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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2012

    SECÇÃO: Desporto


    ENTREVISTA COM O DIRETOR GERAL DA ESCOLA-ACADEMIA SPORTING-ALFENA

    Em Alfena o sucesso da filosofia de formação do Sporting tem sido interpretado com eficiência

    Aproveitando a ocorrência do 4º Torneio Internacional de Alfena (cujos desenvolvimentos apresentámos na última edição on-line: http://www.avozdeermesinde.com/index.asp?idEdicao=249&id=8080&idSeccao=2646&Action=noticia ) o nosso jornal foi conhecer o projeto que está por detrás deste evento desportivo, destinado a futebolistas de “palmo e meio”, cujo sucesso se vai tornando cada vez mais evidente de ano para ano. Falamos da Escola-Academia Sporting–Alfena, uma instituição que está prestes a completar cinco anos de vida e que tem interpretado com reconhecido destaque a filosofia daquela que é considerada por muitos como a melhor escola de formação do nosso país, a do Sporting Clube de Portugal.

    As portas do “covil do leão” em Alfena foram-nos abertas pela mão do diretor geral da escola-academia, Manuel Sousa, com quem estivemos à conversa.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    28 de setembro de 2007 é a data em que o sonho passa a realidade, o dia em que nasce pela primeira vez no concelho de Valongo uma escola de futebol ligada a uma grande instituição desportiva, como é o caso do Sporting Clube de Portugal. O berço do projeto é colocado em Alfena, mais precisamente no seio do clube mais representativo desta freguesia, o Atlético Clube Alfenense, coletividade que com a edificação da escola-academia beneficia de melhoramentos vários no seu complexo desportivo, sendo o mais visível de todos o arrelvamento – sintético – do seu principal campo de jogos. A concretização deste projeto colocou sorrisos de felicidade no rosto de todos os seus intervenientes, o Alfenense, a própria freguesia de Alfena, que passou a ver o seu nome associado a uma das mais afamadas escolas de formação do futebol europeu, o Sporting, que passava a dispor de uma academia no norte do país vocacionada para a procura e formação de novos talentos futebolísticos, e para os mentores da ideia, digamos assim, um grupo de quatro sócios em que se encontrava Manuel Sousa, que hoje em dia é o responsável máximo da Escola-Academia Sporting-Alfena.

    Professor de Educação Física, Manuel Sousa faz, no início da nossa conversa, uma viagem ao passado, onde recorda o sonho de abrir uma escola de futebol, um sonho que resultava – e continua a resultar – do somatório da paixão pelo futebol e do gosto de trabalhar com crianças. Contudo, neste sonho não entrava inicialmente a ideia de que essa escola pudesse ter o carimbo do Sporting, «conhecendo a qualidade que a Academia de Alcochete tinha, e tem, não me passava pela cabeça abrir uma escola do Sporting, digamos que isso era mais do que um sonho», recorda Manuel Sousa, que depois de se consciencializar que esse sonho havia transposto a fronteira para a realidade esteve três ou quatro noites sem conseguir dormir, tamanha era a felicidade que sentia.

    Chegada a hora de colocar o projeto em prática, foram contactados vários clubes da região no sentido de albergar a futura escola-academia, tendo a escolha recaído posteriormente, e de forma consensual entre os quatro sócios envolvidos no projeto, sobre o Alfenense, o clube que reunia as condições exigidas pelo próprio Sporting, sobretudo ao nível da estabilidade diretiva e financeira. E se a decisão tivesse de ser tomada hoje Manuel Sousa não voltaria a ter dúvidas em escolher novamente o Alfenense como parceiro deste projeto, já que de parte a parte este tem sido um casamento feliz. Como tal, na hora de traçar um balanço destes quase cinco anos de atividade o responsável pela Escola-Academia do Sporting-Alfena começa por dizer que este ainda curto período de vida correu bem, com um ou outro percalço pelo caminho, mas de forma geral esta mão cheia de anos tem sido positiva, embora sublinhe que a escola-academia continua a fazer esforços no sentido de continuar a crescer a diversos níveis. Continuar a crescer e continuar a fazer os alunos da escola-academia felizes, no fundo umas das diretrizes deste projeto, «fazer com que os miúdos sejam felizes a fazer uma atividade de que gostam. E nós em conjunto com os pais temos tido essa preocupação, de os fazer felizes. Não digo concretizar o sonho que a grande maioria deles tem por esta altura, que é serem jogadores de futebol no futuro, até porque não nos passa pela cabeça que todos os meninos que aqui temos venham a ser futebolistas profissionais, mas – como já disse – procurar que sejam felizes a praticar uma atividade de que gostem. E é precisamente isso que nos move todos os dias, ver o sorriso deles, seja antes dos treinos, depois dos treinos, em torneios, independentemente do resultado que tenham alcançado», frisa Manuel Sousa.

