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    Arquivo: Edição de 20-12-2005

    SECÇÃO: Destaque


    57º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

    A HOMENAGEM DO ANO DE 2005 – Peter Benenson

    Foto AMNISTIA INTERNACIONAL
    Foto AMNISTIA INTERNACIONAL
    Peter James Henry Solomon Benenson, fundador da Amnistia Internacional, nasceu a 31 de Julho de 1921 e faleceu este ano, a 25 de Fevereiro de 2005. A sua morte passou praticamente despercebida em Portugal, motivo que reforça ainda mais o fazermos dele a figura do ano. O texto que aqui reproduzimos foi retirado da Wikipedia, uma enciclopédia online - editada em muitas línguas - para a qual todos podem contribuir, acrescentando entradas e divulgando conhecimentos, texto este que, por sua vez, teve como fonte as publicações da Amnistia Internacional. A própria existência da Wikipedia e o facto de nela termos podido encontrar esta referência a Benenson diz bem da importância desta experiência solidária internacional nos dias de hoje, que podíamos apontar senão como inspiração, ao menos paralela ao testemunho do fundador da Amnistia.

    O silêncio à volta da morte de Benenson choca ainda por uma outra razão, que nos devia envergonhar: é que foi a partir de um atropelo aos direitos humanos que ocorreu em Lisboa, no tempo do ditador Salazar, que levou aquele a sentir o impulso irresistível de fazer alguma coisa para defender os direitos das vítimas do poder discricionário dos Estados.

    Nascido em Londres a 31 de Julho de 1921, estudou História no Balliol College, na Universidade de Oxford. O seu gosto pela controvérsia aflorou cedo, quando apresentou uma queixa ao director da sua escola pela deficiente qualidade da comida escolar, o que deu lugar a que se enviasse uma carta a seu pai, na qual se advertia sobre as «tendências revolucionárias» do filho.

    Aos 16 anos lançou a sua primeira campanha: Angariar apoio escolar, perante a guerra civil espanhola, para o Comité de Ajuda a Espanha, que ajudava os órfãos da guerra civil espanhola, sem dúvida influenciado pela leitura de Arthur Koestler “Testamento Espanhol”, na qual se descreviam os horrores da repressão franquista. Ele mesmo adoptou um dos bebés e contribuiu para financiar a sua alimentação. Logo a seguir dedicou a sua atenção à situação dos judeus que fugiam da Alemanha de Hitler. Apesar de certa oposição, conseguiu que os seus amigos de colégio e as suas famílias angariassem 4 000 libras esterlinas para trazer dois jovens judeus alemães para a Grã-Bretanha, com o que, provavelmente salvou as suas vidas.

    Incorporou-se no exército britânico, onde trabalhou no Gabinete de Imprensa do Ministério da Informação. Depois abandonou o exército e principiou a exercer a advocacia. Filiou-se no Partido Trabalhista e converteu-se em membro destacado da sociedade de advogados trabalhistas. O Congresso de Sindicatos britânico enviou-o a Espanha como observador de julgamentos de sindicalistas nos começos dos anos cinquenta. Benenson ficou horrorizado com o que presenciou e num dos julgamentos elaborou uma lista de denúncias que expôs ao juiz.. O julgamento decidiu-se com a absolvição dos acusados, uma excepção na Espanha fascista daqueles anos. Estas actividades começaram a granjear-lhe uma reputação internacional.

    O NASCIMENTO DA AMNISTIA INTERNACIONAL

    No ano 1961, com quarenta anos, lê num jornal no metro de Londres e chama-lhe poderosamente a atenção um artigo; nele conta-se a tragédia de dois estudantes portugueses presos por brindar à liberdade. Sete anos de prisão foi a pena do ditador Salazar. Benenson não pôde conter a cólera que aquilo lhe produziu. Saiu do metro e entrou na igreja de Saint Martin’s-in-the-Fields. Ali rezou a “todos os deuses de todos os mundos” e chegou a uma triste conclusão: “A luta dum só homem não vale nada”.

    Os membros da secção portuguesa da Amnistia Internacional levaram posteriormente a cabo uma minuciosa investigação sobre as pessoas detidas. Procurando nos arquivos do Ministério do Interior descobriram que Ivone Lourenço e outro estudante seu amigo foram os únicos condenados a sete anos de prisão naquela época. Ivone Lourenço, lembra a avalanche de mensagens de solidariedade que chegaram de todo o mundo, mas apesar disso nega ser uma das pessoas detidas, e prefere dizer que «esse estudante é uma lenda sem nome».

