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    Arquivo: Edição de 15-09-2006

    SECÇÃO: Tecnologias


    Software livre: uma questão de igualdade

    Estava a ler umas notícias sobre o Congresso Internacional de Software Livre em Curitiba (um evento bárbaro, uma experiência e tanto!), quando uma coisa chamou a atenção do meu lado feminista. Era a entrevista de Pia Smith, presidente do Linux Austrália, fazendo uma apresentação da palestra que viria a fazer, “Software Livre é coisa pra Macho! As Mulheres e o Software Livre”. Ela afirmava que na Malásia, 45% dos profissionais de informática eram mulheres. Hã?

    Enviei um e-mail para ela, que se revelou extremamente simpática e acessível. Ela infelizmente não pôde vir ao evento, devido a uma cirurgia de emergência, o que me deixou muito triste. Que me desculpem os GNUs de plantão, mas para mim, Pia Smith é para as mulheres da comunidade o que Stallman é para o Software Livre. Mas continuou trocando e-mails, e me enviou o site onde mostrava isto: (http://www.unu.edu/unupress/unupbooks/uu37we/uu37we0k.htm). Como é que isto aconteceu? Como conseguiram? A resposta é tão simples que chega a ser óbvia: educação. A base de tudo, a base que diz o que será de um povo. A Malásia sabe o que quer.

    O Governo da Malásia, em 1986, implantou um projecto chamado Computadores na Educação. Isto faz parte da estratégia de se tornarem um país desenvolvido até o ano de 2020, e a informática é um dos focos deste objectivo. A motivação deles era recuperar-se economicamente, depois de uma forte queda na produção agrícola. Então era preciso profissionalizar, e ter informática na educação foi uma das decisões.

    Junto à introdução de computadores nas escolas, foram apoiados clubes de estudos nestas escolas. Em 1990 existiam 34 493 estudantes participando destes clubes, embora este número seja apenas 1,4% dos estudantes do país. Nestes clubes, meninas eram metade, ou seja, existia igualdade. Clubes similares começaram a surgir também nas escolas secundárias, e serviram para 5% da população escolar. Novamente, metade dos estudantes eram mulheres. Isto gerou uma reacção em cadeia. Escolas particulares adoptaram o mesmo modelo, e incluíram computadores e criaram clubes para os estudantes. Surgiram mais e mais cursos específicos de computação, de programação, análise de sistemas. As faculdades seguiram a mesma tendência e abriram mais cursos superiores na área. E em todos eles as mulheres eram metade.

    Em 1990, segundo esta mesma pesquisa, 45% dos profissionais na área eram mulheres. Isto de forma geral. Em algumas áreas, elas eram 65%, como análise de sistemas, enquanto em cargos de gestão eram 38%. Esta mesma pesquisa mostrava que isto continuava a crescer. E um facto que nos mostra mais ainda como temos uma visão distorcida dos factos reais, é que a Malásia é um país muçulmano, que se julga extremamente machista pelas acções de grupos minoritários. Embora eu não concorde com todos os preceitos, nesta área dão um exemplo de respeito as escolhas de todo independentes de sexo.

    Que lição podemos tirar disto? Que as malasianas têm uma genética diferente que as faz serem atraídas por computadores, enquanto noutros países as mulheres são “normais”? Ou esta “normalidade” é que não é natural? Porque aceitamos como natural um comportamento que é moldado?

    Já li e tentei divulgar muitas causas deste comportamento. Temos diversos exemplos de mulheres que foram contra todos os obstáculos e se afirmaram como profissionais. Ainda hoje temos a cada dia de provar o nosso valor. Pois ainda tenho esperança em que um dia isto será realidade em todos os lugares. Em que sejamos metade da comunidade, e que não exista mais a frequente pergunta: “Porque existem tão poucas mulheres trabalhando com GNU/Linux?”.

    E o que isto tem a ver com Software Livre? Vejamos, sabe quanto é gasto em licenças pelo Governo? Sabe quantos computadores isso poderia representar? Quantos cursos de actualização poderiam ser feitos para os professores? Software Livre é mais que uma questão de eficiência e redução de custos. É uma questão de soberania, de responsabilidade. E de igualdade.

    Por: Sulamita Garcia *

    * Sulamita é programadora de software libre e actualmente a responsável pelo grupo LinuxChix Brasil.

     

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