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    Arquivo: Edição de 15-01-2011

    SECÇÃO: Música


    Entrevista com o Professor Nuno Rocha

    Natural do Porto e residente em Gueifães, Maia. Já deu aulas na Academia de Música de Paços de Brandão.

    Ensina actualmente Formação Musical no Conservatório de Música do Porto e no Conservatório da Maia, Formação Musical e Classes de Conjunto. É regente de coros, nomeadamente do Coro da AACE - Associação Académica e Cultural de Ermesinde.

    Foto FILIPE CERQUEIRA
    Foto FILIPE CERQUEIRA
    “A Voz de Ermesinde” (AVE) – Quando foi o seu primeiro contacto com a música?

    Nuno Rocha (NR) – Sei que comecei a estudar piano com uma professora particular (Aurélia de Sousa) que ia a minha casa quando eu tinha à volta de 6 anos. Durou até aos 11 anos, altura em que parei.

    Recomecei mais tarde, e mais a sério aos 19 anos. Contudo, nunca abandonei totalmente a música.

    AVE – Tem alguém na família relacionado com a Música?

    NR – Não. A minha avó materna aprendeu a tocar piano, mas foi só.

    AVE – Que cursos tirou/frequentou, dentro e fora da Música?

    NR – Vários. Tirei o Curso Superior de Canto (com a Professora Fernanda Correia, no Conservatório de Música do Porto e de Gaia).

    Cheguei a frequentar durante pouco tempo o Curso de Biologia, curso que não prossegui para me dedicar à música. Ligados à música tirei variadíssimos pequenos cursos: de pedagogia com Jos Wuytack, Pierre Van Hauwe, Rodolf Schingerling. Maria de Lurdes Martins, Teresa Macedo, Jacques Chapuis e outros.

    AVE – Que sonhava ser em criança?

    NR – Queria ser médico, seguir uma tradição familiar. Não entrei por duas vezes em Medicina por uma décima e depois alterei as minhas opções. Quando descobri a música, apaixonei-me!

    AVE – Alguma vez aconselhou ou desaconselhou os seus filhos a seguirem a sua profissão?

    NR – Sempre deixei que os meus filhos seguissem a sua vocação. Ter em casa pais que trabalham na Música acaba por influenciar, mas nunca impus nada! Levei-os a estudar música porque penso que é uma actividade que faz muito bem. O mais velho (o João) também descobriu na Música um modo de vida. Já a mais nova (a Inês) seguiu por outro caminho (Comunicação Social).

    AVE – Como chegou a regente de coros?

    NR – De uma forma natural. Quando comecei a dar aulas em Paços de Brandão, a professora de Coro de lá reformou-se e havia necessidade que ocupar o seu lugar. Acabei por ser eu a tomar conta do Coro pois era eu que dava a Iniciação Musical à maioria dos elementos desse Coro.

    AVE – O que o fascina na arte de ser Maestro/Regente de coros?

    NR – Não me sinto um Maestro até porque a minha formação Académica não é nessa área. Contudo, gosto muito de dirigir Coros, sobretudo de gente jovem. É um prazer sentir que a arte do Canto se desenvolve nessas idades. Sentir que a Música brota por todos os lados.

    AVE – Como chegou a Professor no Conservatório de Música do Porto -CMP?

    NR – Sempre desejei voltar à Casa onde me tinha formado, na qualidade de Professor. Em 1997 abriu concurso público para o preenchimento de duas vagas e eu e mais 23 colegas concorremos. Às provas públicas chegaram 3 (muitos desistiram e outros não tinham habilitações suficientes). Felizmente consegui um desses lugares.

    AVE – E a Professor no Conservatório de Música da Maia -CMM?

    NR – No júri das provas para o CMP estava o Professor Cunha e Silva, que algum tempo depois foi nomeado Director Pedagógico do CMM. Convidou-me para dar aulas de Formação Musical e eu, claro, aceitei. Um ano depois de lá estar, convidaram-me a fazer parte da Direcção Pedagógica, cargo que ainda hoje desempenho. Nestas funções assessorei os Directores Cunha e Silva, Maestro Manuel Ivo Cruz e actualmente o Professor Lino Gaspar.

    AVE – O que lhe fascina na profissão de Professor de Formação Musical?

    NR – O que mais me fascina é a possibilidade de ensinar uma nova linguagem aos meus alunos. Ensinar a ler e a escrever música é algo transcendente.

    AVE – A Música tem ainda segredos para si?

    NR – Eu acho é que ainda não sei nada! A Música é e será um mundo a descobrir…

    AVE – Tem saudades do antigo edifício do CMP (Palacete Pinto Leite)?

    NR – Tenho e não tenho. Explicando: tenho saudades pois era um edifício com carisma, sentia-se música por todos os lados, não havia dúvidas que estávamos numa Escola de Música. Não tenho saudades pois estamos, de facto, numa Escola com muitíssimo melhores condições com as quais sonhámos muitos anos. Se fosse possível juntar as condições que o actual Conservatório possui ao ambiente de outrora, estávamos no paraíso.

    AVE – A sua relação com os Professores tem sido frutífera, para poder haver resultados interdisciplinares?

    NR – Tenho o privilegio de ensinar no CMP, já que se trata de uma Escola de referência e, penso que uma das Escolas com mais tradição no ensino da Música em Portugal. Uma vez que existe o ensino integrado, a relação entre os professores da área musical e os professores das restantes disciplinas tem vindo a ser cada vez intensa. Penso que estes compreenderam que a essência do CMP é a Música e que esta deve ocupar um papel de relevo na vida dos alunos.

    AVE – Que pensa da renovação do corpo docente deste mesmo Conservatório, agora que cada vez mais gente a formar-se nesta área?

    NR – É claro que a juventude é a força do futuro. É importante que haja sangue novo nas nossas Escolas. Mas também é importante que a experiência não seja posta de parte. É necessário que os Professores mais experientes sejam cada vez mais abertos à realidade actual.

    AVE – Como vê o ensino artístico em Portugal?

    NR – Penso que vai relativamente bem. Não tão bem é o facto das decisões superiores estarem entregues a pessoas que não são especialistas em Música. Como diz o ditado: a guitarra quer-se na mão do tocador. Cada vez mais são fechadas as portas a vocações tardias. Quem se lembra de estudar música depois dos 12 anos, encontra imensas barreiras e já nem falo de pessoas como eu que começaram “a sério” aos 19 anos. As denominadas “novas oportunidades” na área da Música são uma miragem…

    AVE – Nesse campo das oportunidades de carreira, o papel dos Conservatórios continua a ser preponderante ou as Academias respondem melhor aos anseios dos pais para a educação dos seus filhos?

    NR – Se compararmos certas Academias ou Conservatórios particulares com as Escolas oficiais, vemos que cada vez se parecem mais no aspecto pedagógico. Os pais, hoje em dia, procuram mais as Escolas Oficiais principalmente pelo factor económico já que na vertente pedagógica a opção não será tão evidente. Os alunos mais velhos encontram mais depressa resposta no meio particular pois o ensino público tem vindo, infelizmente, a fechar-lhes as portas. Quem não tiver meios económicos saudáveis, não consegue estudar Música!

    Por: Filipe Cerqueira

     

     

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