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    Arquivo: Edição de 30-04-2008

    SECÇÃO: Cultura


    ÁGORARTE ORGANIZOU MAIS UM PASSEIO PELA HISTÓRIA

    “…De Ermesinde a Terras de S. Vicente, passando por S. Bartolomeu”

    Cumpriu-se no passado dia 5 de Abril, mais um passeio pedestre – o sétimo – organizado pela associação cultural Ágorarte, sedeada em Ermesinde. Mais de três dezenas de pessoas acompanharam o percurso orientado, como é habitual, por Jacinto Soares, desde o Fórum de Ermesinde até Terras de S. Vicente (Alfena). Na passagem pelo Largo de António Taborda, primeiro ponto de paragem, Jacinto Soares falou deste ilustre benemérito ermesindense que, para além de ter dedicado a sua vida ao desenvolvimento da freguesia, concorreu também para a construção das escolas primárias do Carvalhal e da Bela consideradas, ao tempo, como os “liceus” de Ermesinde.

    A Travessa de Ribeiro Teles, outrora conhecida pela Quelha do Ambrósio foi a pausa seguinte. Dois pontos de referência mereceram a atenção dos caminhantes; de um lado as ruínas da Fábrica de Fiação e Tecidos de Sá, fundada no início do século XX pelo industrial Manuel Pinto Azevedo e por Amadeu Vilares Soares, que foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia de Ermesinde, ao tempo da I República.

    RESTOS DA

    ARQUEOLOGIA

    INDUSTRIAL

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    Esta fábrica começou a laborar com 255 trabalhadores (155 homens e 100 mulheres), os quais beneficiavam já então, de um invulgar conjunto de apoios sociais aos trabalhadores, tais como uma cooperativa, uma panificação e uma cantina. Nas décadas de 60 e 70, em plena época de expansão do sector têxtil, esta unidade chegou a dar trabalho a centenas de operários de ambos os sexos.

    O terreno, hoje praticamente abandonado, já conheceu vários projectos de urbanismo, e até um outro para a construção de uma escola, mas a frontaria, voltada para a Rua Ribeiro Teles, não o permitiu, por o edifício ser classificado como património a preservar.

    Do outro lado situa-se uma das maiores e mais bem conservadas propriedades agrícolas de Ermesinde, conhecida pela quinta do Ambrósio.

    Um pouco mais adiante, no lugar de Alpendurada, concentra-se um acampamento cigano. Por ali passa o rio Tinto, que nasce nos Montes da Costa e vai desaguar no rio Douro.

    Ali existe também uma nascente de água, que alimentava a zona agrícola do centro de Ermesinde, bem como várias minas, uma das quais no Lugar de Chãos, cuja etimologia é terra chã, plana, do latim planu.

    Segundo Jacinto Soares, os lavradores utilizavam estes mananciais de água para demolhar o linho. Eram os chamados aguadouros, popularmente conhecidos por “ougadouros”.

    A LENDA

    DA PRINCESA

    SUSANA

    foto
    Antes de chegar ao Alto de Valongo, o grupo circulou pelo sopé da chamada Serra da Mulher Morta. Lá no alto, o marco geodésico do Monte da Vela, assim conhecido por ter sido local de vigia, servia para delimitar os extremos das freguesias de Ermesinde e Rio Tinto, estabelecidos por decreto real de 24 de Dezembro de 1903.

    Do Alto de Valongo, os caminhantes dirigiram-se para Susão, local de grande relevância na história de Valongo. Jacinto Soares explicou que nos forais surgem várias referências a Valongo da Estrada, Valongo de Baixo e Valongo de Cima. Seja como for, sempre existiram grandes diferenças sob o ponto de vista histórico e cultural, entre Susão e Valongo. Conta-se ainda que Susão terá tido origem numa lenda que se refere à existência de uma princesa muçulmana, de seu nome Susana, que se enamorara de um cristão.

    VESTÍGIOS

    ROMANOS

    foto
    Daqui, Jacinto Soares encaminhou o grupo para o lugar de S. Bartolomeu, onde existe uma ermida com o nome do santo. Essa capela, que foi palco de algumas iniciativas da população local para que Susão se tornasse independente, aparece inscrita no catálogo dos bispos do Porto de 1600. O seu púlpito, curiosamente instalado no exterior, tem uma inscrição datada de 1733, que provavelmente corresponderá ao ano em que foram introduzidos melhoramentos ou obras de restauro no templo, que durante muitos anos serviu de local de culto de muitos fiéis que ali se deslocavam em peregrinação. No aprazível espaço que circunda a ermida, Jacinto Soares, citando o padre Joaquim Alves dos Reis, na sua Monografia de Valongo, referiu que ali se faziam festas em 24 de Agosto, pois os montes envolventes foram, até ao século XVIII, excelentes locais de caça e preferidos pelos caçadores que ali realizavam grandes encontros venatórios.

    Uma das maiores curiosidades deste templo é a epígrafe em granito, que está incrustada no exterior de uma das paredes laterais. Trata-se de uma inscrição latina, que os especialistas supõem ter cerca de dois mil anos, mas cuja data e origem não foi ainda identificada com total exactidão, embora se atribua, naturalmente, ao período romano.

    Já na parte final do percurso, houve ainda tempo para uma vista de olhos aos engenhos de água existentes em Alfena.

    Por: Álvaro Mendonça

     

     

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