MATAI-VOS UNS AOS OUTROS
A Globalização e a União Europeia (I)
Na minha modestíssima opinião, ao contrário do que aparenta, a Globalização Económica não é um simples fenómeno surgido como resultado do avanço das técnicas de comunicação e da informática, nem é uma mera fase do percurso evolutivo da Humanidade. Embora se considere um aproveitamento do avanço tecnológico e do contexto político mundial, não é obra do acaso mas antes obra bem estudada e premeditada. É um processo, é uma acção arbitrária, é um desígnio antigo do grande capital transnacional, que visa o domínio mundial agora pela via da dependência financeira...
Tal como a vida na Natureza, tudo começa por uma acção e reacção. Acção: a expansão ou Globalização Comunista. Reacção: a acção reactiva do Capitalismo/Fascismo/Nazismo. Deste processo os elementos em luta diluem-se e dão lugar a uma nova acção: a expansão do Capitalismo Neoliberal, ou seja a Mundialização ou Globalização Económica que, por sua vez, virá a ter os seus reagentes.
O embrião, na Europa, foi a Comunidade do Carvão e Aço fundada em 1952 no âmbito da pacificação e ajuda americana no pós guerra, para estabilizar os interesses (carvão e aço) de países beligerantes, a Alemanha e a França. Aderiram à comunidade mais 4 países fundadores: Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Esta comunidade, em 1957, pelo Tratado de Roma, passa a designar--se Comunidade Económica Europeia (CEE) à qual vão aderindo novos países. Uma comunidade económica que, em plena Guerra Fria, juntamente com a ajuda do Plano Marshall, também serve fins políticos e ideológicos, pois é um meio dos americanos garantirem, na sua esfera, a Europa Ocidental, retirando--a da influência soviética onde já gravitavam os países do leste europeu. E, ao mesmo tempo, adaptar o mundo à nova realidade do pós-guerra donde surgiram duas novas potências mundiais (URSS//USA), pondo fim aos velhos impérios coloniais das antigas potências europeias a que Portugal resistiu durante cerca de duas décadas. A guerra fria ou ideológica iniciou-se entre os novos mandantes do mundo e a Europa Ocidental, desprovida das suas possessões, passou a um plano secundário, verificando então que pagou bem paga a ajuda americana!
A ADESÃO À CEE
À CEE, adere em 1986, Portugal à beira da falência económica pela perda da sua extensão ultramarina e também devido aos excessos revolucionários do PREC. Foi uma tábua de salvação oportuna que, além de resolver o seu problema económico e de sobrevivência política, ao fim de 500 anos, fez regressar Portugal às suas origens europeias. Acompanha-o uma Espanha órfã do caudilho Franco, novamente monárquica mas agora democrática, pronta a competir com o seu rival na arena europeia. Será uma corrida à antiga portuguesa ou à espanhola com touros de morte?
A marca da Maçonaria com o seu neo-iluminismo, faz-se sentir nesta comunidade, a partir do Apelo de Estrasburgo de 1971, em que algumas “Grandes Lojas” e “Grandes Orientes”, se propõem contribuir para a edificação duma Europa impregnada dos seus ideais republicanos democrático-liberais. Para tal, foi criado o Centro de Ligação e de Informação das Potências Maçónicas Signatárias do Apelo de Estrasburgo (CLIPMSAE), centro este que devia ter sido bem sucedido, pois aproveitando a Estrutura da CEE já existente, conseguiu, de facto, impregnar profundamente a futura União Europeia dos seus ideais neoliberais internacionalistas, combatendo o nacionalismo chauvinista e dando abertura à globalização económica capitalista, aliada agora à esquerda liberal (socialistas e sociais democratas).
DESAPARECIMENTO DA URSS E O FIM DA GUERRA FRIA
De facto, com o desaparecimento da URSS nos fins dos anos oitenta, seguido do desmantelamento imediato do seu império que se revelou opressivo e da queda do muro de Berlim ou da vergonha (sinal que o sistema não era lá muito bem amado), termina a já referida Guerra Fria. Livre do seu principal obstáculo, o capitalismo triunfante inicia então o processo de Globalização Económica, pondo em prática, num ambiente macro-económico Keynesiano, as doutrinas neoliberais de W. Lipman na sua última versão, a do prémio Nobel da Economia de 1976, o norte-americano Milton Friedman, moderno mentor do neoliberalismo económico (muito próximo dos fisiocratas e naturalistas como Smith, Ricardo e Mill, que se caracterizaram pela defesa do “laissez faire”, da livre concorrência até ao hedonismo consumista). Esta doutrina já vinha sendo adoptada desde a era Reagan/Tatcher no mundo anglo-saxónico e por cá ensaiada por Cavaco e Silva e continuada pelo governo liberal de António Guterres, mau grado a sua posterior adesão ao grande embuste da Terceira Via de Antony Guiddens, inspirada nos “News Democrats” de Bill Clinton, adoptado pelo “New Labour” de Tony Blair e subscrita pelos governos de Itália, Espanha e Portugal e que parece nada ter adiantado para salvar o Estado Social da apetência dos banqueiros.
Entretanto, na Europa comunitária, é assinado o Tratado de Maastritch em 1992, mais tarde denominado Tratado da União Europeia que, em 1993, transforma a estrutura da CEE, inicialmente uma comunidade económica com fins meramente comerciais, na tão desejada União Europeia (UE). Esta união supranacional que ultrapassa as finalidades comerciais da CEE, imiscui-se, em muitos aspectos, na política interna dos seus membros (até ao pormenor das colheres de pau) e, obviamente, limita a soberania dos Estados que a integram, uniformizando-os económica e politicamente, o que não poderia deixar de ser. Isto vai servir perfeitamente os interesses globais do capitalismo mundial que, sem esta união, teria de vencer os obstáculos nacionalistas e proteccionistas da diversidade das nações europeias, para nelas poder penetrar livremente e explorar as suas riquezas, o que seria simplesmente inexequível. Assim, a UE passa a ter também um papel de charneira como instrumento uniformizador das nações que a integram, imprescindível ao Processo de Globalização Económica em curso (PROGLOBEC).
A partir daí, tudo é visto em termos globais, universais. É a decadência do socialismo e do nacionalismo ostracisado agora por conveniências da política económica mundial.
Por:
Reinaldo Beça
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