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    Arquivo: Edição de 30-07-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    MATAI-VOS UNS AOS OUTROS

    A Globalização e a União Europeia (III)

    Na minha modestíssima opinião, ao contrário do que aparenta, a Globalização Económica não é um simples fenómeno surgido como resultado do avanço das técnicas de comunicação e da informática, nem é uma mera fase do percurso evolutivo da Humanidade. Embora se considere um aproveitamento do avanço tecnológico e do contexto político mundial, não é obra do acaso mas antes obra bem estudada e premeditada. É um processo, é uma acção arbitrária, é um desígnio antigo do grande capital transnacional, que visa o domínio mundial agora pela via da dependência financeira...

    A Europa das Nações começa a ser desmantelada para dar lugar à Europa das Regiões da UE. As tradições, o artesanato, os usos e costumes passam a folclore, são metidos nos museus e a american way life, a maneira de viver à americana é a forma moderna de estar na vida em que a livre concorrência é inquestionável. O mundo fica dependente do grande capital, dos banqueiros, dos detentores da moeda e nada se faz sem eles, é uma obsessão. As fronteiras são abertas à livre circulação de capitais, pessoas e bens graças ao Multilateral Agreemente of Investment (MAI) (Acordo Multilateral de Investimento) conduzido pelo Council for International Business (CIB) dos Estados Unidos, que se vai sobrepor às leis nacionais, na regulação do comércio internacional, dando origem a restrições que põe em causa o direito de defender a indústria nacional e os seus produtos. Tal como a OMC, o FMI, o BM, a OCDE, a Comissão Europeia (CE) tornam-se assim instrumentos da Globalização. Para o grande capital transnacional, a UE é apenas um Bloco Económico com grande capacidade de investimento e de consumo, desenhado à medida dos interesses da globalização de raiz neoliberal. Definição dada pela administração Bush. Atente-se que a China é mais simplista, ao considerá-la apenas um contrapeso. Eu diria que é antes um instrumento uniformizador da política económica das nações que a integram, de forma a harmonizá-la, num plano global, com o resto do mundo ou seja com o Processo de Globalização Económica em Curso (PROGLOBECO), obtendo-se uma sociedade económica e politicamente monocórdica, tão necessária ao processo.

    Outros blocos económicos já formados nas Américas e enfeudados aos Estados Unidos: a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), a NAFTA (Acordo do Comércio Livre da América do Norte), a ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), a CARICOM (Estados da Comunidade Caribenha), AEC (Associação dos Estados das Caraíbas), a MCCA (Mercado Comum Centro Americano), a CAN (Mercado Comum Andino), a MERCOSUL (Mercado Comum do Cone Sul ou América do Sul). Todas estas “molhadas” de países com tendência para se unirem ainda mais com uma política económica comum, neoliberal pois. Enfeudada à Rússia temos a CEI (Comunidade de Estados Independentes) que formavam a URSS. O Médio Oriente em guerra também visa a formação de comunidades deste tipo, a Índia, o sudeste e sudoeste Asiático balançam entre as grandes potências China, USA e Japão embora a Índia pretenda afirmar--se como potência que é. Muita guerra económica se vislumbra ainda no horizonte negro ou azul da Humanidade, pois alguns reagentes começam a surgir. A ALBA (Alternativa Boliviana para as Américas), de Evo Morales a que aderiram Hugo Chavez e Fidel Castro (o chamado eixo Havana-La Paz-Caracas), que se pretende alternativa à ALCA, o projecto americano acima referido.

    Algumas das condições necessárias e imprescindíveis para formar estas comunidades é a abertura dos mercados ou seja livre circulação de capitais, pessoas e bens, fomentar as privatizações e a abolição do proteccionismo. Isto permite, aos grandes grupos transnacioonais, explorarem as riquezas de todos os países integrados ou até sugá-los se puderem, pois as portas são franqueadas em nome duma concorrência quase sem limites.

