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    Arquivo: Edição de 15-12-2016

    SECÇÃO: Destaque


    ENTREVISTA COM A COORDENADORA DO CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL E EMPREGO DO CENTRO SOCIAL DE ERMESINDE, ALBERTINA ALVES

    Centro de Formação Profissional e Emprego: A chave que abre a porta do futuro

    Chegamos nesta edição ao fim da viagem ao seio das valências do Centro Social de Ermesinde, no sentido de conhecer de perto a missão que cada uma delas tem vindo a levar a cabo em prol da comunidade local. E encerramos este nosso percurso no Centro de Formação Profissional e Emprego (CFPE), uma resposta social que, como a própria designação faz referência, está vocacionada para o trabalho de forma transversal junto da população mais desfavorecida face ao mercado de emprego ou de baixa escolaridade. No sentido de conhecer um pouco melhor a realidade do Centro de Formação, estivemos à conversa com a coordenadora da valência, Albertina Alves.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    A Voz de Ermesinde (AVE): O Centro de Formação é uma das valências criadas pelo Centro Social de Ermesinde já no novo milénio com a missão de, como a própria designação indica, dar à comunidade uma resposta social direcionada para a educação e formação. Para começar gostaria que contextualizasse de uma forma mais específica esta missão que tem vindo a ser desenvolvida ao longo de quase 15 anos.

    Albertina Alves (AA): Na verdade, hoje em dia somos mais do que um centro de formação. Somos uma resposta social de apoio à inserção socioprofissional e trabalhamos de forma transversal o público que está em situação de desfavorecimento, porque tem baixa escolaridade ou poucas qualificações, porque está em situação de desemprego, etc. No fundo procuramos cumprir a missão do Centro Social de Ermesinde (CSE), que é melhorar a vida das pessoas, promovendo a inserção social pela via da formação e do emprego. E quando falamos em formação fazemo-lo no sentido lato, ou seja, não só ao nível da formação escolar ou profissional, mas também na formação enquanto pessoa, enquanto cidadão ativo...

    AVE: Pegando na particularidade do emprego, que referiu, há muita gente no seio da comunidade que ao bater à porta do Centro de Formação do CSE vai dar de caras com o emprego que procura naquele momento...

    AA: A resposta que damos no âmbito do emprego passa pelo serviço do nosso Gabinete de Inserção Profissional (GIP).

    O GIP do CSE teve início em maio de 2009 e abriu portas com a técnica Sara Pinho. Nessa altura, o país vivia uma grave crise económica e o desemprego atingia valores muito elevados. O Município de Valongo, também, ressentiu essa mesma crise e o número de desempregados inscritos no serviço público de emprego registava valores alarmantes. A freguesia de Ermesinde é muito populosa, logo, muito sacrificada com a crise económica e ainda hoje conta com aproximadamente 3000 desempregados inscritos. A parceria entre o IEFP e o CSE vai muito além dos objetivos quantitativos contratualizados e os respetivos resultados. Apesar dos resultados serem bastante animadores e justificarem a continuidade do GIP no CSE; a relação de parceria entre as duas instituições é bastante estreita desde o início do projeto, sendo fomentada uma relação "win-win" com o objetivo último de servir bem o utente. Para se ter uma ideia, só entre agosto e novembro, o GIP já intervencionou 595 utentes, na faixa etária entre os 31 e os 54 anos.

