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    Arquivo: Edição de 15-01-2008

    SECÇÃO: Editorial


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    Direito à diferença, na cultura, como na vida...

    É difícil numa sociedade global, em que prevalece a lei do mais forte, compreendermos as posturas e as formas de vida das minorias. Sempre colonizamos e fomos colonizados.

    Quem tem poder acha-se no direito de impor as suas regras, de pensar pelos outros, sempre convencido que está a fazer o melhor, a "ajudar as pessoas" mesmo que elas não queiram. Confunde-se muitas vezes o papel pedagógico, de quem tem obrigações para isso, com uma aparente ingenuidade, de quem tem o poder para decidir o que é melhor para os outros.

    Nem tudo na vida se pode analisar pelos custos, sejam eles políticos, económicos ou sociais. O ser humano deve, tem de ser visto na sua totalidade e respeito. Por muito que eu não goste, que eu não entenda, nada justifica a arrogância, o desprezo pelo trabalho do próximo.

    Dei comigo a pensar nestas coisas pela dificuldade que tenho em entender determinadas posturas, de pessoas e amigos que quando ligados ao poder, mesmo que esse poder seja insignificante, se sentem senhores da verdade, únicos no seu pensamento e acções, capazes de decidir por mim, mesmo que eu não queira, arrogando-se a missão de que estão a olhar e a proteger-me.

    Não entendo uma sociedade sem diálogo, ninguém cumpre bem se não perceber o que está a fazer.

    Por outro lado este tipo de postura contribui para o desenvolvimento de uma casta de carneiros, obedientes, oportunistas, que são capazes de aceitar as maiores humilhações para um dia atingir o tão famoso poder onde se vingarão de tudo o que lhes fizeram.

    Depois é preciso usar sempre, mas sempre, o politicamente correcto, nem que aquilo que eu disse, o que eu fiz ontem, tenha que ser negado amanhã.

    Torna-se cada vez mais difícil desenvolver qualquer trabalho social ou cultural por grupos ou pessoas que não tenham capacidade de influenciar o poder, que não estejam na corrente.

    Mas será mal ser assim, não foi sempre assim?

    Claro que faz mal, claro que ficam pelo caminho muitos potenciais humanos capazes de marcar a nossa vida com novas energias, com criatividade e com paixão.

    Já uma vez aqui referi que o trabalho não é um castigo, ele será um prazer quando feito com paixão, quando cada um de nós acredita nas suas capacidades, é reconhecido e dá o seu melhor. Não pode haver mudança, crescimento se a engrenagem, de que todos fazemos parte, não souber para onde vamos, o que estamos a fazer, porque temos que ter determinado ritmo, qual o papel de cada um nesta cadeia, o que é que eu sou, qual a minha importância.

    Por outro lado é preciso acreditar na diferença e no que essa diferença pode alterar na monotonia, criar energias reprodutoras e inovadoras, criar oportunidades de crescimento, de memórias culturais, de saberes alternativos.

    Acredito que o nosso crescimento, a nossa afirmação no mundo, não se vai pautar por cópias, por indivíduos treinados a seguir a corrente conforme sopram os ventos, mas por aqueles que acreditam no que fazem, que são coerentes, que não procuram os ganhos fáceis daqueles que não olham a meios para atingir os fins. Seres pensantes, capazes de percorrer caminhos tortuosos, mas que têm ideais de vida, que acreditam no que fazem e fazem-no com paixão, nem que para isso lhes chamem marginais.

    Por: Fernanda Lage

     

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