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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-10-2011

    SECÇÃO: Local


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    NOTÍCIAS DO CENTRO SOCIAL DE ERMESINDE

    JUICE

    No dia 28 de julho de 2011 dei conhecimento ao ISMAI de que não podia fazer este ano letivo. Custou-me muito, tendo em conta que era o local onde me “sentia em casa”.

    No caminho de reconstrução pessoal que iniciei quando fiz o RVCC e usei a minha própria história para perceber quem era e para onde queria ir, ao frequentar a faculdade cheguei a um patamar de aprendizagem diferente e o mais importante foi a sensação, diria que rara, de ter chegado ao topo da minha pirâmide de Maslow, que fui construindo ao longo da vida.

    Lá também encontrei a amizade, a solidariedade e a generosidade suficientes para me darem força a descer essa mesma pirâmide com sabedoria e bom senso necessários para voltar a construir outra, assente em pilares mais sólidos.

    Por tudo o que senti nesta minha passagem por este nível de ensino fiquei com uma opinião, que é a minha - as Faculdades deste País deviam encher-se de alunos com vontade de aprender em ensinamentos passados por professores que gostem de ensinar.

    Penso muitas vezes que se eu tivesse uma Faculdade abriria a porta às empresas para que mandassem para lá as suas pessoas qualificadas, talentos identificados e que levariam consigo a componente prática de uma realidade muitas vezes equidistante das salas de aula, além de que seria também uma forma de importar/exportar know how numa partilha e transmissão de conhecimentos que enriqueceria sabiamente os 3 saberes:

    saber ser,

    saber fazer,

    saber saber.

    Pessoalmente, percebi também que não podia mudar o mundo, que é visto por citações de pessoas que já validaram conhecimentos, mas podia aplicar em mim mesma a mudança de atitude perante a inércia e o conformismo e foi isso que fiz.

    Consciente de uma nova realidade coloquei-me à procura de mais um trabalho em part time para poder continuar a sonhar com uma nova construção de mim própria e encontrei-o: ser comercial porta a porta, uma coisa que eu dizia nunca iria conseguir fazer.

    O produto é a fibra ótica e a empresa que representa este produto é sólida e credível. Na reunião que tive de apresentação deste novo trabalho e quando me perguntaram se queria seguir em frente hesitei, mas lembrei-me do que me tinham dito as técnicas quando nos deram formação para a participação no Speed Recruitement: temos que começar a pensar [de maneira] diferente e encarar as ofertas de trabalho de forma diferente adaptando-nos a novas oportunidades e a novos desafios!

    Aceitei e comecei a receber formação para esse novo trabalho que me fez integrar numa equipa muito jovem e todos sabemos que a juventude leva a uma dinâmica activa e curiosa em relação à sua postura perante a vida. Constatei isso numa sala de reuniões onde recebíamos formação – no grupo de novos colaboradores que integrei éramos 18 pessoas e 17 tinham idades entre os 18 e os 23 anos e depois lá estava eu, com os meus 51 anos.

    Apesar de ser uma das pessoas mais velhas de um alargado grupo de trabalho que é constituído por dezenas de pessoas, senti-me integrada e aceite, ainda mais porque num tipo de atividade destas os colegas, que passam pelas mesmas dificuldades e constrangimentos, têm tendência a criar laços de entreajuda – os fortes apoiam os mais fracos.

    Nesta equipa de vendas existe um “grito de guerra” quando partimos todos para terreno e que é também a saudação quotidiana quando nos cruzamos: JUICE – Juntos Unidos Iremos Criar Entusiasmo.

    Partir para o terreno é ir “bater às portas”, vender e aplicar uma das componentes práticas da formação: teatro de vendas, onde é ensaiado o speech (discurso), que tem que ser o mais próximo possível da perfeição, tendo em conta que o potencial cliente, numa fração de minutos, deve ter conhecimento de todo o beneficio e valor acrescentado que lhe traz este tipo de produto.

    Para mim, teatro de vendas é teatro da vida, porque é isso que somos na vida que percorremos e que é a nossa: atores da nossa própria história. E aqui o papel que desempenhamos é o que nos faz mais sentido quer seja para nós, quer seja para os outros.

    Como atores, o papel principal que nos é atribuído desde a nossa tenra idade é sermos “negociantes” e aqui também aprendemos a ser exímios na nossa arte de impor as nossas ideias – negociamos com os filhos para que comam a sopa, negociamos para que se vistam, negociamos para que tenham boas notas, etc, etc..

    Depois são eles que usam essa arte e mestria quando nos querem pedir algo e sabem lhes vamos dizer não, quando nos querem dar uma notícia que sabemos nos vai contrariar e depois também eles se tornam mestres a negociar com os filhos deles e por aí fora.

    Quer seja na vida pessoal, quer seja no trabalho ou na sociedade, negócio é implícito à própria vida e todos sabemos que a vantagem vai estar sempre do lado de quem dá mais.

    Ao integrar este nova equipa e a conviver de perto com toda esta juventude percebi que as motivações para abraçar este tipo de trabalho são diferentes de uns para os outros – para ajudar os pais, para custear a Faculdade, para ganhar experiência, para ganhar para as suas despesas, licenciados que não encontram emprego, pessoas na procura de uma nova oportunidade de vida, etc. etc..

    Não sei se ficam muito ou pouco tempo neste trabalho, mas uma coisa vejo nestes jovens: não ficam envergonhados em casa e escondidos em padrões estereotipados, não cruzam os braços à espera que a oportunidade lhes apareça no colo.

    Vão à luta numa guerra que é a vida e todos nós sabemos que “quem vai à guerra dá e leva” e para isso é preciso coragem, determinação, persistência e muita garra e eles têm-na!

    Acredito que o meu esforço me dará a competência necessária para este tipo de trabalho onde não sei se também eu fico muito ou pouco tempo mas o que quero mesmo desejar é

    JUICE para todos!

    Aos jovens, de forma especial, pedir-lhes para não se perderem dentro de si mesmos e perseguirem os seus sonhos e porque representam a nova geração, Portugal vai precisar cada vez mais deles, juntos, unidos e com entusiasmo, criando alternativas e adaptando-se às mudanças num País que é o nosso e que irá estar sempre à beira mar plantado!

    Também, neste meu novo desafio uma das ironias da vida é que à noite e na viagem de regresso a casa o metro que apanho é o que diz ISMAI, possivelmente um dos sinais colocados no meu caminho para eu não esquecer a minha grande paixão: aprender.

    Poderia ter sido qualquer faculdade mas foi esta que se cruzou na minha vida e costuma dizer-se que “não há amor como o primeiro”.

    E eu não desisti, só não pude voltar!

    Por: Glória Leitão

     

     

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