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    Arquivo: Edição de 28-02-2013

    SECÇÃO: Crónicas


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    Ser professor

    Dizia o Professor Cândido Mendes, meu antigo professor na PUC do Rio de Janeiro, que «Sociologia é o único curso que se segue por opção». Os eclesiásticos diziam que para ser padre é preciso ter vocação. Eu disse muitas vezes aos meus colegas que ser professor é uma missão. Um ano depois de me ter aposentado, conduziram-me à presença da colega que presidia ao Conselho Executivo do Agrupamento de Escola de Alfena. Quem fez as apresentações acrescentou à enunciação:

    – Foi professor e aposentou-se o ano passado.

    Antes do cumprimento formal, declarei:

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    – Desculpe que faça uma correção: fui professor e continuo a sê-lo. Esta é uma daquelas profissões que não se deixam para aceder ao merecido descanso, como quem se desfaz do guarda-chuva ou do sobretudo ao entrar em casa.

    – Tem toda a razão – respondeu. Não me vou esquecer do que acaba de me dizer.

    Mal imaginava eu que, menos de cinco anos volvidos, retomaria, ainda que provisoriamente, a antiga função. A Professora Clara Fontes, diretora de uma das escolas do meu antigo Agrupamento, dirigiu-me o honroso convite que, de pronto, aceitei. Fui recebido com a esperada simpatia da Diretora e por um grupo de crianças muito bem comportadas e ávidas de novos conhecimentos. Contra o que era costume, fizeram-me muitas perguntas que eu procurei satisfazer. Espero não os ter defraudado e não me ter excedido em entusiasmo. Com sinceridade, não fiquei surpreendido uma vez que já conhecia o rigor temperado de carinho que a professora imprimia às suas turmas. “Herdei” algumas turmas preparadas por ela e ainda recordo esses antigos alunos com saudade. Não me esqueci dos seus nomes. Por ela soube que a melhor aluna da última delas e que, agora, frequenta o 12º Ano, teve 20 valores a todas as matérias na avaliação do primeiro período letivo. Absolutamente invulgar e digno de encómios. Não me admiraria nada que, no fim do ano, fosse considerada a melhor aluna do país. Conhecendo as suas capacidades e a sua aplicação ao estudo, sei que vai ter um futuro brilhante, provavelmente lá fora, num país que saiba reconhecer-lhe o valor desdenhado pelos nossos atuais governantes. Recordo para os leitores um episódio significativo: terminada a Prova de Aferição de Língua Portuguesa do 6º Ano, dirigi-me ao bloco onde os meus alunos tinham cumprido a sua prestação e fiquei siderado ao ver a Beatriz desfeita em lágrimas, rodeada por vários dos seus colegas que tentavam confortá-la. Perguntei-lhe o porquê de tão grande perturbação. Com muita dificuldade, respondeu-me que a prova lhe tinha corrido mal. «Como assim?» – indaguei. «Não soube responder a uma questão», disse entre soluços. Como inspetor para as Provas de Aferição, eu já conhecia as perguntas e quis saber onde tinha errado. «Não soube o significado de q.b. numa alínea sobre a receita culinária que foi apresentada» – conseguiu balbuciar. «Não fiques assim tão preocupada. Essa alínea tem uma cotação quase insignificante. Se foi esse o erro, podes ficar tranquila, vais ter, certamente, a cotação máxima. Quando, semanas depois, foram publicados os resultados, verifiquei que obtivera a nota máxima não apenas da sua turma mas de toda a escola e recebeu os parabéns de alunos e professores. Acresce que não houve qualquer negativa na turma. Esta foi, entre todas aquelas de que fui professor, a que mais saudades me deixou. Tive muitos alunos nos vinte anos em que permaneci na Escola dos 2º e 3º ciclos de Alfena, alguns muito bons. Peço desculpa a todos os que foram meus alunos por eleger esta como a melhor turma que lecionei. Recordo com saudade outras turmas e mais de mil alunos que procurei ajudar nesses últimos anos de profissão efetiva. Gostaria de referir os nomes de alguns dos que mais se distinguiram mas acho que seria injusto para os restantes. Todos mereceram a minha atenção e disponibilidade. Peço desculpa se não os identifico quando, por acaso, os vou encontrando nos mais diversos lugares. Desejo, de todo o meu coração, que estejam bem e que tenham sucesso na vida.

    Tive oportunidade de encontrar entre o corpo docente da escola várias colegas de cujos filhos fui professor em anos letivos diferentes. De todas recebi as maiores atenções e, juntos, relembrámos esses tempos distantes. Celebrámos o nosso reencontro com um chá no intervalo a meio da manhã, tal como acontecia no tempo em que lecionei na Escola dos 2º e 3º ciclos de Alfena.

    Fui professor de grande parte dos filhos de colegas e de auxiliares da nossa escola e do nosso agrupamento. A própria Professora Clara se esforçou para que eu fosse o professor de Língua Portuguesa da turma em que o filho dela e do Professor Jorge Fontes estava integrado. Também reencontrei a D. Célia, auxiliar de ação educativa que trabalhou na “minha” escola e cujas filhas – a Daniela e a Catarina – foram minhas alunas. O dia 21 de fevereiro de 2013 foi, para mim, um dia feliz. Se outras oportunidades houver, terei imenso gosto em repetir, desde que não tenha obrigações familiares ou pessoais nessa ocasião. Deixo aqui expressa a minha gratidão à Professora Clara pelo convite que me endereçou, pelas amáveis palavras que me dirigiu e pelo ambiente de sã camaradagem que pude reviver. Foi bom demais ter encontrado muitas outras colegas e delas ter recebido tão grandes demonstrações de carinho. Bem hajam!

    Por: Nuno Afonso

     

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