    Gostava de salientar que há muitas pessoas que perdem o emprego e não estão preparadas de imediato para regressar ao mercado de trabalho. Com a perda de emprego não se perde apenas a parte económica, mas também o estatuto social, e este é um problema grave dos nossos dias. O nosso trabalho passa então por criar estratégias que permitam aos desempregados manterem-se socialmente ativos, não se isolarem em casa, não perderem as redes de relações - porque na procura de trabalho é preciso manter redes - e se possível até alargá-las. Neste aspeto os nossos workshops e formações são muito vocacionados para esta questão de manter as pessoas socialmente ativas. Por isso, o CSE, enquanto entidade executora do Contrato Local para Desenvolvimento Social (CLDS) do concelho, juntamente com a ADICE, promove um conjunto de atividades que visam a inclusão social dos cidadãos. Os nossos técnicos, Ana Rentes e Florentino Silva trabalharam este ano 515 beneficiários do CLDS, jovens e adultos, em áreas específicas como o Marketing Pessoal para a Procura de Emprego, na realização de Diagnósticos e Orientação formativa e profissional, no apoio e acompanhamento de projetos de auto-emprego e empreendedorismo, na criação de circuitos de promoção dos produtos e produtores locais, na informação e disseminação de ofertas de emprego, formação e projetos inovadores e em ações sobre temáticas promotoras de uma cidadania ativa, como é o caso do voluntariado, do campo associativo e cooperativo.

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    AVE: Quando fala em projetos vocacionados para manter o cidadão socialmente ativo refere-se a que ideias em concreto...

    AA: Para além do que já referi anteriormente, acrescento ainda dois exemplos que esta valência dinamiza: a Feira Venda de Saberes e o Trabalho Pró Boneco; dois projetos que no fundo respondem ao desígnio da manutenção de cidadãos socialmente ativos, estratégia potenciadora da inserção no mercado de trabalho.

    Estes e outros projetos visam acima de tudo trabalhar as pessoas em função das necessidades e potencialidades diagnosticadas e, por estas razões, somos muito procurados porque temos sempre uma resposta para dar. Podemos não ter emprego mas damos atenção aos problemas de cada um, indicando os caminhos alternativos a diversos níveis, e por isso, saliento que ninguém sai daqui sem uma resposta.

    AVE: É no fundo um serviço que visa encontrar um rumo, ou um novo rumo, profissional e/ou vocacional...

    AA: Sim, de certa forma. É o chamado despiste vocacional e/ou orientação profissional, que frequentemente os nossos serviços trabalham, atendendo às características de cada um. Além disso, se aparece aqui alguém com uma ideia de negócio ou com vontade de empreender, nós também damos uma resposta no sentido de ajudar esse cidadão. Essa resposta é trabalhada ao nível do nosso serviço de "Incubadora Social", que na sua génese se trata de um serviço que visa ajudar qualquer empreendedor que nos procure, independentemente da sua capacidade de pagar o serviço de consultoria típico de desenvolvimento de modelo e plano de negócios, orientando-os para possíveis percursos que podem seguir para levarem por diante a sua ideia de negócio. Ou então, caso essa ideia não seja exequível, aconselhá-los a ir noutra direção, a apostar noutro negócio ou até em formação especializada nas áreas que gosta em detrimento da criação do próprio negócio.

    AVE: Mas já existem resultados palpáveis deste novo serviço que é prestado pelo Centro de Formação e Emprego que possam servir de incentivo para outros potenciais beneficiários que tenham em mente alguma ideia para desenvolver mas que ainda se deparem com algumas dúvidas quanto à colocação em prática dessa mesma ideia?

    AA: Esta é uma resposta que está numa fase de arranque, com o técnico Nuno Victor. Já temos pessoas instaladas no mercado que tiveram o apoio da "Incubadora Social" do Centro de Formação e Emprego do CSE para colocar em prática as suas ideias de negócio; no entanto, enquanto resposta com um espaço físico como idealizamos, ainda estamos numa fase de definição, ou seja, um espaço onde os empreendedores possam incubar e testar a sua ideia de negócio, criando sinergias entre si, através da troca de competências e serviços.

    Quero salientar que o carácter social da "Incubadora", não é de que os negócios sejam particularmente na área do social, ou negócios sociais, mas pelo facto que toda a gente tenha a possibilidade de recorrer a este serviço.

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    AVE: Nesta área específica da formação o apoio financeiro a projetos que visem desenvolver essa mesma formação é vital para colocar essas ideias/projetos em prática...

    AA: … É verdade e, para esse efeito, toda a equipa do CFPE tem a responsabilidade de, permanentemente, procurar apoios no âmbito de parcerias ou ao abrigo de fundos comunitários, quer para esta valência, quer para a instituição como um todo.

