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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 20-12-2005

    SECÇÃO: Crónicas


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    E vá a gente entendê-los!

    Não há dia algum que a comunicação Social não se faça eco de que Portugal caminha a passo alargado para o último lugar dos países da União Europeia (UE) quando se comparam níveis adoptados para medir os parâmetros que caracterizam a chamada qualidade de vida das populações. E nessas análises, sempre surgem as referências de que os outros estão mais bem preparados técnica e culturalmente, circunstância da qual resultam dois obstáculos para os portugueses: vêem os seus postos de trabalho em Portugal ameaçados pela concorrência dos estrangeiros, e dificuldades acrescidas de com eles ombrear quando se candidatam a empregos de alguma valia social, fora das suas fronteiras.

    Consciente desta realidade, o actual governo propagandeou como uma das suas principais preocupações a batalha da educação, anunciando diversas medidas, todas elas identificadas com o objectivo de reduzir o insucesso escolar; aumentar o número de anos de escolaridade obrigatória, exigir mais rigor na aferição dos conhecimentos adquiridos pelos alunos e maior responsabilização dos professores na execução do seu trabalho.

    É facto que algumas decisões governamentais tomadas nos últimos anos têm essa marca, realçando-se a escolaridade obrigatória até ao nono ano, colocação de professores no ensino básico com garantia de permanecerem na mesma escola durante três ou quatro anos, exames nacionais no ensino secundário a todas as disciplinas, implementação de aulas de substituição para evitar os “furos”, etc. Parecia, pois, que os actuais governantes tinham entendido que para se criar uma sociedade mais culta e tecnicamente mais bem apetrechada para enfrentar as exigentes condições do mundo do trabalho, deveríamos esquecer os tempos e os modos em que gastamos os muitos milhões de euros que recebemos da UE para nos aproximarmos da média europeia mas que, decorridos mais de vinte anos, continuamos no mesmo, ou mesmo, num patamar inferior àquele que nos era reconhecido aquando da nossa adesão ao “Clube” dos mais ricos e mais cultos povos do nosso continente. Infelizmente, o que nos foi apresentado como grande desígnio nacional durou pouco tempo. As últimas notícias são de molde a concluir que preocupações de seriamente apurar os conhecimentos dos alunos e de avaliar o resultado do trabalho dos professores é coisa de somenos importância. Que não valerá a pena gastar recursos financeiros com essas minudências educativas. Os projectos ligados ao betão e afins continuam a fazer o seu curso e a consumir os recursos financeiros, presentes e de muito longo prazo, preferidos pelos políticos por serem muito mais visíveis e, eventualmente, susceptíveis de proporcionar excelentes ocasiões de chorudas comissões a muita boa gente e até contribuir para que o nível da corrupção nacional não sofra eventual (in)desejável redução.

    Estas notas vêm à colação, como certamente já adivinharam, em resultado do propósito da equipa do ministério da Educação de reduzir os exames nacionais às três disciplinas consideradas nucleares para ingresso num curso universitário, havendo quem defenda um ensino secundário terminal e certificante, em que os alunos façam provas finais internas, assentes em rigor científico e pedagógico, posição que esquece o que muitos ainda recordarão: as elevadas notas obtidas em algumas escolas comparadas com outras, sem que a sua diferença resultasse de níveis superiores de conhecimentos, antes fruto de bondosos critérios de estabelecimentos (públicos e privados), com evidente prejuízo para os alunos que em momento posterior se candidatassem ao ensino superior ou a concursos para obtenção de emprego. As soluções devem, consequentemente, ser procuradas em outras bandas, onde tenham lugar de eleição práticas que assegurem disponibilizar aos alunos portugueses oportunidades de obterem conhecimentos que os coloquem em pé de igualdade com os seus homólogos europeus, ou mesmo ultrapassando-os, avaliar os conhecimentos dos alunos mediante provas nacionais em todas as disciplinas ou cadeiras de curso, conferindo--lhes um certificado obtido em provas idênticas, ao que acrescerá um outro desígnio de não menor importância ao sucesso da enorme tarefa a que precisamos de meter ombros: avaliar os professores por processos que proporcionem objectivamente conhecer o seu empenho na transmissão de conhecimentos, a competência revelada e o resultado concreto do seu trabalho.

    O FUTURO

    DA JUVENTUDE

    Todos sabemos que há medidas que, pela sua envolvente demagógica e populista, têm antecipadamente o beneplácito de determinados grupos sociais, sendo excelentes para sustentar o embuste de que se está na presença de políticas adequadas ao desenvolvimento do país e à resolução de problemas de determinadas populações que as aplaudem. A realidade, contundo, é bem diferente e dolorosa, como a história recente da Educação em Portugal pode atestar insofismavelmente: abrandamos as exigências na avaliação dos conhecimentos dos alunos acabando com os exames nacionais, confiando no sentido de responsabilidade das estruturas escolares. Resultado? Ocupamos os últimos lugares nos relatórios internacionais sobre o nível cultural e de preparação técnica dos jovens portugueses para as diversas profissões. O que quererão os políticos com as medidas anunciadas? Talvez que continuemos a gastar os recursos financeiros, próprios e os recebidos dos fundos comunitários, em projectos que conduzam à elaboração de estatísticas demonstrativas de que há mais portugueses detentores de certificados escolares escondendo, contudo, as suas lacunas formativas; continuar a fingir que os professores são avaliados pelo trabalho realizado; os pais contentes por verem os filhos a não reprovarem; as escolas – com destaque para as servidas por professores menos qualificados, nada empenhados e pouco escrupulosos – a emitirem “papéis” afirmando que os seus alunos estão melhor preparados que outros; as disciplinas de português e de filosofia dispensadas de provas nacionais e, por este andar da carruagem, voltarmos aos tempos de iliteracia que a todos envergonha.

    O desenvolvimento sustentado do país e o futuro da juventude impõe que, definitivamente, se introduza no sistema de ensino as algumas determinações, tais como: exames nacionais no final dos anos 4º, 9º, 11º e 12º; colocação dos professores do ensino básico por tempo indeterminado enquanto o aproveitamento dos seus alunos atinja elevados níveis previamente estabelecidos; avaliação dos professores do ensino secundário igualmente em função do aproveitamento dos alunos, medido através de exames nacionais, devendo os docentes saberem de antemão que a sua manutenção no sistema depende do resultado do seu trabalho; reintrodução na panóplia do ensino, das escolas técnicoprofissionais com acesso privilegiado aos institutos superiores; fazer depender o montante de financiamento destes e das universidades, do número de discentes anualmente aprovados em exames de saída, presididos por docentes indicados pelo respectivo Ministério. Se qualquer coisa parecida com isto for adoptada pelos nossos governantes, dúvidas não existirão de que a qualidade do nosso ensino deixará de ser notícia pelas piores razões. Caso contrário, resta-nos a cauda do “campeonato”.

    Aproximando-se a quadra natalícia, fazemos votos que os decisores políticos recebam como prenda o bom senso que lhes tem faltado, e os portugueses, perspectivas de verem afastadas do horizonte das suas vidas os temores do desemprego que diariamente espreitam a cada vez mais lares que merecem ter um Natal Feliz. Votos obviamente extensivos aos leitores e a toda a equipa responsável pela edição de “A Voz de Ermesinde”. BOAS FESTAS para todos.

    Por: A. Alvaro de Sousa

     

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