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    Arquivo: Edição de 15-05-2012

    SECÇÃO: Crónicas


    “CRÓNICAS DE LISBOA”

    Os “Doutores” caloteiros

    Foto ARQUIVO
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    As universidades portuguesas e os seus alunos têm merecido destaque nos noticiários, principalmente os alunos que estão a abandonar os estudos, por dificuldades económicas, e também as dívidas de antigos alunos e de muitos dos atuais. São milhares os devedores e a dívida estima-se em cerca de seis milhões de euros em todas as universidades do continente, desconhecendo-se a situação das congéneres das regiões autónomas. Para isso, estão a acionar os mecanismos legais para a cobrança coerciva das dívidas e respetivos juros, notificando os devedores, e ameaçam anular os cursos àqueles que não as pagarem.

    A atual crise tudo parece “justificar”, mas as dívidas dizem respeito a propinas não pagas e algumas de anos letivos desde 2003/2004, pelo que nalguns casos podem indiciar antes uma atitude típica dos caloteiros que terão protelado os pagamentos, enquanto frequentavam os cursos, e depois de obtido o canudo, partiram para o mercado de trabalho sem terem cumprido os seus deveres de pagarem o que é devido. Esquecem-se que muitos milhares de jovens se veem obrigados a ingressar no ensino superior privado por não terem vagas no público e cujo valor das propinas não é em nada comparável com as que eles deveriam pagar e não o fizeram. É uma forma de reivindicação pelo ensino universitário gratuito? Infelizmente o que é grátis é desbaratado, e nem nos países ricos, por exemplo na Noruega, este grau de ensino é gratuito. Ali, o estudante paga o curso, mas se não tiver dinheiro pagará no final, quando iniciar a vida ativa. Assim deveria ser para todos, embora com ajudas aos necessitados, para que cada um soubesse quanto custa um curso que terá que ser pago pelos nossos impostos. Muitos dos devedores alegaram que desconheciam (!) as dívidas e outros que não têm capacidade para as pagar, e as justificação serão variadas. Por exemplo, a não empregabilidade, por inadequação à realidade, dos cursos que concluíram? Não é difícil acreditar que sim, não só pela crise de emprego, mas também porque muitos dos cursos estão desajustados das necessidades do País. O facilitismo, de que os governos e as universidades têm grandes culpas, tem gerado milhares de diplomados para o desemprego, frustrando as expetativas que alimentaram, mas também pelos custos suportados pelos próprios e por todos nós. Alguns olham a crise como um desafio e, sem o estigma da emigração, partem, indo fornecer de mão de obra, com alguma formação, vários países. Paradoxalmente, há áreas onde o nosso país tem falta de diplomados, normalmente os cursos mais difíceis.

    Não menos grave do que aqueles que concluem os cursos, mas ficam em casa ou andam a penar em empregos precários e/ou de baixa qualificação, são os milhares de jovens que estão a abandonar as universidades por incapacidade financeira. É triste que a seleção seja feita não pelas capacidades e desejos de cada um, mas sim por razões financeiras dos próprios ou suas famílias. Por isso, nalguns países, ninguém deixa de estudar, se for essa a sua vontade e se revelem aptidões para isso, por questões financeiras. Alguma imprensa tem sabido explorar estas situações, dando voz às lamúrias dos fracos que, em vez de arregaçarem as mangas e partirem para a luta, ficam a carpir acusações contra tudo e contra todos. Mas outros entendem que interromper os estudos não é um drama e encontram formas de enriquecer as suas experiências pessoais, interiorizando que na vida só perde quem desiste de lutar. Aliás, essas práticas são muito comuns em países ricos onde os alunos fazem interrupções nos estudos e vão exercer atividades variadas. Por cá e pela típica mentalidade de muitos candidatos a “doutores”, o que interessa é obter um (qualquer) canudo e o mais rápido possível, mesmo que depois fiquem de férias forçadas e a viverem e gozarem à custa dos “velhotes”. Dir-me-ão que eram outros tempos (!), mas obtive dois cursos universitários, públicos, como trabalhador estudante e valeram a pena os sacrifícios.

    Também por estes dias decorrem os espetáculos das queimas das fitas nas semanas académicas e que, infelizmente, não revelam só os lados positivos daqueles jovens a quem, muitos deles, se pedirão desempenhos exemplares e com competência nas suas carreiras profissionais e de cidadania. As imagens que nos chegarão deveriam deixar-nos preocupados com muitos dos seus comportamentos e onde “álcool, sexo e drogas” farão parte dos exageros dessas festas. Para isso eles têm dinheiro para gastar e, muitos desses foliões terão militado nos protestos contra os pagamentos das propinas e da redução das bolsas e apoios! Atitudes e mentalidades que a idade nem sempre pode desculpar!

    Por: Serafim Marques

     

     

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