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    Arquivo: Edição de 17-01-2014

    SECÇÃO: Crónicas


    CRÓNICAS DE LISBOA

    Passagem de Ano, o momento mágico?

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    Um ano, como movimento de translação da Terra, é um período de muitas referências e que influencia a vida neste planeta, umas da natureza e outras que dizem respeito à organização das sociedades. Por exemplo a contagem do ano civil, económico e fiscal, etc., que, nos países ocidentalizados, se inicia em 1 de janeiro e finda em 31 de dezembro. Obviamente que o período de mudança (passagem de ano) só se vê nos ponteiros dos relógios, mas aqueles minutos ou segundos são um “tempo mágico” ou simbólico e, em torno dele, se organizam festas, algumas duma certa extroversão, como se de algo palpável se verificasse naquela “hora mágica”. Apropriado também por outros interesses socioeconómicos (turísticos, por exemplo), a “festa” faz crescer o consumo de bens e serviços e assume muita importância, pela adesão, cada vez maior dos cidadãos e consumidores. São as sociedades hedonistas a apropriar-se desse “tempo de fronteira do ano”, e esta apropriação consumista tem retirado genuinidade às manifestações e há mesmo alguma histeria em torno dessas festas, como se desses minutos ou segundos mágicos dependesse a felicidade de cada um e da humanidade! Pura ilusão.

    “Desejo-te umas boas saídas e umas boas entradas “ – expressão muito utilizada em vez de: “Desejo-te um Bom Ano de 2014, cheio de saúde, paz, amor, solidariedade, etc.”, pela ordem e importância que cada um atribui a estes valores. Confesso que prefiro utilizar, com sinceridade, a segunda expressão, porque é ela que, de facto, tem mais importância e ultrapassa a “passagem de ano”, como festa efémera e de curta duração, ao contrário dos 365 dias que cada um desejará viver segundo aqueles valores. Aquele período mágico deveria servir para fazermos uma introspeção e balanço do ano a findar e também elencar objetivos de vida para um novo período que se iniciará. Esta projeção continuaria nas primeiras horas e dias do Novo Ano. Em tudo isto, seja no balanço passado seja na previsão/desejos futuros, conta muito a nossa vontade e atitudes, bem como as muitas relações que alimentamos, no campo familiar, social, profissional, porque ninguém vive sozinho neste mundo e a nossa vida assenta numa grande interdependência e, assim, seremos muito daquilo que fizermos e pelo qual lutarmos.

    Com esta envolvente mágica da “festa da passagem de ano”, seria difícil alhearmos-nos, pelo que a solução é “alinharmos” num programa que melhor se adeque à nossa personalidade, poder de compra e “modus vivendi”, pelo que a preparação da “festa” pode começar bem cedo no calendário ou no próprio dia e pode ser influenciada por pequenos ou grandes acontecimentos que acabem por estragar o evento. Apesar de não ser supersticioso, parece que o “treze” do ano que acabou se virou contra mim, tais os factos que me aconteceram no último dia. Logo pela manhã, alguns mal entendidos, apesar do pedido de desculpa, geraram algum stress conjugal. Depois e usufruindo, por cerca de três horas, o prazer de tomar conta da minha princesa de vinte meses, queimei-me na mão, quando lhe preparava o almoço. De qualquer modo, continuava com os preparativos da “festa”, um jantar e ceia a dois e em ambiente caseiro, que seria abrilhantada com os respetivos programas televisivos, até que um sintoma de mal estar e temendo complicações do foro cardíaco, me fez ir até ao respetivo hospital, deixando a comida na mesa; e ali passei cerca de quatro horas nos exames de despiste da patologia que há muitos anos me vitimou.

    A “hora mágica” aproximava-se, a passos largos, mas a minha maior preocupação centrava-se no diagnóstico médico e pouco me preocupavam as festas, porque a saúde e a vida valem muito mais do que todas as festas do mundo. Até uma enfermeira, talvez stressada por estar escalada naquele dia, me “magoou”, pela forma menos correta como exerceu o seu poder. Mas, por fim, e já muito próximo da meia-noite, a médica, com uma simpatia pouco usual, ainda mais naquela noite, e competente na abordagem médico/doente, veio dizer-me que, de acordo com os episódios relatados e os respetivos exames, os sintomas não se enquadravam no foro cardíaco (enfarte agudo do miocárdio ou angina de peito), pelo que me senti logo mais aliviado nas dores, que me atormentaram e persistiram. Disse-lhe que o meu último dia do ano tinha sido um dia de “pouca sorte”, a que ela me respondeu que eu o estava a terminar da melhor forma, porque o diagnóstico médico era bom para mim e que deveria sentir-me feliz por isso. Agradeci-lhe tudo o que fez por mim, como sempre faço em todas as situações, mas especialmente neste tipo de interação, e desejei-lhe um Bom Ano cheio de coisas boas. Fiz o mesmo às enfermeiras e demais pessoal com quem me cruzei, incluindo os porteiros do hospital, e saí.

    Reconfortado com o resultado e com aquelas palavras, entrei no carro, estacionado em frente ao hospital, e dirigi-me para casa, sem pressas, apesar das ruas e estradas desertas e com algum nevoeiro à mistura, que me transmitiam uma sensação de medo e paz. Cheguei a casa poucos minutos antes da “hora mágica”, onde a mesa, farta quanto bastava, me esperava, e ainda a tempo de assistir, via televisão, aos festejos da “passagem de ano”, em diversos locais. Faltou-me tempo e paz, para fazer o balanço do ano findo e interiorizar, com as doze passas, os desejos para o Novo Ano, pelo que as fiz já na nova data.

    A TV mostrou-me, já em pleno “Primeiro de Janeiro”, as muitas e variadas festas que ocorreram, desde os confins do mundo e onde são diferentes os fusos horários, até aos locais bem perto de nós. Deram voz a muitas e variadas manifestações pessoais, mas, na frente dum microfone, muitos são aqueles que perdem o bom senso e e deles saem muitas baboseiras, mas destacando-se, contudo, uma jovem que, com palavras sensatas, disse que: “O Bom Ano seria muito daquilo pelo qual lutássemos e fizéssemos e que não ficássemos sempre à espera do esforço dos outros ou das benesses do país”. Como seria bom, se muitos de nós tivéssemos as mesmas atitudes perante o trabalho, estudo, etc., como temos perante as festas. Portugal seria melhor, garantidamente.

    Por: Serafim Marques

     

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