«A liberdade é um vírus»
Setembro de 2000 é a data da primeira edição de “Channel Zero”, e isso é tremendamente importante para a compreensão do universo descrito pelo autor na sua obra, pois antecedendo o “Patriotic Act” que após o 11 de Setembro cerceou muitas das liberdades dos cidadãos dos Estados Unidos permite, pelo menos, questionar como é que o autor pôde antecipar muita dessa sanha repressiva.
A consciência de que, com a administração Bush, o Estado concentracionário se preparava para dar um novo e orwelliano passo em frente, tem aqui uma evidente expressão e faz reflectir sobre o emparelhamento de “causa” e “consequência”.
A questão é duplamente interessante, porque o pano de fundo da ameaça às liberdades fundamentais transbordou ao chamado mundo ocidental, passando a ser assunto interno de todas as sociedades, incluindo as europeias, as comunitárias e a portuguesa.
O lugar onde decorre a acção desta obra é a mítica cidade de Nova York, onde – comenta o autor, em texto recente de introdução à obra, que já vai na terceira edição norte-americana – se vive actualmente o pesadelo por ele imaginado cinco anos antes.
“Channel Zero”, criada, escrita e ilustrada por Brian Wood, é uma obra a preto e branco puro, mas que está muito mais perto do conceito de xerografia do que do xilogravura, aproximando-se muito da arte contestária do fanzine e do grafitti, tendo o conceito aqui um lugar determinante, que permite desculpar uma certa crueza no tratamento da imagem e o argumento, propositadamente esfiapado.
A legibilidade da obra torna-se assim complexa e a leitura mais difícil de seguir.
«Your mind is a weapon –use it» (a tua mente é uma arma – usa-a) é um dos muitos slogans de natureza mais explicitamente política, que vão surgindo ao longo das páginas de “Channel Zero”. O presente livro (edição AiT/Planet Lar) contém além das pranchas da obra, a nota de autor de Brian Wood à terceira edição, uma introdução de Warren Ellis, autor de comics e graphic novels, que pode ser introduzido no seu website (www.warrenellis.com). A obra contém ainda uma entrevista de Dave Choe, outro quadrinista norte-americano, a Brian Wood.
Por:
AVE
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