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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 15-03-2011

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Recepção a Gago Coutinho e a Sacadura Cabral

    Há 89 anos atrás, os portugueses voltaram a estar nas bocas do mundo, graças à primeira viagem de travessia aérea do Atlântico Sul, que ligou a Europa (Portugal) à América do Sul (Brasil), tal como, 422 anos antes, havia feito Pedro Álvares Cabral, só que dessa vez, por mar. Os heróis, desse feito da República, já em fase de decadência, foram os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Seriam recebidos em êxtase pelo povo português, de Norte a Sul. Em Ermesinde também foram homenageados, por iniciativa da respectiva Junta de Freguesia que mais tarde atribuiu o nome de Gago Coutinho a uma das suas artérias.

    A Estação de Ermesinde foi o local onde o povo de Ermesinde homenageou entusiasticamente estes heróis nacionais
    A Estação de Ermesinde foi o local onde o povo de Ermesinde homenageou entusiasticamente estes heróis nacionais
    Pelo retumbante êxito da viagem aérea ao Brasil, em Março de 1922, dos nossos extraordinários aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que impressionou fortemente todo o mundo civilizado, foram-lhe prestadas homenagens em muitos pontos do país, tendo a cidade do Porto, onde os dois heróis nacionais tinham arreigadas amizades, excedido todas as provas de admiração e afecto por esses gloriosos portugueses.

    Recordamos que a viagem começou no Rio Tejo, às 7 horas da manhã do dia 30 de Março de 1922, a bordo do Lusitânia, sob o comando de Gago Coutinho e Sacadura Cabral e tinha como destino final o Rio de Janeiro. Esta aventura histórica era apoiada em mar pelos navios de guerra República, Cinco de Outubro e Bengo. A viagem conheceu várias fases e bastantes peripécias, para assistir os 3 hidroaviões que foram utilizados. Consideram-se, normalmente, apenas 4 etapas: a 1.ª corresponde ao trecho de viagem entre Lisboa e Las Palmas (na Grande Canária) que durou 8 horas e 37 minutos, na qual tudo correu mais ou menos bem. Daqui voaram para Gando (onde hoje se situa o Aeroporto da Ilha) para terem melhores condições de voo; a 2.ª etapa, começou na madrugada do dia 5 de Abril e ligou Gando a S. Vicente (Cabo Verde), demorando 10 horas e 43 minutos; a 3.ª etapa, começou a 18 de Abril, durou 7 horas e 55minutos, já com o percurso pré-delineado ligeiramente alterado por razões de insuficiência de combustível e teve como destino os Penedos de S. Pedro e S. Paulo, já não muito longe da costa brasileira, onde se faria o reabastecimento a partir dos navios de apoio (mas a descida não correu bem e o hidroavião ficou danificado, tendo valido o pronto socorro do cruzeiro República que salvou os pilotos e o equipamento); na 4.ª etapa, o novo hidroavião partiu da Ilha de Fernando de Noronha, na manhã de 11 de Maio, mas os aviadores fizeram questão de voltar a sobrevoar os Penedos de S. Pedro e quando se dirigiam já para a costa do Brasil, o motor parou e tiveram de fazer uma amaragem de emergência (a longa espera por apoio, fez com que o hidroavião se afundasse, uma vez que os flutuadores deixavam entrar água); a 5 de Junho, já a bordo do último hidroavião (o 3.º Fairey, depois baptizado com o nome de Santa Cruz de que dispunha a Aviação Naval Portuguesa, que hoje se encontra no Museu da Marinha, em Lisboa), os destemidos aviadores portugueses, concluiriam a sua grande proeza, com paragens no Recife, Baía, Porto Seguro, Vitória, e, finalmente, Rio de Janeiro, onde amarou no início da tarde de 17 de Junho de 1922.

    Ermesinde associou-se, às homenagens prestadas a estes intrépidos aviadores, ainda a sua viagem estava longe de se concluir. Assim, o Presidente da Junta da Freguesia, José Antero de Sá, na sessão de 30 de Abril de 1922, usou da palavra para enaltecer o brilhante feito dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, «que acabam de empreender o maior raid aéreo até hoje imaginado pelo que são dignos de registo e admiração de todos os portugueses (...) e tanto assim que a Patria os coloca entre os seus filhos beneméritos (...), propõe que a Junta se associe aos festejos populares, promovendo igualmente festejos nesta freguesia, e que do cofre desta Junta se abra a respectiva subscrição com a quantia de 100$00» (Livro de Actas da Junta da Freguesia de Ermesinde, ano de 1922, fls. 11v. e 12).

    No Porto realizou-se uma festa ímpar, quente, arrebatada, onde as flores e as lágrimas não faltaram, de comoção e alegria.

    Talvez os dois arrojados vencedores do espaço não encontrassem no país festa tão calorosa e brilhante.

    Mas, foi da sua passagem pela Estação Ferroviária de Ermesinde, quando os dois heróicos aviadores se dirigiam para Braga para ali receberem manifestações de apreço pelos seus feitos, que o bom povo da nossa terra invadiu a Estação e gritou com entusiasmo: “Viva Gago Coutinho e Sacadura Cabral! Viva! Viva! Viva!”

    Flores, lágrimas, foguetes, provas de indefectível admiração e amizade.

    “O Comércio do Porto” do dia 8 de Dezembro de 1922 referia: «Em Rio Tinto, Ermesinde, S. Romão, Trofa, Famalicão, Nine e Tadim, o povo, o bom povo d’alma simples e cândida que tem a intuição das coisas belas e das acções generosas de heroicidade e patriotismo, veste de gala a fachada das estações, ornamentando-as a capricho e vem, todo alegre, curioso e festivo manifestar aos aviadores que também na sua alma há um recanto emotivo para a compreensão das glórias da nossa terra.

    E todo ele vibra, de comoção espontânea, rompendo em manifestações que são uma verdadeira consagração popular aos aviadores».

    Em 22 de Fevereiro de 1959, quatro dias após a morte do Almirante Carlos de Viegas Gago Coutinho, a Junta da Freguesia decidiu dar o seu nome a uma Rua de Ermesinde, que ainda hoje mantém.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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