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    Arquivo: Edição de 30-11-2018

    SECÇÃO: Destaque


    Evocação do Centenário do Armistício

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    Por solicitação do presidente da Junta de Freguesia (JFE), João Morgado, prontamente acedida pelo autor, foi a vez de Ermesinde, receber mais um capítulo do trabalho de investigação aturada, sobre a I Grande Guerra Mundial, levada a cabo por Manuel Augusto Dias.

    Tendo por base a obra “Valongo e a Primeira Grande Guerra”, apresentada há menos de uma semana no Museu Municipal de Valongo, o auditório da Junta de Freguesia, foi palco, no dia 23 de novembro, de uma palestra evocativa do Centenário do Armistício.

    Perante a presença, entre outros, do presidente da Assembleia Municipal, Abílio Vilas Boas, do vereador Paulo Esteves Ferreira, em representação do presidente da Câmara Municipal de Valongo, de diversos membros do executivo da Junta de Freguesia, bem como representantes de várias associações da Cidade, entre as quais a Ágorarte/Universidade Sénior de Ermesinde (USE), que, na pessoa de Celeste Campeão, compunha a mesa, João Morgado iniciou a sessão cumprimentando os presentes (entre os quais professores e alunos da USE) e agradeceu a disponibilidade do palestrante por, mais uma vez, estar presente no auditório da JFE, dando nota do resultado dos seus trabalhos de historiador. Realçou ser este um espaço sempre aberto à comunidade para iniciativas de diversa índole, lembrando a propósito a projeção de um filme que ali iria decorrer mais tarde e o concurso de rabanadas, com as receitas a reverter a favor dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde, que iria decorrer no dia 25.

    Como já nos habituou, Manuel Augusto Dias iniciou a sua palestra, com a efeméride do dia: neste 23 de novembro de há cem anos, apenas 12 dias após a assinatura do Armistício, regressava de França o primeiro grupo de combatentes; 485 militares do Corpo Expedicionário Português (CEP), entre os quais um capitão que, mais tarde, haveria de ficar célebre por outras façanhas: Sacadura Cabral. Segundo relata a imprensa e ao contrário dos festejos e manifestações ocorridas nos dias 11 e 12, quando se teve conhecimento do que se passava no interior de um comboio, algures na floresta de Compiègne, o povo de Lisboa, pois era dali que partiam e chegavam os navios que transportavam os combatentes, recebeu os heróis, “sem alarido, quase sem entusiasmo”.

    Do Armistício (acordo entre aliados e alemães que põe termo aos confrontos – a paz só seria assinada em Versalhes a 28 de junho de 1919), que entrou em vigor na undécima hora do undécimo dia do undécimo mês do ano de 1918, o autor deambulou, pelas diversas fases desta guerra que durou 4 anos e 3 meses.

    Desde o deflagrar do conflito, após o assassinato, em Sarajevo, do Arquiduque Francisco Fernando, até aos aspetos mais “inovadores” desta guerra (a primeira em que se combateu na terra, no mar, por baixo do mar e no ar), caso dos lança-chamas, dos gases, dos tanques, dos aviões e dos submarinos, passando pela declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em 9 de março de 1916, na sequência da apreensão de barcos alemães em portos portugueses.

    Sendo realçado que, por motivos vários, o governo republicano tudo fez para entrar na guerra, houve tempo ainda para um momento de humor, quando se referiu à cidade de “Paulona”, como local de preparação dos militares. Afinal, a cidade não passava de um acampamento de tendas, feitas de pau e lona, em Tancos.

    Não foi esquecida a história do “Cristo das Trincheiras”, hoje no Mosteiro da Batalha, junto ao túmulo do soldado desconhecido (corpos de dois soldados mortos em combate na África e na Flandres). Lembrou a propósito a presença dos capelães que, apesar da resistência do governo, se voluntariaram para ir para a guerra.

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    Muito minucioso nos números, aliás sacados dos arquivos com muito esforço e alguma incompreensão à mistura, o autor entrou no capítulo d“Os expedicionários de Valongo” (Alfena, Campo, Ermesinde, Sobrado e Valongo), com especial realce para os de Ermesinde. Manifestando alguma estranheza pela diferença de tratamento dado quer pela imprensa, quer pelos historiadores, relativamente aos que combateram na Europa e em África, onde morreu muito mais gente. Como exemplo, para a Flandres, integraram o CEP, 56 valonguenses (sendo 14 de Ermesinde, tendo um falecido), ao passo que, só em Moçambique morreram 41 soldados do concelho de Valongo (15 de Ermesinde), sendo impossível, porém apurar quantos partiram para aquela colónia. Fazendo comparações com os concelhos vizinhos, nomeadamente Gondomar e Rio Tinto, o concelho de Valongo teve muito menos mobilizados para o CEP, o que faz supor que teriam sido muito mais mobilizados para África.

    Quanto ao militar falecido, trata-se de um 2.º Sargento, teve o nº 515, foi integrado no CEP na Divisão de Infantaria, 2.ª Companhia, Regimento de Infantaria, nº 31 e tinha a placa de identidade nº 24734. Embarcou no dia 14 de fevereiro de 1918, tendo falecido em França no dia 19 de outubro de 1918. A este propósito, o seu Boletim do CEP refere o seguinte: «ferido por desastre em serviço em 19 de Outubro de 1918, dia em que baixou ao H.S. n. º8. Faleceu no mesmo, no referido dia, sendo sepultado no cemitério civil de Herbelles, coval n.º 9». Mais tarde, o seu corpo terá sido transladado para o Cemitério Militar Português de Richebourgl’Avoué (Talhão C, Fila II, Coval7).

    Houve ocasião ainda para referir os diversos locais que perpetuam a memória da presença dos portugueses, cemitérios, igrejas e monumentos, nomeadamente o da autoria de António Teixeira Lopes em La Couture, no cemitério onde se encontra o corpo do ermesindense atrás referido. Recordou que aqui estiveram, por ocasião do centenário da batalha de La Lys, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e o Primeiro Ministro, António Costa.

    Manuel Augusto Dias terminaria a sua palestra lembrando a Cerimónia do Centenário do Armistício, que decorreu no Arco do Triunfo, junto ao túmulo do Soldado Desconhecido e que contou com a presença de vários líderes mundiais, de ambos os lados do conflito (Macron e Ângela Merkel, por exemplo) e entre os quais estavam o Presidente da República e o Secretário Geral da ONU, António Guterres.

    Tal como acontecera há cem anos, com o início das tréguas, esta cerimónia começou precisamente à 11.ª hora, do 11.º dia do 11.º mês.

    Alfredo Silva (Comissão de Alunos da USE)

     

     

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