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    Arquivo: Edição de 15-06-2006

    SECÇÃO: Desporto


    ENTREVISTA COM JOSÉ ARAÚJO – PRESIDENTE DA COMISSÃO ADMINISTRATIVA DO ERMESINDE SC

    Ermesinde ainda pode subir...

    Entrevista de final de época, em jeito de balanço, não podia a altura ser mais propícia ao dirigente da actual Comissão Administrativa do Ermesinde Sport Clube.

    Suplantando claramente os objectivos traçados no início da época – a manutenção na III Divisão Nacional – a equipa acabou por disputar os lugares da frente, apesar de ter um dos orçamentos mais baixos da sua série.

    E, inesperadamente, há agora até quem ponha a hipótese de uma subida de divisão, apesar de apenas subirem directamente os dois primeiros da sua série (o Ermesinde SC foi 4º, atrás dos promovidos Vila Meã e Lourosa, e ainda do Torre de Moncorvo), já que se avolumam os rumores de desistências e castigos que, a concretizar-se, podiam levar o clube à II Divisão, logo na época em que a meta era apenas não descer. Mas como tudo isto é mera especulação, vamos mas é ao que importa!...

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    “A VOZ DE ERMESINDE” (AVE) – A primeira pergunta vai, naturalmente, para a época, mais do que tranquila, brilhante, feita pelo Ermesinde. Uma posição final na tabela, como aquela que foi conseguida, estava nas expectativas, mesmo longínquas, do Ermesinde?

    JOSÉ ARAÚJO (JA) – Nem por sombras, o único objectivo desportivo era não baixarmos de divisão.

    O Ermesinde era a equipa da nossa série com o mais baixo orçamento.

    AVE – A que se devem, na sua opinião, os resultados tão bons do Ermesinde?

    JA – Termos mantido a espinha dorsal da equipa do ano anterior. Praticamente a equipa era a mesma.

    AVE – Então as coisas estão mal. O Ermesinde perdeu a sua espinha dorsal...

    JA – Este ano, serão de facto, mais difíceis. Mal acabou a época, já nos levaram meia equipa, sobretudo o Aliados e o S. Pedro da Cova.

    Nós não tínhamos qualquer possibilidade de segurar os jogadores e temos de compreender e aceitar que eles tivessem procurado melhorar a sua carreira.

    Com orçamentos daqueles não podemos competir.

    O Ermesinde, na próxima época, não pode dar-se ao luxo de gastar mais do que 900/1 000 contos por mês com o plantel desportivo.

    AVE – Nessas circunstâncias, o Ermesinde tem algum objectivo desportivo, para a época de 2006/2007, ou as finanças do clube continuam a ter a primazia?

    JA – Tapar o buraco financeiro do clube continuará a ser a prioridade absoluta. Ainda agora nos continuam a chegar as contas. Aparecem a toda a hora. Por exemplo, neste momento, em que estamos a falar, não podemos inscrever mais atletas a a não ser que seja resolvida uma dessas situações pendentes. Nestas circunstâncias o único objectivo desportivo continuará a ser o não descermos de divisão.

    AVE – Quem é, neste momento, o maior credor do Ermesinde?

    JA – Continua a ser o Abílio Sá, a quem temos uma dívida de cerca de 30 mil contos.

    AVE – Então como é que o Ermesinde vai enfrentar a próxima época. Fizeram-se já contratações?

    JA – Sim, por exemplo, o Tavares, que já jogou no Fafe, o Miguel (ex-Pedrouços), e iremos falar com a Direcção do Braga, para ver se é possível eles colocarem no Ermesinde alguns dos seus jogadores da extinta equipa B. Como o Colaço, por exemplo. Se isso fosse possível, para nós seria excelente. Vamos também poder contar com quatro jovens vindos da nossa equipa de júniores.

    AVE – A colaboração existente com o Braga está definida por algum protocolo ou mesmo acordo de intenções formal?