    Tudo que era direito natural duma pessoa, como o espaço e a água já está a ser explorado por empresas privadas, só falta o ar que respiramos. A água, dantes um bem gratuito e abundante, hoje explorada em muitos países pela Compagnie des Eaux, uma multinacional que integra muitas empresas privadas de distribuição pública de água e que a privatização dos serviços municipalizados de muitas Câmaras do nosso país, lhe abriu as portas para explorar um bem essencial que era nosso e passou a ser mundial ou global. E essa multinacional quer lucros e muitos, para distribuir aos seus accionistas franceses e mundiais. Que vantagem nos traz isto? Será que as companhias francesas nos deixam lá ir, explorar a água deles? Creio que criariam grandes entraves.

    Assim, ao contrário do que aparenta, a Globalização Económica não é um simples fenómeno surgido como resultado do avanço das técnicas de comunicação e da informática, nem é uma mera fase do percurso evolutivo da Humanidade. É um fenómeno especulativo que, embora se aproveite do avanço tecnológico e do contexto político mundial, não é obra do acaso mas antes obra bem estudada e premeditada. É um processo, é uma acção arbitrária, é um desígnio antigo do grande capital transnacional, dos grandes grupos financeiros, que visa o domínio mundial agora pela via económica e da dependência, transformando o globo num grande mercado mundial dividido em blocos económicos que, criando dependências financeiras pela necessidade de investimentos para atingir uma sociedade padronizada com níveis aliciantes de qualidade de vida e bem estar material, levam à dependência do consumismo que sustenta a rentabilidade do investimento, privilegiando os detentores do valor virtual da finança. Em suma, visa a dependência total da Humanidade aos grandes grupos financeiros que, para tal, lhe tiram os meios próprios de subsistência.

    Analisemos o que está a acontecer com a destruição progressiva das economias e meios de subsistência familiares, agricultura, pescas, pequeno comércio e indústria, artes e ofícios, substituídos pelos produtos fabricados pelas multinacionais e distribuídos pelas suas grandes superfícies. O saber de séculos ou milénios, transmitido de pais para filhos ou de mestre para aprendiz, que garantiu a independência económica dos povos, desde tempos imemoriais, está a perder-se. No nosso país, é já evidente.

    A Globalização Económica protagoniza assim o ciclo diabólico das dependências ao investimento, produção e consumo, capaz de criar submissões de povos e nações aos desígnios do grande capital. O seu equilíbrio consiste ainda na dependência mútua entre capital e o trabalho mas o capital tem as armas e a tecnologia do seu lado, que cada vez dispensa mais mão de obra e vai seleccionando elites de colaboradores cada vez mais restritas que também garantem o consumo selectivo. É a lei do funil, pois a riqueza é cada vez mais escassa e não chega para todos.

    O problema é o perigo destas elites integradas no Ciclo Económico formarem um Estrato Social dominante, remetendo os não integrados (os actuais desempregados) para um mundo de marginais excedentários sujeitos a condições de vida degradantes, muito próximas da escravidão e a quem seriam negados os direitos mais elementares.

    O desemprego crescente, a falta de poder e de recursos próprios, obrigá-los--ia a aceitar as tarefas mais indignas, num mundo em que os recursos naturais estariam cada vez mais limitados. É este possível cenário que leva muitos a falar num possível regresso à Idade Média em que as guerras entre os potentados serão económicas e não territoriais, mesmo dispondo de tecnologia de ponta, aliás como já se vê na literatura, filmes de ficção e jogos virtuais. Da ficção à realidade, actualmente, o caminho não é longo.

    A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tem aqui um papel fundamental na promoção da sociedade-padrão aliciante (isco) assente no consumismo que leva à grande dependência financeira pela necessidade constante de investimento e também pelo apoio logístico dado ao processo. Ainda há pouco tempo (JN de 12//3/05, pág.16), pedia menos Estado, mais liberalismo e mais flexibilização das leis laborais (facilidade de despedir), para fomentar o investimento. É assim que todos os instrumentos trabalham, bem articulados, para destruir o Estado Social e criar dependências financeiras.

    Tudo isto leva a pensar que a defesa da independência e diversidade dos povos volta a ser a defesa dos grupos, famílias, tribos, clãs e nações ou grupos de nações que se bastem a si mesmo e que se desalienem da armadilha da sociedade-padrão que lhe estão a impor. Será a única protecção contra os perigos da onda globalizadora e massificadora mas obriga também a grandes sacrifícios e renúncias.

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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