    O dirigente vai mais além ao explicar que a filosofia da escola-academia não passa exclusivamente por apenas formar futebolistas. «É uma escola de futebol, é certo, e presta um serviço de ensinar a jogar futebol, mas nem toda a gente que anda no conservatório vai no futuro tocar numa orquestra ou fazer parte de uma banda de música, e aqui é igual, ou seja, os meninos andam aqui porque gostam, nós ensinamos a jogar futebol, desenvolvemos capacidades e competências, mas nem todos irão para a alta competição, nem todos têm competências técnicas, táticas, de motivação e concentração para virem a ser futebolistas. Há meninos que andam aqui porque apenas gostam de dar uns chutos na bola, só isso».

    «JÁ COLOCÁMOS

    4 OU 5 JOGADORES

    EM ALCOCHETE»

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    O sonho de vir a ser um “Cristiano Ronaldo” poderá não estar ao alcance dos mais de 200 alunos que frequentam por esta altura a escola-academia de Alfena, é certo, mas tentar encontrar um “diamante” que possa ser lapidado e seguir, quiçá, as pisadas do astro português do Real Madrid é naturalmente outro dos objetivos da instituição. Mas… «ainda é muito cedo para dizer se temos aqui um “Cristiano Ronaldo”, ainda são muito novos. Mas no entanto ao longo destes cinco anos de existência já colocámos quatro ou cinco jovens em Alcochete, o que é bom em termos de projeção da academia de Alfena. Jogadores esses que já estão em Lisboa a trabalhar nas equipas de formação do Sporting», sublinha com orgulho Manuel Sousa. Academia de Alcochete que é vista por muitos como uma verdadeira fábrica de talentos, e o local de sonho onde muitos dos jovens que se encontram nas 27 escolas-academias que o clube de Alvalade tem espalhadas pelo país esperam um dia chegar. Sporting que muito recentemente foi “rotulado” pela UEFA como uma das atuais três melhores escolas de formação do futebol europeu, juntamente com o Barcelona e o Lyon. Manuel Sousa não tem dúvidas de que os leões são não só a melhor escola do país e uma das melhores da Europa como também estão entre as cinco melhores do Mundo, exemplificando esta tendência do clube lisboeta para o sucesso ao nível da formação com o facto – por exemplo – de 9 dos 23 jogadores que estiveram ao serviço da seleção portuguesa no Campeonato da Europa de 2012 terem sido “fabricados” na Academia de Alcochete, nomeadamente Rui Patrício, Miguel Veloso, João Moutinho, Beto, Quaresma, Hugo Viana, Varela, Nani, e obviamente Cristiano Ronaldo. Isto na atualidade, porque no passado foi buscar nomes como Paulo Futre, Luís Figo ou Simão Sabrosa, os quais testemunham a elevada qualidade da formação leonina. O segredo desta fórmula de sucesso? «Não há grandes segredos para o sucesso da escola do Sporting, na minha opinião. Alcochete é uma academia cuja metodologia de trabalho é virada para potencializar as qualidades e capacidades do atleta, o qual se integra em qualquer equipa e sabe o que tem a fazer dentro do campo», explica. E numa comparação com os projetos de formação dos dois maiores rivais a nível nacional do Sporting, o FC Porto e o Benfica, o nosso interlocutor não tem dúvidas de que existem muitas diferenças entre as linhas orientadoras e metodológicas de trabalho das partes envolvidas.

    «O projeto do Sporting é sobretudo desportivo, muito bem coordenado e muito bem orientado, e tem uma visão centrada na formação da criança, sem queimar etapas, algo que me agrada muito. Bem diferente daquilo o que fazem Benfica e FC Porto, que têm sobretudo projetos mais comerciais», refere Manuel Sousa.

