SECÇÃO: Cultura

VII GRANDE NOITE DE FADO ACADÉMICO LEMBROU O “POETA DO AMOR”

Homenagem a Ângelo de Araújo

Um encontro de gerações reuniu nos claustros do Mosteiro de S.Bento da Vitória, os trovadores de Coimbra. Para também mostrar o que de novo se faz no Porto pelo Fado Académico e celebrar o poeta do "Amor, amor e mais nada".

Foto MANUEL VALDREZ

"Ó PORTO

CIDADE LINDA"...

Pela sétima vez, deu-se voz aos poetas e compositores do fado académico. Uma iniciativa, organizada pela Associação de Estudantes do Instituto Superior de Engenharia do Porto, que juntou, na noite de 26 de Novembro, os nomes mais ilustres do Fado Académico. O que se faz em Coimbra e também pelos estudantes da Universidade do Porto.

Não há quem tenha dúvidas quanto à beleza da Invicta cantada pela voz dos estudantes da Academia do Porto. Num ambiente ímpar ouviram-se os Grupos de Fados da Faculdade de Engenharia, da Católica, de Medicina e do Instituto Superior de Engenharia que enfeitiçaram o público presente com os fados e variações, alguns dos quais "dedicados à nossa mui nobre e estimada Invicta". Momentos sublimes em que se cruzaram as actuais gerações de compositores e interpretes do Porto e dos da Academia Coimbrã. Da Lusa Atenas ouvimos o Grupo Renascer formado em 2001 e o Grupo de Fados Serenata de Coimbra.

O Mosteiro de S. Bento da Vitória, um edifício monumental fundado no século XVII, em pleno coração do Porto, na freguesia da Vitória, serviu de palco ao VII Grande Noite de Fado Académico. Um lugar "imponente e belo" que fortalecia e inspirava os que encheram os seus claustros. Por isso, como dizem, os estudantes, na balada da Despedida ISEP 99: «Ó Porto cidade linda / Que não me sais do olhar / Pede às águas do Douro / Que me façam cá voltar».

"SONHAMOS

COIMBRA AQUI…"

Com ele diz-se o amor. Ângelo de Araújo, o homenageado desta noite, inicia a sua formação académica na faculdade de Medicina do Porto, integrando a Tuna e o Orfeão da Universidade. Mas foi em Coimbra que concluiu o curso e aí se torna notável. Poeta e compositor, os temas de Ângelo de Araújo – como "Feiticeira" e "A Carta"-, passam de geração em geração e distinguem-no como uma "figura ímpar do mundo de Coimbra". Foi assim que o qualificou Francisco Vasconcelos nos momentos de homenagem dedicados ao "poeta do amor", como é conhecido. "Contos Velhinhos" cantado pela voz de Alberto Ribeiro no filme Capas Negras (com Amália Rodrigues também como interprete) não deixa ninguém indiferente.

Uma "eterna admiração" pelo caloiro que conheceu em Coimbra. Camacho Vieira enalteceu as qualidades a "alma sonhadora" do artista e do "médico que põe à prova a sua grandeza" na ética que mantém para com os seus doentes.

Tito Costa Santos conta que Ângelo de Araújo, numa noite de luar ao descer a rua da namorada, em Coimbra, vê a luz reflectida no Mondego e, possuído pela beleza da paisagem "agarra numa caixa de fósforos" e marca os compassos da música "Santa Clara, Santa Clara". Já na República onde vivia "chama o Menano" que acerta os acordes na guitarra dizendo que foi "a coisa mais linda que se fez em Coimbra", opinião também partilhada pelo escritor Virgílio Ferreira.

Os amigos de Ângelo de Araújo realçaram o artista e o homem, nascido a 1 de Janeiro de 1920. Uma noite memorável onde as almas se encheram de emoções e deram voz ao poeta nas interpretações Camacho Vieira, Subtil Roque e José Mesquita acompanhadas pelo Serenata de Coimbra As palavras de Ângelo de Araújo, se justificam "o que fez por Coimbra", traduzem também o espírito da VII Grande Noite do Fado Académico. Pela voz do poeta ouvimos: «Vale a pena estarmos aqui. Sonhamos Coimbra aqui…».

Paula Valdrez