    JA – Não, tem sido apenas um acordo de cavalheiros. Não há nada escrito.

    AVE – Para o Ermesinde, a prazo, a extinção da equipa B do Braga traz alguma vantagem?

    JA – Não, pelo contrário. Se podemos beneficiar de momento, a prazo será para nós muito negativo, pois tínhamos aí uma hipótese de poder colocar jogadores oriundos do nosso trabalho de formação.

    AVE – Mas, voltando à próxima época, a situação é ainda pior do que já falámos. O Ermesinde também perdeu o treinador.

    JA – O José Augusto não podia recusar a proposta do Aliados. E levou com ele o Quim, o Hernâni, o André Martins, o Tiago Carvalho e o Isidro. Foi um grande rombo na nossa equipa. Mas, se tivermos essa possibilidade, ainda podemos vir a vender o Christian.

    Felizmente, o problema do treinador já está resolvido, será o Carlos Nogueira, pai do conhecido internacional Mário Sérgio (agora jogador da Naval), que será coadjuvado por Fernando Almeida e Jorge Lopes (que continua na baliza).

    EMBORA REMOTA

    HÁ A POSSIBILIDADE

    DE O ERMESINDE

    SUBIR DE DIVISÃO

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    AVE – Então, neste fim de época, essa é finalmente uma notícia positiva?

    JA – Não, temos mais. Até já há quem fale na possibilidade de sermos promovidos agora à II Divisão.

    AVE – Como?...

    JA – Por desistências ou castigos a aplicar a outras equipas. Vamos ver, por exemplo, se se confirma a desistência da Ovarense, embora isso só por si ainda não chegue.

    AVE – Mas o Ermesinde nem orçamento tem para se manter na III Divisão... Embora a II talvez pudesse interessar mais potenciais investidores...

    JA – É verdade. E eu até aproveitava para fazer um apelo às empresas locais, para se interessarem mais pelo Ermesinde. Eu gostava de ter nas nossas camisolas um patrocínio local.

    AVE – Isso também era bom, em termos de massa associativa?

    JA – Sim. E quanto a isso, queria dizer que o Ermesinde tem uma claque desportiva fantástica. A equipa recebe sempre um grande apoio. Chegou a haver jogos fora em que se sentiam quase tanto os adeptos do adversário como os do Ermesinde.

    E já agora, além de agradecer à claque, queria também deixar outros agradecimentos, ao professor Tiago Ribeiro, dos escalões de formação, e ao nosso fisioterapeuta, Luís Pedrosa.

    E agradecer também, exteriomente ao clube, aos Bombeiros Voluntários de Ermesinde e à Voz de Ermesinde.

    AVE – Tem alguma razão especial para agradecer ao Luís Pedrosa?

    JA – Não há dinheiro no mundo capaz de pagar aquilo que o Luís Pedrosa tem feito na equipa.

    Só o que poupamos em medicamentos com a equipa, já chegava para lhe pagar a ele. Ele recuperou-nos todos os jogadores sem necessidade de recorrer aos químicos. É um técnico de uma competência extraordinária. Não foi por acaso que foi fisioterapeuta da Selecção de futebol do Brasil.

    AVE – E como é que ele veio parar ao Ermesinde?

    JA – Depois de ter saído do Brasil para a Arábia Saudita, o Pedrosa queria vir para Portugal – a mulher é portuguesa – e tivemos a sorte de o acolher e apoiar. Por razões económicas, ele não precisava de nada disto, já que tem dois ginásios no Brasil.

    Foi uma situação feliz para ambas as partes.

    AVE – Em termos desses patrocínios locais e em termos desportivos, o Ermesinde beneficia alguma coisa da descida – a manter--se tudo na mesma – do Valonguense?

    JA – Não beneficia absolutamente nada, nem do Valonguense nem de outros clubes aqui à volta [Sp. Rio Tinto, até Padroense].