    AVE: Voltando um pouco atrás, e falando dos projetos que neste momento são desenvolvidos pelo Centro de Formação, como é o exemplo do Trabalho Pró Boneco. Perguntava-lhe além de terem a tal missão de manter as pessoas ativas, como referiu, este tipo de projeto não pode igualmente ser uma porta de emprego futuro a quem a ele adere?

    AA: Sim, pode fazer com que as pessoas se desenvolvam em determinadas áreas, descubram as suas potencialidades como oportunidades de negócio e assim criem o seu próprio emprego.

    O Projeto Trabalho Pró Boneco (TpB) decorreu no âmbito do Programa Escolhas 5ª geração, arrancando em Janeiro de 2015, com o técnico Sérgio Garcia, no trabalho de promoção do brinquedo tradicional de Valongo. Do processo de concretização do projeto resultaram várias sessões de esclarecimento que envolveram cerca de 1000 jovens do concelho, tendo sido selecionados 30 jovens; que participaram em 600 horas de formação artística e técnica, assim como tiveram a possibilidade de estar em 10 feiras para a promoção e a venda de brinquedos, e mobilizaram as suas aprendizagens para atividades de animação e a realização de espetáculos de marionetas. Resultou deste projeto a criação de uma oficina que permite à comunidade a reinvenção e a criação de novos brinquedos. Destaco os vários trabalhos realizados para a Associação Silveirinhos, para a Câmara Municipal de Gondomar e para a Junta de Freguesia de Ermesinde. Este projeto foi financiado durante o ano de 2015, mas durante o corrente ano continuou a acompanhar um grupo de jovens no desenvolvimento de trabalhos na área artística.

    Neste momento, a equipa do CFPE definiu novos objetivos e um novo modelo de funcionamento para este projeto, e por isso está à procura de novos intervenientes.

    No fundo criou-se know-how para desenvolver outros projetos no âmbito da área artística, nomeadamente na criação cénica, na animação…

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    AVE: Num passado recente os centros de formação de todo o país ministraram os programas de Educação e Formação de Adultos, desenvolvidos nos denominados Centros de Novas Oportunidades (CNO), dos quais saíram com uma certificação milhares de cidadãos ao longo do período em que o referido programa vigorou. Com o fim dos CNO, que teve uma adesão massiva por parte da população nacional, podemos dizer que projetos como o Trabalho Pro Boneco ou a Feira de Venda e Saberes vieram tentar ocupar o lugar deixado vago pelas Novas Oportunidades no que a formação diz respeito?

    AA: Não. Houve de facto um vazio criado pelo fim dos CNO, mas estes projetos que referi, e outros semelhantes, não substituiram esta resposta. Como eu já disse antes, estes projetos surgem com o sentido de manter as pessoas socialmente ativas, mas não lhes garantem nenhum certificado escolar. Quando está em causa a obtenção de uma certificação escolar há uma maior motivação por parte das pessoas. Um diploma torna-as mais ricas, e posso dizer que o Programa Novas Oportunidades conseguiu catapultar muitos cidadãos para níveis superiores, porque adquiriam um diploma; e ter um certificado com uma qualificação escolar (diploma) é muito importante. E com estes projetos que estamos a desenvolver conseguimos dinamizar formações certificadas, mas não conseguimos atribuir um diploma escolar.

    AVE: Podemos então concluir que o fim dos CNO (que foram igualmente desenvolvidos no CSE) significou uma regressão ao nível da formação...

    AA: De certa forma, com os CNO e os cursos EFA víamos as pessoas a crescer, a desenvolverem-se. Eu sou suspeita de falar no fim destes programas, mas acho que nós, enquanto país, regredimos uns 30 anos. Éramos um exemplo na Europa, estávamos a efetuar um percurso ascendente ao nível da formação do capital humano e isso está provado, a nível mundial, onde é referido que o aumento da escolaridade está diretamente ligado ao desenvolvimento económico. Com os CNO, Portugal foi um dos países da União Europeia que mais cresceu em termos do aumento dos níveis de formação dos adultos, embora estando em termos globais abaixo da maior parte dos países parceiros. Com o fim deste programa estagnamos. A formação ao longo da vida deverá ser novamente uma prioridade, investindo-se na formação da população com baixa escolaridade, que por efeito de bola de neve, poderá repercutir-se nas gerações seguintes.

