A inter-religiosidade debatida e dramatizada
No passado dia 20 de outubro, pelas 21h30, a Agência para a Vida Local dinamizou mais uma teatroconferência, desta feita sobre o tema da inter- religiosidade. Luís Guerra, do Centro de Estudos e Ações Humanistas, foi o convidado para o debate sobre os desafios propostos pela inter-religiosidade, no Fórum Cultural de Ermesinde.
|
Pintura MESTRE DE CAMPANA CASSONI |
Os “Cabeças no Ar e Pés na Terra” interpretaram três textos do seu diretor e comentador na conferência, Hugo Sousa, que serviram de base aos comentários sobre o tema nesta teatroconferência.
A primeira interpretação pôs uma perspetiva científica e uma perspetiva religiosa lado a lado, levantando a dúvida de que será o ateísmo ou o agnosticismo uma forma de estar na religião. As influências que sofremos ao escolhermos uma religião são significativas, frisando Hugo Sousa que, na escrita dos textos, a influência católica que tem foi inegável e reflete-se nas cenas apresentadas. «É um tema difícil de trabalhar sem ser sobre a nossa perspetiva», acrescenta Hugo Sousa.
Para Luís Guerra, a descrença de alguns baseia-se no facto das iluminações religiosas serem revelações feitas a míticos, mas contadas por vezes em segunda ou terceira mão, dificultando a crença nas religiões e num Deus.
Quando levantada a questão sobre um maior desenvolvimento por parte dos países de crença católica/cristã, Luís Guerra relembrou a influência árabe em países como Portugal ou Espanha e como isso os ajudou a desenvolverem-se mais tarde. Mas atualmente, países protestantes nórdicos e o xintoísta Japão são considerados mais desenvolvidos, sobretudo porque propõem valores e ética em desuso nos restantes.
Numa segunda encenação, André Santos encarnou um judeu, cansado de piadas sobre a sua religião e desta lhe ter sido imposta. A ideia de que apenas uma religião está certa, a imposição duma religião e os problemas que levanta uma posição religiosa diferente no círculo familiar foram as questões que mais suscitaram os comentários.
Para Hugo Sousa, a ostracização duma religião é fundada pelo desconhecimento e por acreditarmos que a nossa é melhor, quando não há melhores, mas sim diferentes interpretações dos mesmos textos. «As religiões não se negam, complementam-se», reafirmou-se nesta teatroconferência.
Quanto à opção (ou imposição) da religião, a opinião foi uma: a experiência é o que deve contar quando a escolhemos, bem como o sentimento de paz que esta nos transmite e não apenas a influência familiar para segui-la.
A última cena referia os radicalismos, pondo alguém mais esclarecido em diálogo com uma católica fervorosa e desconhecedora de certas realidades. Hugo Sousa, também autor dos textos, salientou que nem sempre quem segue a religião o faz cegamente, sobretudo os mais velhos, não é sempre porque desconheçam...
O papel da mulher na religião, associado muitas vezes ao pecado e renegada, de principio, até pela forma como é catolicamente descrito o seu nascimento, também foi posto em causa. Estas ideias já não se adequam ao estatuto atual das mulheres. Terminando, Luís Guerra salientou que o mundo seria ainda mais catastrófico sem religião do que o caos atual que é... com ela.
Por:
Sara Amaral
|