    Jogar contra as equipas nossas vizinhas é sempre um grande incentivo quer para o grupo de trabalho, quer para a massa associativa.

    AVE – Falou na formação. O Ermesinde teve excelentes resultados no sector da formação, sobretudo nos escalões de Iniciados e Escolas, mas péssimos resultados nos Infantis e Juvenis.

    Como se explica esta disparidade?

    JA – É verdade que houve resultados muito contraditórios, que à primeira vista, até parecem difíceis de compreender. Às vezes basta os miúdos subirem de escalão, e até ficarem separados dos colegas para se ressentirem dessa situação.

    AVE – Quantos miúdos tem, neste momento, o sector de formação do Ermesinde?

    JA – Tirando os Argolinhas, são cerca de 150 miúdos, nos vários escalões, entre os quais 22 júniores.

    UMA NOVA SOLUÇÃO

    PARA DIRIGIR

    OS DESTINOS

    DO ERMESINDE?

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    AVE – Até há pouco tempo estava muito hesitante em candidatar-se de novo a dirigir o Ermesinde? Neste momento, ainda está hesitante?

    JA – Neste momento, em que se abriram boas perspectivas para o clube, sobretudo com as hipóteses da construção do novo estádio, tenho vontade de deixar esse assunto em bom andamento, para que se concretize o mais depressa possível.

    Por isso hoje estou mais disponível do que aquilo que já estive.

    AVE – À frente de uma nova Comissão Administrativa?

    JA – Isso depende da vontade dos sócios, já que se ouve falar da possibilidade de se apresentarem novas listas de candidatura.

    AVE – E essas candidaturas de que tem conhecimento, defenderiam as prioridades que a Comissão Administrativa actual tem definido para o clube?

    JA – Sobre isso tenho as minhas dúvidas, temo que se possa querer voltar atrás.

    AVE – Isso reforça a sua intenção de se recandidatar?

    JA – E de reforçar a actual equipa directiva. Eu até defendo que, em vez de uma Comissão Administrativa, como tem sido ultimamente feita a gestão do clube, é necessária uma verdadeira Direcção, isto é a eleição formal de novos corpos gerentes. Há muitos assuntos da vida do clube que só podem ser resolvidos com os órgãos sociais a vigorar em pleno.

    VOLTA A ABRIR-SE

    A POSSIBILIDADE

    DE NOVO ESTÁDIO

    PARA O ERMESINDE

    AVE – Vamos então falar da questão do estádio. Há boas notícias para o Ermesinde?

    JA – Eu diria que há excelentes notícias. É que surgiu uma possibilidade, que nos foi sugerida, de vir a construir o novo estádio, não no local para onde antes ele estava destinado, mas num outro local, na Travagem, perto dos terrenos da ETAR de Ermesinde.

    De facto, no local anterior, era muito difícil vir a concretizar o projecto, já que os terrenos estavam distribuídos por um grande número de proprietários, e mesmo resolvido isso, a construção apresentava dificuldades. E havia linhas de alta tensão.

    O terreno que agora nos foi sugerido é plano, facilitando muito a construção, e pertence apenas a dois proprietários.

    AVE – E já sabe da disponibilidade deles?

    JA – Sim. E é no sentido positivo: um diz que vende, outro que não precisa de vender – com certeza preferindo uma solução de contrapartidas.

    AVE – Quais as grandes vantagens desse novo estádio em relação ao actual Estádio de Sonhos?

    JA – Olhe, teríamos muito mais possibilidades. Por exemplo, podíamos construir além do recinto principal do estádio, mais um sintético, o que nos permitia um trabalho muito melhor ao nível da formação, já que o campo dos Montes da Costa não tem as mínimas condições.

    Podíamos construir um pavilhão, que poderia, além do aspecto desportivo, proporcionar ainda receitas ao clube. Podíamos rentabilizar algumas lojas ou armazéns.

    AVE – Isso não são demasiadas ambições?

