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    Arquivo: Edição de 28-02-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    A participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial

    Portugal viu-se forçado pelas circunstâncias internas e externas a participar na 1ª Guerra Mundial, no continente africano (para defesa das suas colónias invadidas por forças alemãs) e europeu (Frente Ocidental). Esta participação, porém, agravou sobremaneira as condições económico-financeiras da República, obrigando Portugal a endividar-se, a conhecer uma enorme taxa de inflação, desvalorização do escudo e a viver uma instabilidade política sem precedentes (entre 1918 e 1926, houve 30 governos!), que esteve na origem da Ditadura Militar que poria fim ao regime e a todos os seus sonhos. Ermesinde participou, como todo o país, neste esforço de Guerra.

    90 bandeira de outros tantos regimentos do CEP (Corpo Expedicionário Português) a entrar no Mosteiro da Batalha, local onde se encontra o túmulo do "soldado desconhecido" - monumento à memória de todos os soldados portugueses mortos na 1ª GM
    90 bandeira de outros tantos regimentos do CEP (Corpo Expedicionário Português) a entrar no Mosteiro da Batalha, local onde se encontra o túmulo do "soldado desconhecido" - monumento à memória de todos os soldados portugueses mortos na 1ª GM
    A 1ª Guerra Mundial foi provavelmente o evento político-social que mais contribuiu para a decadência e definitiva queda da Primeira República Portuguesa. Portugal era uma das três repúblicas europeias então existentes (as outras duas eram a França e a Suíça) e importava, no contexto europeu e até mundial, ver reconhecida, pela comunidade internacional, a seriedade do regime português pouco antes implantado. As outras razões que sentenciaram a entrada portuguesa na Guerra foram a convicção de que a participação no conflito mundial, ao lado dos vencedores (Aliados), garantiria ao nosso país a manutenção das nossas colónias e o facto de sermos aliados da Inglaterra, um dos países em Guerra.

    Não se pense, porém, que todos os portugueses, mesmo os que se diziam republicanos, eram favoráveis à intervenção de Portugal na Guerra, porque não eram. Algumas destacadas personalidades portuguesas, mesmo militares, não defendiam a participação portuguesa. É o caso, como à frente veremos, de Sidónio Pais.

    Mas os partidos republicanos que apoiavam o Governo estavam convictos que Portugal teria muito mais a ganhar entrando na Guerra, do que ficando a assistir, impávido e sereno, ao rumo dos acontecimentos. Nem os republicanos podiam tomar tal atitude, que tanto tinha criticado aos decrépitos governos monárquicos.

    Assim, tomada a decisão e à semelhança do que aconteceu um pouco por todo o País (cerca de 200 mil homens portugueses foram recrutados para esta Guerra), também muitos jovens de Ermesinde foram mobilizados para o 1º conflito mundial que grassou na Europa (e noutras partes do Mundo) entre 1914 e 1918. Pelos dados existentes estima-se que terão morrido 7 mil portugueses, e muitos milhares regressaram feridos e outros ficaram doentes no imediato pós-guerra.

    UM DOS

    EX-COMBATENTES

    ERMESINDENSES

    FICOU DOENTE

    LOGO APÓS

    O SEU REGRESSO

    DA GUERRA

    foto
    Um desses soldados regressados, ficou doente em resultado da guerra, talvez por causa dos gases que eram lançados sobre as trincheiras do exército aliado e precisou da ajuda do poder público.

    A Junta da Freguesia, na sua sessão de 18 de Julho de 1920, deliberou ter em consideração o requerimento do cidadão Manuel Carneiro Real, ex-combatente do Corpo Expedicionário Português, morador na Palmilheira, que provou viver nas mais precárias circunstâncias, em virtude da doença contraída ao serviço da Pátria. A Junta deliberou conceder-lhe um donativo de 15$00 pago de uma só vez (cf. acta da Junta da Freguesia, desta data, fl. 93v.).

    No Mosteiro da Batalha, existe uma placa comemorativa do 3º aniversário da Batalha de La Lys, dedicada aos valorosos soldados portugueses da Grande Guerra, que se bateram naquela trágica batalha de 9 de Abril de 1918, e que foi mandada gravar pela Junta da Freguesia de Ermesinde.

    O Major Sidónio Pais exerceu o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros em Berlim entre 1912 a 1916 e talvez, por isso, era contra a participação portuguesa na Guerra contra os alemães.

    Em 1918, quando chegou ao poder, logo como Presidente da República, Sidónio Pais governou o país com um certo autoritarismo envolvido num estranho populismo, em que alguns vêem um ensaio do que mais tarde seria o salazarismo. Muito provavelmente pela falta de apoio que deu aos soldados portugueses na Guerra, foi assassinado por um ex-combatente ficando Portugal numa situação particularmente difícil, em que a Monarquia chegou a ameaçar voltar ao poder.

    Perante a morte do Presidente da “República Nova”, a Junta da Freguesia de Ermesinde, naturalmente sidonista, deixou exarado em acta, referente à reunião do dia 15 de Dezembro de 1918, o seguinte voto:

    «Usando da palavra o Senhor presidente, que, com eloquentes palavras silvantes de Justiça e patriotismo, se referiu ao luctuoso acontecimento, significando o sentimento d’esta Comissão pelo nefando crime; pediu que fosse exarado em acta um voto de profundo pezar pela morte do Senhor Presidente da República, lavrando o seu veemente protesto contra tão covarde attentado que enlutou todo o paiz e que fosse enviado um telegrama ao novo Senhor Presidente da Republica apresentando sentidas condolencias que foi aprovado».

    Oito dias depois, a Comissão Administrativa da Junta da Freguesia de Ermesinde reunia extraordinariamente apenas para deliberar sufragar «a alma do Snr. Dr. Sidonio Paes, chorado Presidente da Republica no proximo dia 26, ás 10 horas, n’esta egreja paroquial, convidando os paroquianos d’esta a abrilhantar o acto funebre com a sua assistencia e findo este distribuir-se algumas esmolas pelos pobres».

    Finda a Guerra, começou a tratar-se da Paz. A Delegação Portuguesa à Conferência de Paz foi primeiro presidida pelo Prof. Egas Moniz, e, a seguir, pelo grande estadista republicano que foi Afonso Costa. A este último enviou a Junta da Freguesia de Ermesinde o telegrama com o seguinte conteúdo: «Presidente Delegação Portuguesa á Conferência de Paz. Junta Freguesia de Ermesinde associa-se reclamações interesses portugueses e aplaude atitude de V.ª Ex.ª; a Mr. Clemenceau, Presidente do Ministerio Francez».

    Poucos dias depois, chegou a resposta de Afonso Costa agradecendo as felicitações e cumprimentos que lhe haviam sido dirigidos da parte da Junta da Freguesia de Ermesinde, por telegrama (cf. actas da Junta da Freguesia de Ermesinde de 1 e de 29 de Junho de 1919).

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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