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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 20-09-2011

    SECÇÃO: Arte Nona


    XVII Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu (2)

    Neste número concluímos o resumo do enquadramento das exposições do Salão de Viseu, a decorrer, todas elas dedicadas ao grande tema “Cidades na BD”, resumo esse iniciado no número anterior.

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    (continuação)

    No número anterior já apresentámos as exposições “As Cidades do Velho Oeste (Tex)”, “Cenários Intemporais – Portugal”, e “Fábula de Veneza – Cenários urbanos, mistérios e segredos”. Abordamos agora “ As cidades nas aventuras de Alix”, “Tintin – Hergé”, “ Cidades da ambição – Cenários intemporais”, “2º Centenário do historiador e escritor Alexandre Herculano” e “As Cidades dos Sonhos - (em redor das obras de Schuiten e Peeters”.

    AS CIDADES NAS AVENTURAS DE ALIX

    Em Portugal, nas páginas da revista Tintin, nascia um novo herói da banda desenhada de tema histórico, o jovem Alix. Filho de Astorix, chefe de uma tribo gaulesa, e vendido como escravo no Oriente, no meio do caos dos conflitos bélicos entre impérios, seria libertado e adotado por um senador romano. Doravante, os leitores podiam contar com um herói intrépido, generoso e humanista, num mundo onde a tolerância não abundava. Esse mundo, estranho e fascinante, do qual somos também herdeiros, era o Mundo Antigo na época de Júlio César e do seu rival Pompeu, em pleno século I a.C.

    (...) Jacques Martin, o criador de Alix, falecido em 2010, é um dos grandes autores da escola franco-belga, tendo também sido um dos mais importantes colaboradores de Hergé, pai de Tintin.

    (...) Fascinado desde tenra idade pela Antiguidade Clássica e apaixonado pela arquitetura, Jacques Martin vai fazer viajar o leitor com Alix através de diferentes culturas, aquém e além fronteiras do poder romano, num mundo onde as cidades são elementos estruturantes da vivência política, social e económica.

    (...) Recria cidades antigas, reais e imaginadas de Roma à longínqua China. Na presente exposição seguimos alguns desses percursos urbanos nas aventuras de Alix, dos telhados dos edifícios às ruas, dos aquedutos ao sistema de esgotos, dos bairros populares às grandes praças monumentais. E a aventura começa precisamente numa cidade.

    TINTIN – HERGÉ

    Hergé, pseudónimo de George Remi, nasce no dia 22 de maio de 1907, em Etterbeek (Bélgica). Desde muito cedo revela alguma vocação para o desenho (...). No dia 10 de janeiro de 1929, no número 11 do Le Petit Vingtième, começa a publicar-se Tintin no País dos Sovietes, a primeira aventura de Tintin e Milou, a que se seguirão outras 22, durante quase meio século. (...)

    Numa época em que o acesso à informação era limitado, foi com Tintin e os seus inconfundíveis companheiros que começamos a descobrir o mundo. Foi com Tintin que fomos ao Congo e aos Estados Unidos da América, ao Médio Oriente ou à China. Aos Andes, à Escócia e ao Tibete. Foi Tintin que nos levou à Bordúria e à Sildávia, nos balcãs, e à sul-americana República de San Theodoros, que muitos procurámos encontrar nos mapas, sem sucesso.

    Inebriado por um desenho eficaz, linear e com cores planas e vivas, ao serviço de argumentos progressivamente mais consistentes, conhecemos Chicago, Port Said, Bombaim, Petra, Xangai, Genéve, Katmandou ou as fictícias Klow e Los Dopicos. E foi com Tintin que fomos à Lua, no início da década de 50, muito antes da viagem pioneira de Neil Amstrong.

    CIDADES DA AMBIÇÃO

    – CENÁRIOS INTEMPORAIS

    Os álbuns selecionados para esta exposição marcam um período a todos os títulos notável na evolução da cultura e da mentalidade ocidentais: o período da Renascença Italiana (Renascimento). Os séculos XV e XVI tiveram uma influência determinante na construção da ocidentalidade moderna. A Pintura, a Arquitetura, a Escultura, a Escrita, a Oratória, as Ciências Experimentais e outras áreas do saber tiveram progressos notáveis, onde se distinguiram alguns dos mais notáveis génios que a História já conheceu. Mas este período é também um tempo de crise nas mentalidades e na moralidade cristã, um período de excessos e cisões no seio do catolicismo, que vieram a resultar no aparecimento das igrejas protestantes. É neste ambiente de coabitação dos exageros de cortes papais arrogantes e imorais com a criatividade artística e literária em efervescência que decorrem os cenários e as histórias apontadas nesta exposição. O traço e a arte estão a cargo de alguns dos maiores nomes da banda desenhada europeia da actualidade: Didier Convard e Gilles Chaillet (Vinci) e Milo Manara/ /Jodorowsky (Bórgia). Uma homenagem do GICAV a estes criadores de excelência, merecedores de uma Menção Honrosa neste Salão Internacional.

