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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-11-2016

    SECÇÃO: História


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    60º Aniversário do Centro Social de Ermesinde (22)

    O Centro de Assistência Social em 1960

    Continuamos a recordar a vida do Centro de Assistência Social de Ermesinde, no primeiro ano em que teve esta nova denominação em vez da de "Sopa dos Pobres", com que havia nascido. O Presidente da sua Direção era António Moreira da Silva. Relativamente àquilo que foi a atividade do Centro de Assistência, no ano 1960, podemos ficar com uma ideia muito aproximada, se lermos as respostas que o Presidente deu a algumas perguntas que lhe foram colocadas, conforme consta em "A Voz de Ermesinde", números 37 e 38, de janeiro e fevereiro de 1961. Ficamos, nesta edição com a 1.ª parte desta "entrevista", que concluiremos no próximo número.

    Pergunta (P): Como decorreram os trabalhos do Centro no ano que terminou?

    Resposta (R) - Podemos dizer, felizmente, que correram muito bem. Foi o ano de início duma grande obra que pretendemos erguer, e todos os estudos foram poucos. Porém, se nem tudo decorreu conforme nosso desejo, não podemos, também, dizer que correu mal.

    P: E foi grande o movimento do Centro em 1960?

    R - Muito superior ao que todos nós julgávamos. Como compreende, não é, ainda, possível indicar qual o total da receita e da despesa, movimento que o nosso escriturário - Sr. Alberto Delgado - tem ainda em mãos e o qual é bastante trabalhoso. Porém, no próximo número do nosso jornal, já poderemos possivelmente apresentar o nosso relatório e contas, para apreciação de todos quantos se interessam pela vida do Centro. Aproximadamente, a despesa anda à roda dos 270 contos.

    P: E como foi possível, Sr. Presidente, conseguir receita para tão grande despesa?

    R - Com muito trabalho e a boa compreensão, em parte, de quantos nos ajudaram.

    P: Com tal movimento de receita e despesa, poucos Centros de Assistência haverá no país!?

    R - Suponho, pelo que conheço, ser o de Ermesinde o único no género.

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    P: E as autoridades, como têm apreciado tão importante obra?

    R - Desde os Ministérios, com que trabalhamos, até às Ex.mas Autoridades concelhias e paroquiais, todos são unânimes em reconhecer quanto se tem trabalhado e a fazerem-nos Justiça.

    P: E têm os subsídios correspondido?

    R - Dado o aumento sempre crescente da Instituição é impossível os subsídios serem equivalentes, porque os orçamentos têm limites e deles não nos podemos desviar, demais que rigorosa fiscalização é feita pelas entidades máximas da Assistência. Esperemos que tudo sempre se resolva a contento de todos.

    P: E as despesas feitas, grandes como são, acudiram a todas as necessidades da vila?

    R - A todas, não. A parte. As necessidades são inúmeras mas só um muito reduzido número de habitantes de Ermesinde as conhece. E quanto a miséria encoberta, devo dizer-lhe que são muitíssimas as pessoas que o Centro tem a seu cargo, que nunca pediram um tostão a alguém; muitas há que têm vivido dias e dias dentro das portas sem quebrar o jejum, como soe dizer-se.

    P: Quantos mendigos tem o Centro a seu cargo?

    R - Mendigos, propriamente ditos, 45. Tuberculosos, (chefes de família internados) 12, cujas famílias estão a cargo do Centro, com uma despesa mensal de, aproximadamente, 3 contos.

    P: E quais as despesas que os mendigos causam ao Centro de Assistência?

    R - A alimentação para eles e seus familiares, é composta de pequeno almoço; depois, sopa, um prato e pão, às refeições. Vestir e calçar. Pagamento da renda de casa. Assistência médica e remédios. Dinheiro para barbeiro, cigarros e vá lá... o copito de vinho. E às velhinhas - que tanto carinho nos merecem - o café da tarde. Isto totaliza, no fim de cada mês, à roda de dez contos.

    Poderíamos reduzir a certas despesas, mas, em consciência, não podemos privar os pobres velhinhos dos seus vícios - que todos os temos - e tirar-lhos que seria deles? Seria abreviar-lhes o fim da vida.

    P: Pelo que nos expõe, não têm mais necessidade de pedir.

    R - Não. Mas existem alguns que ainda o fazem às escondidas, procurando inventar as mais disparatadas mentiras, caluniando até, a nossa obra. Alguns há que chegam mesmo a negar o bem que lhes fazemos. Esses que assim procedem são difíceis de dominar, atendendo ao vício que se entranhou neles, vivendo da "pedincha" para poderem satisfazer esses vícios impróprios de um homem. E fazem-no, também para sustentarem pessoas de família que nunca conheceram o trabalho e possuem uma saúde que muitos dos que os socorrem não têm.

    P: E não seria possível proibir-lhes tal proceder?

    R - Era fácil desde que nenhum habitante de Ermesinde os socorresse com a esmola. Mais: que os denunciassem ao Centro. Mas como nem todos assim fazem, eles lá vão pedindo até que chegue o dia das autoridades policiais os transferirem para albergues, como já tem sido feito.

    P: Com esse processo de alguns pobres, julga-se o Centro prejudicado?

    R - Sim, e a razão é a seguinte: como existem benfeitores que desejam que as suas esmolas sejam conhecidas aos 4 ventos, para que todos saibam o que eles fazem aos pobres, dão-lhes a esmola à porta. Verifica-se, assim, que para esses benfeitores as misérias envergonhadas não contam.

    Não interessa saber onde existe uma criança, na força do Inverno, a dormir num feixe de caruma, sem uns trapos que a cubram, uma manta que a aqueça; não lhes interessa saber onde há uma viúva, rodeada de filhinhos, sem ter quem lhe ganhe um bocado de pão; não querem saber quanto custa uma receita médica para salvar um pai ou uma mãe duma morte certa. Não lhes interessa saber, finalmente, se um tuberculoso, para ser internado tem roupas suficientes para dar entrada num sanatório!...

    (Continua)

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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