Sessão política comemorativa dos 40 anos de Abril demasiado morna no auditório da Junta de Freguesia em Ermesinde
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Fotos URSULA ZANGGER |
Talvez prejudicada pela emergência das novas comemorações municipais, a sessão pública das autarquias ermesindenses comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril foi este ano muito mais pálida do que as comemorações de Abril dos anos anteriores.
Não só a cerimónia decorreu célere e a despachar, como todo o seu enquadramento parece ter ofuscado a vivacidade da cerimónia cívica central das comemorações. Nesta, mais uma vez intervieram os partidos políticos representados na Assembleia de Freguesia, bem como os autarcas Luís Ramalho, presidente da Junta, e Raul Santos, presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia de Ermesinde.
AS INTERVENÇÕES
PARTIDÁRIAS
José Carlos Gomes, pelo Bloco de Esquerda, foi o primeiro orador da sessão, abordando na sua intervenção vários aspetos de Abril, entre eles a esperança de se erguer uma sociedade solidária através do Estado Social.
Hoje, apontou o representante do Bloco de Esquerda, assiste-se ao regresso da Sopa dos Pobres salazarista, ainda que renomeada de Banco Alimentar ou de Cantinas Sociais.
Numa sociedade em que as classes sociais excluídas são obrigadas a pagar os desmandos do capital, só os banqueiros nada pagam.
E quanto a um dos aspetos mais relevantes de Abril, a liberdade, lembrou que hoje já nem livremente podemos falar, como o demonstram as reações ao manifesto dos 74, que defendia a renegociação da dívida – estejam caladinhos para não aborrecer os mercados!...
E muito crítico acerca do mais alto magistrado da Nação: «Portugal, hoje, não tem um Presidente da República, tem um aposentado!», que apela ao consenso entre todos, esquecendo que a democracia é feita de diferenças.
O 25 de Abril nunca se teria feito a bem do consenso, apontou ainda.
E terminou expressando claramente a sua posição de protesto: «Os Portugueses estão a ser roubados ignobilmente!».
Seguiu-se-lhe Avelino Almeida, da CDU, que apontou o 25 de Abril como uma grande realização histórica do Povo Português, culminando «uma longa e heroica luta». O representante da CDU apontou que a aliança da classe operária e demais trabalhadores e dos militares progressistas conduziu à aliança Povo-MFA, e à nova Constituição da República.
Como resultado da revolução – levantamento militar de imediato seguido de um poderoso levantamento popular, pôs-se fim à guerra colonial e foi reconhecida a independência das colónias, realizando-se «profundas transformações democráticas – políticas, económicas, sociais e culturais – que, alicerçadas na afirmação da soberania e independência nacionais, abriram a perspetiva de um novo período da história dos trabalhadores e do povo, apontando o Socialismo para o futuro de Portugal».
Entre as conquistas alcançadas figuraram «a liberdade de reunião, a liberdade sindical, de associação, de expressão, de Imprensa, o direito à greve, a livre formação de partidos políticos, as eleições livres, o Direito de voto aos 18 anos, o Poder local democrático», e ainda um conjunto de conquistas económicas fundamentais para as classes populares, como a «instituição de um salário mínimo, do subsídio de Férias e de Natal, do subsídio de desemprego, de pensões e reformas generalizadas, a igualdade de direitos para as mulheres e o real início da sua emancipação, o direito à saúde e à educação para todos», entre outras tantas conquistas de Abril «que o capital procura hoje pôr em causa, tentando fazer regressar o país a um passado que a todos nos devia envergonhar».
O País vive hoje uma grave e profunda crise económica, social e até moral, considerou, mas afirmando finalmente a esperança e confiança que sempre foi apanágio dos comunistas. E acreditando em melhores dias para o direito de todos à Saúde, Educação, Habitação, Cultura, respeito pela Natureza, em que prevaleça «o governo das coisas pelo Homem e em proveito de todos e em que a Democracia tenha o seu significado mais pleno, que é o de ser o poder do Povo, exercido e participado pelo Povo, de forma por inteiro livre e consciente».
