível para sossego dos ermesindenses...
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João antes de morrer
Disse haver necessidade
De certas obras rever
Dentro da nossa cidade
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Às ruas mal acabadas
Falta alcatrão e cascalho
Aqui e ali esburacadas
Efeito de um mau trabalho
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Há nas ditas passadeiras
Algumas situações
Que parecem ratoeiras
Para caçar os peões
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Os jardins estão tão feios
Parecem abandonados
Ou será que os jardineiros
Com eles estão zangados?
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O edifício do mercado
Lá na feira plantado
A cada dia piora
Do chão até ao telhado
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E mesmo para acabar
Algo que há muito noto
A Ermesinde só vêm
Para nos caçar o voto
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E quem esperava ser contemplado com alguma coisita no testamento do nosso estimado amigo, este ano... teve azar... tirando a Junta e pouco mais!
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Os herdeiros são bastantes
Fez questão de sublinhar
Que todo o avarento
Vai morrer com falta d’ar
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Era tipo que se gosta
Homem de bom princípio
Até doou uma casota
Para os cães do município
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P’ra junta de freguesia
Numa linha deixou escrito
Que ficou certa maquia
Para comprar um penico
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João homem precavido
Deixou em sua escritura
Que do caixão adquirido
Metade é pr’a viúva.
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Do dinheiro que ganhou
Andando pelo mundo fora
Penso que nada sobrou
Para distribuir agora
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Para espanto de todos
Por falta de ar ou com frio
Ganhando muito mais modos
Não pegou com o mulherio
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Mudam os tempos, as vontades
E o nosso querido João
Para as mulheres de Ermesinde
Nem deixou ficar sabão
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Contrariamente a anos anteriores, o João poupou as moças dos vários lugares de Ermesinde às suas referências brejeiras e maliciosas...
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Neste ano especial
Por respeito e educação
Deixou as mulheres tranquilas
O nosso querido João
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E posto isto, era altura das despedidas e agradecimentos que para o ano cá estamos outras vez...
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É assim o carnaval
Que está prestes a acabar
Para o ano cá estaremos
Para todos animar
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Obrigada minha gente
Por toda a colaboração
A junta a todos promete
Que p’ró ano há mais João
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