    Seis meses depois desta notícia, Peter Benenson escreveu a David Astor, redactor do jornal “The Observer”, de Londres, e que publicou o artigo, a 28 de Maio de 1961, na primeira página, com o título “The Forgotten Prisoners “ (Os presos esquecidos), fazendo um apelo à acção internacional. Expunha os casos de oito presos políticos encarcerados pelas suas crenças religiosas ou as suas ideias políticas. Entre eles figurava o doutor Agostinho Neto, poeta e médico angolano que posteriormente foi o primeiro presidente de Angola independente. Ao doutor Agostinho Neto, para o reprimir nas suas actividades políticas, as autoridades açoitaram-no diante da sua família e prenderam-no reiteradamente...

    Inspirado no vivido, resolveu avançar com o que foi conhecido como “a república da consciência”: um movimento cidadão que abarcava todo o mundo e cujo objectivo era pôr a nu e fazer face às injustiças dos governos. O nome da organização Apelo pela Amnistia converteu-se logo, um ano depois, em Amnistia Internacional. Iniciada em Londres, por um grupo de advogados, escritores e editores, compartilhava a convicção expressa por Voltaire: «Detesto as tuas ideias, mas estou disposto a morrer polo teu direito de expressá-las».

    Durante os primeiros anos, Benenson trabalhou incansavelmente para o novo e florescente movimento, trazendo boa parte da indispensável ajuda económica, participando pessoalmente nas visitas de investigação a diversos países e desempenhando um importante papel em todos os assuntos da organização. «Naqueles tempos – reflectiu Benenson mais tarde –, estávamos a dar os nossos primeiros passos e fazíamos caminho a andar. Experimentávamos todas as técnicas de publicidade e estávamos muito agradecidos pela ajuda que nos proporcionavam os jornalistas e equipas de televisão de todo o mundo, que não só nos enviavam informação com os nomes dos presos como, sempre que podiam, ofereciam espaço para os artigos sobre presos. Considero que foi o trabalho publicitário da Amnistia Internacional que lhe conferiu a sua popularidade, não só para os leitores de todo o mundo, mas também para os governos. E isso é o que importa».

    Fundou uma sociedade para pessoas que, como ele, padeciam da enfermidade celíaca. Na década de oitenta converteu-se em presidente da recém-criada Associação de Cristãos contra a Tortura, e nos princípios de noventa organizou a ajuda aos órfãos da Roménia de Ceaucescu.

    Nunca perdeu o seu entusiasmo pela Amnistia Internacional e, em meados dos anos oitenta voltou a desempenhar um papel activo no movimento, como porta-voz e activista. Apesar de tudo, nem sempre esteve de acordo com a política da organização. Por exemplo, desaprovou publicamente a decisão de não adoptar como preso de consciência Mordechai Vanunu, o cidadão israelita encarcerado por não revelar o programa de armamento nuclear do seu país.

    Quando se cumpria o vigésimo quinto aniversário da Amnistia Internacional, Benenson teve uma ideia, prendeu uma vela com arame farpado em Saint Martin-in-the-Fields. Foi o símbolo que se converteria no logotipo da organização.

    «A vela – disse então Benenson –, a primeira vez que a prendi, tinha em mente um velho provérbio chinês: É melhor acender uma vela que amaldiçoar a escuridão... A vela não arde para nós, mas para aqueles que não podemos resgatar da prisão, para os que foram baleados a caminho da prisão, para os que foram torturados, para os que foram sequestrados, para os que “desapareceram”. Para eles é esta vela». (...)

    «Abra um jornal – qualquer dia da semana – e vai deparar com uma notícia de qualquer lugar do mundo em que alguém está encarcerado, está a ser torturado ou vai ser executado, porque as suas opiniões ou a sua religião são inaceitáveis para o seu governo. O leitor sente um desagradável sensação de impotência. Mas se estes sentimentos de rejeição que experimentam pessoas de todo o mundo pudessem juntar-se numa acção comum, poderiam ser algo eficaz...».

    A voz dos presos esquecidos, PETER BENENSON, finava-se às 22h45 (hora local) no John Radcliffe Hospital, em Oxford, na sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2005, aos 83 anos.

     

     

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