Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 31-12-2016

    SECÇÃO: História


    foto
    A Primeira Guerra Mundial tem Cem Anos (22)

    A revolta de Tomar ocorreu há cem anos

    No período da 1.ª Grande Guerra, Portugal tinha um regime republicano que pretendia prestigiar-se internacionalmente e garantir intacto todo o seu território. Por isso entrou na Guerra, também na Frente Ocidental. Contudo, nem todos concordaram. Foi o caso de Machado dos Santos, o herói da implantação da República. António Maria de Azevedo Machado Santos, um dos fundadores da República Portuguesa, nasceu a 10 de janeiro de 1875, em Lisboa. Com 16 anos alistou-se na Marinha. Em 1907 juntou-se a um grupo de conspiradores contra os monárquicos para preparar uma revolução republicana. Entrou, também, na organização secreta da "Carbonária" em 1908 e, nos acontecimentos revolucionários dos dias 4 e 5 de outubro de 1910, ficou conhecido como o "herói da Rotunda", tornando-se também famoso como o "pai da República", em virtude da heroicidade assim evidenciada. Em 1916, quando se tratava de preparar a entrada de Portugal na 1.ª Guerra Mundial, no palco europeu, não concordou e lutou para evitar que tal acontecesse. Foi derrotado e preso.

    Em dezembro de 1916, há cem anos, a Primeira República vivia mais um dos seus momentos revoltosos. Para ele, muito contribuiu a crise de subsistências que se agravava levando ao aparecimento de protestos na imprensa. Por outro lado, Portugal preparava-se para entrar na Guerra, na Frente Ocidental, ao lado da Inglaterra e da França.

    A 13 de dezembro, desse mesmo ano de 1916, eclodiu, em Tomar, uma tentativa falhada de revolução, liderada por Machado Santos, o herói da implantação da República, contra a mobilização para a Frente Europeia. O plano desta "revolução" terá sido de Vasco de Carvalho, que contou com a colaboração do Capitão Eurico Cameira e de muitas outras pessoas, que nos dias seguintes seriam presas.

    As notícias sobre esta revolta foram censuradas. Mesmo assim soube-se que se publicou um falso número do "Diário do Governo", com a demissão do Ministério e a nomeação de um outro, sob a presidência de Machado dos Santos. O estado de sítio era declarado também. Esta insubordinação militar teria repercussões em várias localidades do País, nomeadamente na Figueira da Foz, em Castelo Branco e em Lisboa.

    O motivo mais importante para o ato revolucionário terá sido o facto de Machado Santos e os restantes envolvidos não concordarem com a saída das tropas portuguesas para a Frente Europeia, da 1.ª Guerra Mundial.

    O plano revolucionário pretendia que Machado dos Santos conseguisse sair com as tropas de Tomar, passando por Abrantes para cercar Lisboa; no entanto, não chegou a Abrantes pois foi confrontado com Abel Hipólito que o prendeu no dia 14 de dezembro, sendo levado para bordo do "Vasco da Gama".

    foto
    No dia da Revolta de Tomar, o Ministro da Guerra, Norton de Matos, fez sair um Cartaz, sob o título "Serviço da República / Secretaria da Guerra", com o seguinte conteúdo: "Um grupo de revolucionarios tentou lançar a perturbação no País neste momento gravissimo em que a Patria mais necessita de todo o amor de seus filhos.

    Fez imprimir clandestinamente e distribuir um falso "Diario do Governo", contendo a falsa nomeação dum suposto ministerio em nome do qual tentaram expedir ordens ás autoridades militares e civis.

    Cumpre ás populações manterem a maior serenidade perante estes actos de revolta assentes sobre uma burla mesquinha, pois o Governo da Republica dispôz de todos os meios para fazer abortar este movimento, que constituiu no momento presente, um gravissimo crime de lesa-Patria. / O Ministro da Guerra / Norton de Matos".

    A edição da noite de "O Seculo" de 14 de dezembro de 1916 garante que Lisboa está tranquila e que o Governo controla a situação, informa ainda que o Parlamento vota o "estado de sítio" e que continuam a fazer-se prisões. A notícia da 1.ª página começa assim: "Os acontecimentos de hontem foram hoje o assunto dominante em toda a cidade, apezar de que esta se manteve sempre com o seu aspéto habitual, sem conflitos ou qualquer nota que viesse perturbar o seu socego."

    Este jornal dá conta de várias bombas encontradas em diversos pontos da cidade nesse dia: de madrugada, no Terreiro do Trigo, um funcionário municipal foi gravemente ferido pela explosão de uma bomba, às 5h30 foi encontrada outra nas "escadinhas de Ponte de Lima", às 8h30 outra no "Largo de D. Rosa", às 9h, um guarda de serviço deu com uma, na Rua Damasceno Monteiro, em "forma de laranja, de grandes dimensões", descobriu-se ainda outra na Rua do Terreirinho e na Rua do Arco, a S. Paulo, "tambem foi encontrado um embrulho com 21 balas para espingarda".

    Machado dos Santos acabaria por ser libertado e em 1919, salva de novo a República ao derrotar, em Monsanto, um grupo de revolucionários monárquicos que tiveram mais sorte a norte (no Porto) onde durante cerca de um mês instituíram a denominada "Monarquia do Norte".

    Outro modo a que Machado dos Santos recorreu para lutar contra o governo dos "democráticos" e para afirmar as suas ideias políticas, foi a criação do Partido da Federação Republicana. Contudo, não teve a adesão pretendida e decide acabar a sua carreira política, passando a dedicar-se à vida pessoal.

    Mesmo assim, em resultado dos ódios semeados em tantas "tentativas revolucionárias" acabaria assassinado, na trágica "noite sangrenta" ocorrida a 19 de outubro de 1921, em Lisboa, ocasião em que foram assassinados, também, outros importantes políticos republicanos como foi o caso de António Granjo, então chefe do Governo e Ministro do Interior, José Carlos da Maia, outro histórico da proclamação da República, o comandante Freitas da Silva, secretário do Ministro da Marinha e o coronel Botelho de Vasconcelos.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].