    NO 2º CENTENÁRIO DO HISTORIADOR

    E ESCRITOR ALEXANDRE HERCULANO

    O ano de 2010 chegou ao fim (e até deixou poucas saudades…). Como comemorações de grandes vultos da nossa Cultura, dois nomes: o desenhista Fernando Bento (1º centenário do seu nascimento) e o historiador e escritor Alexandre Herculano (2º centenário do seu nascimento). Evocando o primeiro citado, as entidades de BD dos Salões de Moura, Sobreda, Viseu, Amadora e Beja não o esqueceram.

    Quanto a Alexandre Herculano, chegou agora a vez de Moura e Viseu relembrarem este gigante da cultura portuguesa, numa exposição em parceria. Alexandre Herculano nasceu em Lisboa a 28 de Março de 1810 e faleceu em Vale de Lobos a 13 de Setembro de 1877. Está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.

    Da grandeza da sua vida e obra não nos compete aqui falar agora, mas apenas da sua conotação à Banda Desenhada, pois vários textos seus foram adaptados à 9ª Arte, a saber : “A Abóbada”, por Fernando Bento, José Batista (Jobat) e Victor Mesquita; “O Bobo”, por José Ruy, editado em álbum pela Editorial Notícias; “A Morte do Lidador”, por Eduardo Teixeira Coelho, publicado na revista “O Mosquito”. Há também uma versão por José Garcês; “Eurico, o Presbítero”, por José Garcês, publicado na revista “Modas & Bordados, na revista “Falcão” e mais tarde reeditado em álbum pela Futura; “Nuno Gonçalves”, por José Antunes, adaptação de “O Castelo de Faria”; “Alexandre Herculano”, uma biografia da autoria de Baptista Mendes, publicada no “Jornal do Exército”; “A Dama Pé-de-Cabra”, por José Garcês e Augusto Trigo; a versão de Trigo, onde o próprio Herculano aparece como narrador, está incluída no 2º tomo de “Lendas de Portugal”, pela Asa. Existe também uma versão, de José Pires, que se mantém inédita até hoje; “O Monge de Cister”, pelo brasileiro Eduardo Barbosa, publicado em 1954 no n.º 80/ extra da coleção Edição Maravilhosa, pela Ebal; “O Último Combate”, por Baptista Mendes, no “Camarada”; “A Morte do Lidador”, numa versão de José Pires, publicada no “Tintin” belga e que será, em breve, publicada pela primeira vez em português no “Alentejo Popular” e, posteriormente, no “Jornal do Exército”. (…).

    AS CIDADES DOS SONHOS (EM REDOR

    DAS OBRAS DE SCHUITEN E PEETERS)

    «A capacidade da Arquitetura construir Cidade é incontornável, e por isso mesmo não deve ser negligenciada: “(…) forma e espaço estão tão intimamente ligados que uma é negativo do outro, e vice-versa, pelo que não podem separar-se, assim as formas visualmente apreendidas mantêm entre si estreitas relações – harmónicas ou desarmónicas – mas de qualquer modo evidentes.” A forma de cada edifício produz, inevitavelmente, repercussões físicas no espaço onde se insere: a massa e o volume concretizam, configuram e condicionam espaço, enquanto a Imagem apenas o caracteriza».

    Assim inicia Inês do Carmo Borges o seu artigo “As arquitecturas setecentistas de Piranesi e a das Cidades Obscuras da BD de Schuiten do século XX – um elo artístico no trajecto do risco urbano”, na Revista Cultura entre Culturas, onde magistralmente aproxima a obra “La Tour” (As cidades Obscuras – Schuiten e Peteers) da obra do arquiteto setecentista Giovanni Piranesi.

    «Os binómios Arquitectura/Cidade e Forma/Imagem que Schuiten apresenta na BD do século XX, com a série As Cidades Obscuras, e concretamente com o álbum “A Torre”, evidencia a Excepção numa crítica à Cidade Moderna, e num processo de colagem de fragmentos sobreviventes de Piranesi. Há uma desmaterialização volumétrica da parte do edifício, e uma imperceptibilidade das suas infra-estruturas, nestes autores relativo às obras citadas. O efeito cenográfico decorrente da estética da Estampa (setecentista) /imagética da BD (contemporânea) é concretizado numa mestria no controle do traço, e do efeito Luz/Sombra. De facto, o seu contributo faz-se pela excepção enquanto ruptura. Schuiten defende em “A Torre” uma Cidade Obscura que não rompe com a História nem com a Cultura, pretendendo assim uma obra que seja referencial, contextual. Os elementos dissonantes e por isso de Excepção de Piranesi tornam-se referências formais reconhecíveis no imaginário da Cidade, que os perdurará numa permanência de “estruturas da memória”.

    Por: AVE/José Carlos Francisco

     

     

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