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    Arquivo: Edição de 15-07-2006

    SECÇÃO: Crónicas


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    MATAI-VOS UNS AOS OUTROS

    A Globalização e a União Europeia (II)

    Na minha modestíssima opinião, ao contrário do que aparenta, a Globalização Económica não é um simples fenómeno surgido como resultado do avanço das técnicas de comunicação e da informática, nem é uma mera fase do percurso evolutivo da Humanidade. Embora se considere um aproveitamento do avanço tecnológico e do contexto político mundial, não é obra do acaso mas antes obra bem estudada e premeditada. É um processo, é uma acção arbitrária, é um desígnio antigo do grande capital transnacional, que visa o domínio mundial agora pela via da dependência financeira...

    Globalização é o vocábulo que mais se pronuncia, mesmo por aqueles que não sabem o que significa. A dinâmica é unir, uniformizar e globalizar num mundo aberto, sem fronteiras, dividido em blocos económicos. O globo transforma-se numa Aldeia Global com a ajuda do grande avanço das técnicas de comunicação e da informática. A World Wide Web (WWW), a Internet é a larga via de ligação instantânea. Tudo fica agora mais perto e já não há fronteiras que possam deter este avanço que é bem aproveitado pelo grande Capital, pelos grandes grupos financeiros transnacionais que vêem agora a grande oportunidade de pôr em prática o velho sonho da Globalização Económica e da implementação do grande Mercado Mundial sem fronteiras, onde o neoliberalismo crescente e a Economia de Mercado imponha a sua lei como expoente máximo da modernidade, duma sociedade moderna.

    A globalização cultural anglo-saxónica já vem de trás. Inicia-se a partir da Primeira Guerra Mundial com o avanço da tecnologia norte-americana e inglesa mas acentua-se principalmente a partir dos anos vinte com a expansão do cinema de Holywood. A América fica na moda, o mundo anglo--saxónico fica na moda com o cinema, as estrelas de Holywood, a fábrica de ilusões, a saga do West americano, os índios e cow-boys, os heróis da banda desenhada, os grandes e confortáveis automóveis americanos (os espadas), a sua trepidante e universal música de jazz, as invenções, os arranha céus das grandes cidades, Nova Iorque, a Bolsa de Wall Street, a Broadway, os polícias e os gangsters famosos, as excentricidades, as americanices, a maneira descontraída e desinibida de estar na vida, à americana, como se dizia Uma série de futilidades, dirão muitos, mas que inebriam e entusiasmam a juventude a partir dos anos trinta.

    Tudo isto sai reforçado com a vitória anglo-saxónica na II Guerra Mundial e com o Plano Marshall que leva a ajuda económica e financeira necessária à reconstrução europeia no pós guerra e, mais tarde, com a exploração espacial disputada entre os americanos e os russos. Dos blues, dos Swings e dos booggie-wooggies, sai, nos cinquentas, o Rock and Roll do Presley, de Bill Halley, Jerry L. Lewis, Chuck Berry, que evolui, nos anos sessenta, com os Beatles para a música pop e para a paranóia do rock moderno da pesada com os Stones, os Animals, os Monkeys, os Eagles e outros conjuntos da época. Nasce assim um símbolo da globalização anglo-saxónica, a música Rock, a música da globalização que une os jovens de todo o mundo que cantam em inglês, juntamente com o scotch, a Coca ou Pepsi Cola, os Mac Donald e a fast food dos hamburgers, hot dogs with fits, comida rápida ou de plástico, que se espalha pelo mundo. Até as longas limousines (limusinas) americanas, usadas pelos milionários e gangsters, cá chegaram, para ostentar e exibir, como mais uma etiqueta da nova classe consumista emergente que vai sustentar o grande mercado.

    A juventude globalizada é igual em todo o mundo, passa a usar brinquinho, piercings e tatuagens por todo o corpo, boné de basebol tipicamente americano, muitas vezes virado às avessas e macaqueia tudo o que vem do lado de lá do Atlântico. Os motociclistas passam a ser motoqueiros ou motards. Andam em bandos, cheios de berloques e atavios; usam lencinho à pirata, na cabeça e adoram as Harley Davidson. Só não partem ainda a louça nos bares como os bandos de motards ianques, porque ainda não chegamos lá mas não tardará!

    A língua de Shakespeare, para além da literatura, cinema e música, torna-se a língua da tecnologia, da informática, do mercado e transmite modernidade a quem a utiliza. É a língua universal que destrona o francês do Romantismo, da Arte Nova e da Belle Époque. Os neologismos ingleses entram nos dicionários, a propaganda, os slogans, as marcas e logotipos das firmas, das lojas, dos centros comerciais, até das instituições tudo passa a ter nomes ingleses, é tudo em inglês. Shop, Shopping Center, Business Center, Food, Meals, Travel Center, Pub, BUS, know-how, business, dealer, briefing, feeling, disc-jockey, Health Club, design, site, track, magazine, mail, perfomance, speed, roll-bar, ranking, car isto e car aquilo etc. etc.

    Estes símbolos da modernidade contribuem para que a globalização económica e cultural se processe naturalmente, sem agitação, por moda. Apenas algumas manifestações folclóricas duma esquerda “pop” contestatária mas ortodoxa que vem do tempo dos hippies e dos alucinogénios e que se manifestam, de forma ostensiva, contra as reuniões do G8 ou da sua Organização Mundial do Comércio (OMC), provocando algum receio pelos seus efeitos nefastos mas geralmente passageiros.

    Muitos políticos europeus com a França e Alemanha à frente, se têm esforçado para que a Europa se separe da influência americana mas, na realidade, ela está cada vez mais presente, por mais que lhe virem as costas Atente-se nos filmes e séries que se exibem no cinema e na TV: praticamente só americanos. E o cinema e TV são dos meios mais eficazes de propaganda cultural.

    Assim, sob a égide duma modernidade bacoca, inicia-se, nos anos noventa, a Globalização Económica, a expansão da Economia de Mercado, na selva neoliberal da concorrência sem fronteiras, nem regras, nem limites do grande Mercado Mundial dinamizado pela Organização Mundial do Comércio (OMC) que, em 1995, toma o lugar do antigo GATT (General Agreement on Tarifs and Trade).

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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