    E por falar no rival FC Porto não pudemos deixar de fazer a observação do facto de o clube azul e branco ter aberto há cerca de um par de anos uma academia de formação no nosso concelho, mais concretamente em Ermesinde, localidade que acolheu uma das Dragon Force tuteladas pelos portistas, uma concorrência que para Manuel Sousa é pacífica e salutar e que até tem permitido algumas trocas de alunos, embora neste ponto a balança penda a favor dos leões. «Há mais meninos a fazer a viagem de lá para cá do que no sentido inverso. E alguns deles até são portistas! Isso acontece porque se calhar os pais acreditam mais no nosso projeto, até porque as mensalidades são mais ao menos iguais. Os meninos vêm, experimentam, e não querem outra coisa, preferem ficar connosco, e isso acontece não só com jogadores da Dragon Force como também de outros clubes, que temos recebido. Acho esta tendência normal, pois tanto os miúdos como os pais gostam de se associar a quem ganha, e ao virem para aqui as crianças ambicionam aprender mais, crescer, e claro, ganhar títulos. Além de que nós temos um tapete estendido para Alcochete, um local, como já disse antes para onde não irão todos, apenas aqueles que realmente são muito bons».

    SUCESSO DA

    ESCOLA-ACADEMIA

    RECONHECIDO

    “EXTRA MUROS”

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    A qualidade da Escola--Academia de Alfena tem sido badalada um pouco por toda a região, e a prova disso é que é frequentada não só por meninos do concelho de Valongo como de outros pontos, como por exemplo, Maia, Matosinhos, Gondomar, Paredes, ou Ovar.

    E por falar em preços Manuel Sousa informou que o Sporting está atento e preocupado com a atual situação financeira do país, encontrando-se neste momento a estudar a redução da mensalidade das escolas--academias. Inclusive, e em solidariedade com muitos pais que passam por dificuldades financeiras e que dessa forma não podem manter os seus rebentos nas escolas-academias, o clube de Alvalade criou uma bolsa destinada a meninos com potencial futebolístico e cujos progenitores tenham carências financeiras, no qual assume todas as despesas do atleta.

    Atletas que como já foi dito ultrapassam as duas centenas na academia sportinguista de Alfena, e que se encontram repartidos pelos escalões que vão dos minis até aos iniciados. A supervisioná-los estão 13 treinadores especializados, isto é, treinadores que trabalham de acordo com a filosofia de formação do Sporting.

    Como já foi também referido no início deste trabalho, o próprio Alfenense tem beneficiado com a implantação deste projeto no seu complexo desportivo, não só ao nível de infraestruturas mas também no plano desportivo, já que o trabalho da escola-academia tem sido aproveitado pelas equipas de formação do emblema de Alfena. «No protocolo que celebrámos com o Alfenense comprometemo-nos a emprestar, digamos assim, os nossos melhores jogadores para representarem o clube ao nível das competições distritais da Associação de Futebol do Porto, uma vez que nós, enquanto escola-academia, não participamos em competições, competimos apenas em alguns torneios e convívios com outras academias nacionais e internacionais. E com a nossa ajuda o clube já conseguiu nestes cinco anos dois títulos de campeão distrital de infantis, ficando à frente de clubes como o FC Porto, Boavista, ou Leixões. Recentemente vencemos a Taça José Bacelar, e no escalão de iniciados o clube esteve a competir durante duas épocas consecutivas nos campeonatos nacionais (!), ao lado das melhores equipas da região, como são os exemplos do FC Porto, Boavista, Salgueiros, Leixões, Paços de Ferreira, ou Rio Ave. Aliás, os bons resultados desportivos são uma das consequências naturais do nosso contínuo crescimento que se tem vindo a verificar».

    Refira-se que, ao abrigo deste protocolo, o Atlético Clube Alfenense não pode ter escalões de formação abaixo dos 14 anos de idade, uma vez que entre os 4 e os 14 anos os meninos são captados de forma exclusivamente, digamos assim, pela Escola-Academia do Sporting - Alfena.

    E no cair do pano sobre esta pequena conversa mantida com o nosso jornal, Manuel Sousa confidenciou-nos que a “fábrica de talentos” da Academia de Alfena irá dar mais e melhores frutos num futuro muito próximo, até porque está à “espreita” uma nova fornada de craques “made in Alfena”.

    «Somos uma escola que está aberta a todos, rapazes e raparigas. Temos a fama de que só vêm para aqui os melhores, os mais dotados, o que não é verdade, estamos aqui para toda a gente, para aqueles que sonham em vir a ser um “Cristiano Ronaldo” e para os que apenas querem vir dar uns chutos e divertirem-se, independente das qualidades e capacidades que tenham», rematou o responsável por uma das primeiras 27 escolas-academias que o Sporting abriu no país, um clube especialmente vocacionado para a formação que tem dado – inúmeras – provas de sucesso quer a nível nacional quer internacional.

    E quem sabe se de Alfena não sairá para o próximo grande astro do futebol mundial? Nunca se sabe...

    É esperar para ver!

    Por: Miguel Barros

     

     

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