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    Arquivo: Edição de 15-10-2011

    SECÇÃO: Crónicas


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    Descer ao piso zero da vida

    Descer ao piso zero da vida é uma realidade a que todos estamos sujeitos e que pode acontecer por fatores externos ou internos que podem surgir na nossa vida – é como se o nosso interior entrasse em colapso, fazendo-nos ir ao fundo de nós mesmos e as lesões que esta queda deixa podem ser, ou não, amortecidas pela retaguarda que às vezes também surpreende cada um de nós.

    Independentemente dos motivos há os que reagem prontamente, levantam-se e caminham sem avaliarem o que correu mal e há os que demoram mais tempo, como foi o meu caso.

    Neste processo não existem “fórmulas mágicas” e há caminhos que cada um tem que percorrer sozinho, dentro de si mesmo, à procura de respostas que possivelmente irão dar lugar a novas perguntas.

    Como só poderei falar de mim, eu precisei de colocar em cima de uma mesa tudo o que tinha sobrevivido ao meu colapso para me erguer: tinha-me a mim, a minha experiência de vida, os meus erros e a minha aprendizagem, as pessoas que foram aparecendo na minha vida a conta gotas e a quem chamo “anjos sem asas” e que ainda estão presentes, atentos às minhas recaídas, parecendo dizer-me: levanta-te e caminha – acreditando, sem cobranças, sem julgamentos e sem penalizações.

    Nesta minha nova caminhada um dos passos que me lembro ter dado foi quando, a medo, me voltei a aproximar da aprendizagem - frequentei uma ação de formação, financiada, no CNO do Centro Social de Ermesinde e numa área em que me sentia deficitária de conhecimentos: Gestão de Stocks.

    Nesta ação de formação foi-nos ensinada a ferramenta essencial a todas as empresas que precisem descer ao seu “piso zero” para se reavaliarem e reinventarem: a análise Swot. Uma ferramenta poderosa para a gestão das empresas e que ajuda a transformar fraquezas em forças e ameaças em oportunidades.

    Poderá dizer-se: isso é para as empresas!

    Eu, por mim, penso que os seres humanos são já de si uma empresa, a maior empresa do mundo e que também procuram a “maximização do seu lucro”, que normalmente é: ser-se criança feliz, ser-se adolescente feliz, ser-se adulto bem sucedido e de preferência também feliz, e ser-se idoso que poderá ficar feliz, ou não, com todo o investimento que se fez em si mesmo ao longo da vida e aqui falamos de sentimento, carinho e dedicação.

    Se aplicarmos a análise Swot a nós mesmos isso ajuda-nos a refletir e identificar o potencial que existe dentro de nós e que muitas vezes está camuflado e nem dele damos conta.

    Aprendemos a reinventar a vida adaptando-nos às exigências deste mundo que gira de uma forma assustadoramente rápida e passamos a ver em tudo uma oportunidade.

    É um exercício prático muito difícil porque apela à nossa isenção, à humildade, a uma abnegação elevada, dispensando tudo o que gostaríamos de ter. E mais difícil do que recalcular uma ginástica orçamental temos que recalcular sentimentos e conceitos que também mudam com o tempo – passamos a ser o que somos e não o que aparentamos ser.

    Depois de fazermos esta análise temos que decidir se avançamos, construindo novas oportunidades, ou ficamos pelo caminho, transformando-nos no “Velho do Restelo”, a personagem criada por Camões que simbolizava os pessimistas e os conservadores e que proliferam no nosso quotidiano.

    A ser verdade diz-se ser de Séneca, escritor, filósofo e pensador, o texto que escreveu no seu tempo - Séc. I, D.C.

    Viver é Correr o Risco

    Rir é correr o risco de parecer tolo.

    Chorar é correr o risco de parecer sentimental.

    Estender a mão é correr o risco de se envolver.

    Expor os seus sentimentos é correr o risco de mostrar o seu verdadeiro eu.

    Defender os seus sonhos e ideias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.

    Amar é correr o risco de não ser correspondido.

    Viver é correr o risco de morrer.

    Confiar é correr o risco de se dececionar.

    Tentar é correr o risco de fracassar.“

    Mas os riscos devem ser corridos,

    porque o maior perigo é não arriscar nada.

    Há pessoas que não correm nenhum risco,

    não fazem nada, não têm nada e não são nada.

    Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões,

    mas elas não conseguem nada, não sentem nada,

    não mudam, não crescem, não amam, não vivem.

    Acorrentadas pelas suas atitudes, elas tornam-se

    escravas, privam-se da sua liberdade.

    Somente a pessoa que corre riscos é livre!

    Passaram 20 séculos e esta ainda é uma realidade pertinente e atual, porque efetivamente viver continua a ser correr riscos e também hoje se encontra cada vez mais gente que prefere ser “nada”, e que vive à sombra dos que lutam e se mexem para conseguir as coisas. Ficam sempre à espera que venha alguém que lhes mude o mundo para não se darem ao trabalho nem sequer de olhar para dentro e pensar, porque se o fizessem encontrariam dentro de si grande parte das respostas.

    José Saramago escreveu: «…Acho que na sociedade atual nos falta Filosofia, falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar e, parece-me que sem ideias não vamos a parte nenhuma…».

    Registo também que um dos grandes ensinamentos que a vida me deu foi não me iludir, olhando para os que supostamente têm tudo porque se calhar esses, quando pensam que estão no último andar do seu edifício e olham os outros bem lá do alto do seu poder, se calhar, se olharem bem para dentro de si iriam perceber que nunca se moveram do patamar zero das suas vidas.

    Aprendi também que devemos estar sempre de “malas feitas” para viajarmos dentro de nós mesmos quando sentirmos necessidade disso, para ajustarmos e fazermos uma manutenção permanente ao edifício que somos todos, como seres humanos e sempre em construção, minimizando ao máximo as falhas no elevador que nos vai levando lentamente para cima, em segurança, para não voltarmos a cair.

    No “Jornal de Notícias” de 10/10/2011 falava-se na sua última página de Rui Nascimento, um lutador, que é cego e foi analfabeto até aos 22 anos. Atualmente está formado em Direito a que acrescentou duas pós-graduações e que deixou no seu testemunho a seguinte mensagem: «O importante é querermos alguma coisa. Quando nós queremos algo nós conseguimos! Porque o nosso querer é superior a qualquer barreira que nos possam criar».

    A esta grande lição de vida adicionei uma outra que me chegou no sábado, dia 8, quando uma mulher de 21 anos, num corpo franzino de menina e que trabalhava lado a lado comigo me falava nos sonhos que quer conquistar para si e me dizia com convicção: «Nós é que fazemos a nossa própria vida».

    É isso aí, “miúda”!, e tu estás a lutar com garra para conseguir isso e só te posso acrescentar o seguinte:

    Aos 51 anos, quando pensamos que a vida nos fechou as portas e já não vamos a tempo eu afirmo que sim, inclusive vamos a tempo até de ser felizes e voltar a ter sonhos em que passamos a estar dentro deles.

    Viver é o risco que vale a pena correr!

    Por: Glória Leitão

     

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