    JA – Não. Teríamos de ir com calma. Numa primeira fase, por exemplo, só construiríamos o relvado e uma bancada.

    Mas para se ter uma ideia do que queremos, seria um modelo aproximado do do estádio do Vila Meã ou, aqui muito mais perto, do Sport Rio Tinto.

    AVE – Em termos de engenharia financeira, tendo o Ermesinde as dívidas que tem, como é que ia conseguir erguer o novo complexo?

    JA – Isso só seria possível vendendo os terrenos do actual Estádio de Sonhos. Com isso teríamos dinheiro não só para construir o novo estádio, mas também para saldar todas as nossas dívidas.

    AVE – Mas quer os terrenos que tem em vista para o novo estádio, quer o terreno de Sonhos, não precisam de ver alterada a sua vocação em PDM?

    JA – Sim, claro. Mas também contamos com a compreensão da Câmara para isso. Os terrenos que ficam por trás da Resineira, na Travagem, precisam de ser desanexados da Reserva Agrícola e da Reserva Ecológica. O próprio engenheiro José Luís Pinto, em conversa que com ele mantivemos, mostrou-se sensibilizado e aberto à necessária alteração do PDM. A Câmara não nos podia ajudar no caso dos terrenos anteriormente previstos para o novo estádio.

    Relativamente ao terreno agora proposto, a Câmara de Valongo estaria mesmo disponível para nos oferecer o projecto do novo estádio.

    OS MIÚDOS

    DO ERMESINDE

    VÃO APARECER

    NA TELEVISÃO

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    AVE – E o Ermesinde tem mais boas notícias para dar aos sócios?

    JA – Felizmente tem. Por exemplo, o canal de televisão AXN esteve no nosso estádio a filmar os nossos miúdos, num trabalho bastante aprofundado, que vai transmitir em vários dias, durante o período do Mundial da Alemanha, em pequenos blocos. Foi uma reportagem que nos dá uma oportunidade excelente para o Ermesinde dar a conhecer o seu trabalho.

    AVE – Mas noutros sectores de formação que não futebol, nem tudo esteve bem, pois não? O Ermesinde acabou com a secção de andebol?

    JA – O andebol não andou bem, mas o Ermesinde não acabou com a secção de andebol. O que entendemos é que a secção deveria ser dirigida noutros moldes. Tínhamos dívidas à Federação e achámos que era melhor parar por agora, para recomeçar depois, com outros alicerces.

    AVE – E o que é que sucedeu quanto ao boxe?

    JA – Bem, quanto ao boxe é preciso dizer que nem sequer existia um sector de formação no Ermesinde. Os atletas chegavam-nos já formados. mas aqui o que aconteceu é que o principal dinamizador do boxe – Mário Lino – desistiu por razões de saúde.

    Nesta modalidade o Ermesinde tinha 25 atletas.

    AVE – Olhando para esta época, houve alguma coisa que o tivesse marcado mais?

    JA – Houve. Marcou-me muito a lesão do Ramalho e a frieza com que um médico disse, brutalmente, ao rapaz – um miúdo ainda com 19 anos – «o teu problema é uma tendinite – estás arrumado para o futebol!».

    O Luís Pedrosa não concordou nem se conformou com este diagnóstico e conseguimos que o atleta fosse visto pelo Dr. António Sousa (médico do basquetebol e andebol do FC Porto), que nos abriu uma esperança, ao diagnosticar não uma tendinite, mas outro tipo de lesão, susceptível de tratamento através de cirurgia.

    Através de amigos, conseguimos que o Ramalho fosse operado numa clínica privada, em que praticamente só pagámos os custos básicos, e tudo correu bem.

    Fiquei bastante contente, pois para mim, o Ramalho era até, em vários aspectos, o melhor jogador do Ermesinde e seria uma pena perdê-lo, ainda tão novo, para o futebol.

    Sem dúvida que tivemos, por este e outros motivos, uma época bastante feliz.

    Por: LC

     

     

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