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    Arquivo: Edição de 19-07-2013

    SECÇÃO: Destaque


    FEIRA DO LIVRO

    Compostela, encruzilhada mística

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    A noite do dia 12 de julho foi dedicada à apresentação do livro “O Segredo de Compostela”, de Alberto Santos, que apresentou aqui o seu romance “O Segredo de Compostela”, no qual está bem patente um novo olhar para o culto a Santiago, que o autor aponta como mitificado, e resultado de um encobrimento à verdadeira origem da devoção.

    Militante social-democrata, Alberto Santos contou na assistência, entre outros, com a presença do presidente da Câmara, João Paulo Baltazar.

    O autor começou por falar do que o interessava mais na escrita, rever o passado identitário, saber o que nos trouxe a falar como falamos e a pensar como pensamos. O nosso passado árabe e romano. E a necessidade de não subestimarmos o nosso passado árabe, do qual estão registados muitos milhares de vocábulos na nossa língua com essa origem.

    Antigo carmelita descalço, estudou o mito de Compostela e este seu romance tem precisamente como personagem principal aquele que Alberto Santos crê estar na verdadeira origem da peregrinação, Prisciliano, o primeiro cristão herético morto às mãos da hierarquia religiosa cristã devido às suas crenças.

    Sobre Santiago crê o autor que a fundamentação da origem oficial da devoção é rebuscada e inverosímil. Como acreditar terem dado à costa as relíquias do apóstolo de Cristo, numa barca de pedra, tantas centenas de anos depois da sua morte, tais como surgem no Códex Callistinus do séc. XII?

    Por outro lado, sabe-se que Prisciliano, pregador do século IV, que com a sua pregação influenciou toda a Galécia, foi perseguido pela Cristandade feita religião oficial do Império quando o seu Cristianismo foi considerado herético por pregar a igualdade entre homens e mulheres e defender o fim da escravatura. Demasiado revolucionário para a época, acabaria por ser decapitado, e os seus seguidores perseguidos, mas o local da sua sepultura, em Compostela, terá sido transformado em local de culto e peregrinação, que sobreviveria às perseguições, à ocupação árabe e à reconquista cristã que se encarregaria de lhe encontrar uma origem mais conforme com a sua orientação, por um processo de sedimentação da memória.

    Para estar mais próximo da Transcendência, Prisciliano preferiria os bosques às grandes igrejas, defendendo também que a Igreja deveria ser despojada da opulência.

    Foi uma conversa fascinante, a lançar um raio de luz inquietante sobre o nosso passado. Já agora recorde-se que, sobre este tema, o jornalista Ramón Chao (pai do cantor Manu Chao) publicou em 1999 uma recriação biográfica livre, também em forma de romance, com o título “Prisciliano de Compostela”.

    Por: LC

     

     

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