    AVE: Já falamos do GIP, do CLDS, da Incubadora Social, de alguns projetos que o Centro de Formação tem desenvolvido, mas sabemos que o leque de serviços desta valência não se esgota por aqui no presente...

    AA: Sim, tenho de referir ainda o Gabinete de Inovação e Sustentabilidade, que tanto atua na área de apoio a projetos exteriores como para projetos do próprio CSE. Neste gabinete procuram-se soluções que tragam sustentabilidade ao CSE e que permitam a resolução de necessidades da comunidade de forma inovadora. Os técnicos deste gabinete procuram juntar necessidades internas do CSE e/ou da comunidade com soluções de financiamento exterior. Esta equipa está atenta a novas tendências da economia social, procura soluções, analisa programas de financiamento de projetos e candidaturas que vão surgindo. Para além de que é neste gabinete que se desenvolvem as ações relacionadas com a implementação do Sistemas de Gestão da Qualidade do CSE e se procuram soluções viáveis para a formação dos trabalhadores da instituição.

    Por outro lado, pela leitura das necessidades da comunidade criamos duas novas respostas: o EURODESK e o Serviço Voluntário Europeu, no âmbito Erasmus; com o objetivo de responder às necessidades dos jovens desta terra, propiciando experiências de formação e voluntariado internacionais. Temos de momento um jovem na Bulgária e outro a preparar-se para um projeto de rádio e multimédia na Grécia.

    Ainda neste exercício acrescento a Horta Solidária, trabalho em parceria com a Lipor, onde cinco famílias exploram um talhão de 100m2, para consumo próprio ou a venda na feira quinzenal (1ª e 3ª quarta feira de cada mês) realizada no Largo da Feira Velha de Ermesinde. Neste momento continuamos a ser convidados para participar em eventos, desenvolvemos um workshop de costura que dura há cerca de um ano e está a ser desenvolvido um novo projeto "Jogos e Brinquedos de Sempre" que pretendemos concretizar com a criação de uma empresa. Para terminar não podia deixar de referir que é esta valência que está responsável pelo acompanhamento e integração da família de refugiados que o Centro Social de Ermesinde está a acolher, no âmbito do Programa PAR Famílias.

    AVE: E agora mesmo para terminar esta pequena conversa, gostaria que nos fizesse uma projeção daquilo o que o Centro de Formação e Emprego Profissional do CSE pretende alcançar no futuro...

    AA: … Propomo-nos continuar a trabalhar no sentido de aumentar as qualificações formativas e profissionais e promover a emancipação e a inserção de jovens e adultos na vida ativa. Para isso, prevemos contar com a formação modular certificada para desempregados e ativos, os intercâmbios internacionais, os projetos de serviço voluntario europeu e as previsíveis respostas de certificação e reconhecimento de competências escolares e ou profissionais.

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    UMA EQUIPA MULTIDISCIPLINAR,

    DINÂMICA E EMPENHADA...

    A equipa de trabalho no CFPE é multidisciplinar, composta por um administrativo e cinco técnicos superiores: o Manuel Batista, rececionista, representa o primeiro rosto do atendimento desta valência; a Ana Rentes, Educadora Social que está como técnica do programa CLDS 3G, juntamente com o Florentino Silva, Mestre em Ciências de Educação; a Sara Pinho, Psicóloga de formação e técnica do GIP; o Sérgio Garcia, Engenheiro do Ambiente, gestor da qualidade da instituição e o Nuno Victor, licenciado em Gestão. É uma equipa aberta a novos desafios, dinâmica e empenhada, que facilmente cria empatia com o público-alvo. Creio que é este o segredo do nosso desempenho.

     

     

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