Foi depois a vez de Daniela Costa, que interveio em nome do PS. A jovem socialista começou por apontar que a história mais recente de Portugal lembrava a todos e até aos mais novos a falta de liberdade. O 25 de Abril tinha marcado uma nova era para o Povo Português, mas agora «cabe-nos manter vivo esse legado» – da Democracia, da liberdade de expressão e de manifestação, do direito ao voto, do Poder Democrático e Local.
E referindo-se a recentes episódios da vida política nacional apontou que «não podemos concordar com o desrespeito aos capitães de Abril».
«Vivemos momentos difíceis», considerou também, com o «tratamento cruel dos reformados», e em que «a juventude não vislumbra o futuro».
Está a eclodir um surto enorme de emigração, num «fenómeno inverso ao ocorrido com o 25 de Abril, em que muita gente voltou à Pátria».
Hoje assiste-se à formação de quadros para o estrangeiro e à deterioração da produção de cereais, das pescas, etc..
Abandonou-se o esforço feito com a promoção das energias renováveis e contribui-se finalmente para uma grande descredibilização dos órgãos políticos, lamentou.
Outro jovem, Gonçalo Melo, proferiu a intervenção em nome do PSD, sendo as suas primeiras palavras para aqueles que trabalham para a população. Para os que participam na vida pública, e que têm um papel cívico.
Referindo-se depois à sua experiência pessoal, reconheceu que pertencia a uma geração que não viveu o 25 de Abril, mas que isso não a tornava menos responsável da defesa dos valores nessa data consagrados.
«A celebração de hoje não deve ser condicionada ao passado», sublinhou depois, e apontou de seguida também alguns dos condicionamentos que pesam sobre a nossa vida, como os resultantes da dívida pública que «condiciona o bem-estar social».
O 25 de Abril é um momento de passado e de futuro, e nos seus valores deve estar contido o propósito de melhorar a vida dos Portugueses – «celebramos o que já não temos, o que temos e o que deveremos ter!», concluiu.
AS INTERVENÇÕES
DA JFE E AFE
Seguiram-se as intervenções dos dois presidentes. Primeiro Luís Ramalho, da Junta de Freguesia de Ermesinde, que referiu ser este um dia de parabéns – de memórias para uns e histórias para outros.
O que há 40 anos não tínhamos hoje é banal, apontou, pondo o foco na questão das liberdade, apesar de um primeiro momento de «tempos conturbados de exagero». E prosseguindo no mesmo tom considerou que «hoje ainda não sabemos lidar com a liberdade, exigindo-se o que já não podemos ter».
A ditadura de outrora foi culpa do exagero de muitos, que obrigaram a que a nossa liberdade fosse posta em causa, defendeu, preparando a justificação das políticas governativas atuais.
Passamos a ter figuras que substituíram a PIDE e precisamos de um novo paradigma para o 25 de Abril, para que Portugal deixe de viver como vive. «Fomos donos de meio mundo», e hoje vivemos curvados. Temos que viver Abril doutra forma, concluiu.
Raul Santos, presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia de Ermesinde, foi o último orador, e começou por afirmar que «nunca é demais lembrar os capitães de Abril».
Debruçando-se depois sobre a realidade atual do País apontou que se «as estatísticas podem ter várias leituras, a realidade fala por si – uma carga brutal de impostos, cortes inaceitáveis nas pensões dos reformados, os mais novos a emigrar, as políticas feitas para agradar ao capital».
E falando da sua vivência e testemunho, indicou que via com cada vez maior frequência pessoas a esgravatar no lixo, pessoas à espera junto dos postos de recolha de roupa usada...
Não estarão os valores da Constituição que celebramos em risco?
E apontou que queria acreditar que a indignação nos levasse a um novo rumo.
O combate à pobreza é prioritário, asseverou, defendendo o papel das instituições de solidariedade social, há muito a trabalhar e bem, nesta área. Há necessidade de prestar atenção à pobreza envergonhada, lembrou também. A autarquia tem que reforçar o apoio social, mesmo em detrimento de áreas com uma maior visibilidade, concluiu, dando quase de seguida a cerimónia por encerrada.
Por:
LC
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