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    Arquivo: Edição de 15-09-2005

    SECÇÃO: Destaque


    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ

    Maria José Azevedo: «O concelho tem que ter um desenvolvimento sustentado»

    Proveniente de uma experiência autárquica no Executivo de uma grande metrópole, foi vereadora, pelo PS, com Fernando Gomes, na Câmara do Porto durante oito anos, dirigiu aí os pelouros da Habitação e Acção Social, e criou e presidiu à Fundação para o Desenvolvimento do Vale de Campanhã.

    Ex-jornalista (RTP) e professora de jornalismo, presidindo actualmente à Escola Superior de Jornalismo, Maria José Azevedo nasceu em Angola, uma marca africana que quase se adivinha na sua personalidade.

    “A Voz de Ermesinde” (AVE) – A cada uma das propostas que tem feito, tem-se sucedido um comunicado do PSD, sempre crítico, evidentemente, mais do que a apresentação de propostas alternativas. Como comenta isso? Para si é um bom sinal?

    Maria José Azevedo (MJA) – Eu não tenho que comentar essas tomadas de posição. Registo-as e lamento-as sobretudo quando elas são insultuosas e pouco verdadeiras. A mim o que me interessa, porque não estou na campanha contra ninguém nem fulanizo as questões, é apresentar projectos concretos. E gostava que o combate político se mantivesse nesse registo do debate dos projectos. O meu objectivo é ser uma alternativa credível. E quero fazê-lo independentemente dos ataques e reacções por parte do PSD.

    AVE – As questões que tem vindo a apresentar já consubstanciam o fundamental das suas propostas ou há algum aspecto fulcral que ainda não tenha abordado?

    MJA – Como é evidente, os programas não nascem do nada. Para construir o programa, tive de me inteirar da realidade do concelho e, sobretudo, ouvi muitas pessoas, desde associações, colectividades, os párocos e cidadãos individuais. Têm-me abordado na rua. A outros tenho eu abordado; inclusivamente no meu site tenho recebido muitas sugestões por parte de moradores do concelho, e é depois de fazer a síntese dessas informações que eu tenho vindo a delinear o programa. A minha preocupação tem sido no sentido de ir tornando isso matéria de interesse público. E foi promessa que eu fiz, porque realmente eu acho que não se fala em Valongo – como se nada aqui se passasse –, e isso é grave, porque é muito importante o papel fiscalizador dos órgãos de comunicação social sobre a actividade pública. Por isso prometi que uma vez por semana traria os jornais a Valongo para se falar da realidade do concelho. E tenho aproveitado isso para ir apresentando as medidas que considero mais importantes e aquelas que as pessoas mais esperam. Tenho vindo a apresentá-las aos poucos, sendo que, no final, naturalmente, farei uma síntese das propostas sectoriais para as integrar num programa de candidatura divulgado mais em cima da campanha eleitoral.

    AVE – Sendo o papel do concelho na Área Metropolitana do Porto (AMP) um pouco apagado, que propostas teria para que Valongo tornasse mais visível uma especificidade que o fizesse relevante neste contexto?

    MJA – Nem sequer é a questão de ser mais ou menos apagado, é o último!

    Mesmo os problemas podem ser transformados em oportunidades, é uma questão de se dar a volta ao texto. E no caso concreto isso pode ser feito. Quer pessoas do concelho, quer pessoas de fora, quando se fala de Valongo, normalmente a primeira coisa que lhes ocorre – às de cá com mágoa, às de fora com estranheza –, é a pressão e caos urbanístico do concelho, que é mais visível em determinados locais, concretamente Ermesinde – mas já se vê em Valongo – e sobretudo é bom que não venha a acontecer nas outras freguesias. Essa é, digamos assim, a primeira impressão. Uma das situações que pode ser transformada em oportunidade é a existência da mancha florestal, que é obviamente uma riqueza que ultrapassa largamente os limites do concelho, é riqueza da Área Metropolitana, é riqueza da Zona Norte. E essa riqueza tem que ser aproveitada e dinamizada. Depois há determinado tipo de características de freguesia que podem, sob o ponto de vista cultural, ser aproveitadas, seja a lousa, seja a indústria dos brinquedos aqui em Ermesinde, seja a panificação, que foi tão importante em Valongo. Há uma série de figuras identitárias que nós podemos aproveitar para também as pessoas que cá estão digam que aqui vivem com orgulho, e tenham de facto orgulho de estar na sua terra.

    DESPORTO

    PARA TODOS

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    Depois há outras, o concelho está no centro geográfico da AMP, está muito bem servido de acessibilidades, portanto vamos aproveitar essas mais-valias. E nós, que somos o concelho mais pequeno e mais pobre da AMP, temos que defender que ela tem que ser policêntrica, o que significa que não pode ir tudo para o Porto, ou ir tudo para Gaia, ou para a Maia ou Matosinhos, porque os seus presidentes têm mais poder reivindicativo. Temos que lutar por uma AMP que tenha vários centros de interesse. E só assim é que teremos uma AMP coesa. Porque sem essa AMP coesa não podemos pensar nunca em regionalização, porque afinal é esse o nosso objectivo último.

    AVE – Para além das duas questões que explicitamente já abordou, ambiente e urbanismo, há uma terceira que tem sido muito apontada num inquérito que “A Voz de Ermesinde” está a promover entre os leitores online. Neste momento regista-se uma preocupação grande entre os inquiridos, com o ambiente, a questão mais focada (35%), a seguir o urbanismo (23%), e depois o desporto (17%). Ora, relativamente ao desporto, apresentou recentemente um conjunto de reflexões...

    MJA – O desporto é, obviamente, uma das prioridades. Toda a gente me fala dessa vertente. E sobretudo falam com muita mágoa e queixam-se de um tratamento que entendem mais favorável em concelhos vizinhos, nomeadamente a Maia, que é porventura aquele em que mais falarão na área do desporto. É evidente que essa situação tem que ser acautelada. As associações e colectividades desportivas têm que ser apoiadas e acarinhadas e tem que se valorizar o trabalho que elas fazem, sobretudo com as camadas mais jovens.

    Há também um esforço por parte de clubes e há clubes grandes aqui que têm actividade desportiva com muita qualidade e têm campeões e são capazes de os formar. Mas para além disso, não podemos esquecer que há muita gente que gosta de praticar actividade física, tem direito a praticá-la... e tem que a praticar no concelho. Por isso têm que se criar estruturas para onde possam ser canalizados não só os atletas dos vários escalões das associações e colectividades, mas também os cidadãos que queiram praticar desporto.

    Daí que a proposta em termos do meu programa é criar infra-estruturas que permitam que toda a gente no concelho usufrua delas para praticar desporto, sejam os clubes, mas não em exclusivo os clubes, sejam os cidadãos. O meu objectivo era ter um parque por freguesia, ou aproveitando as estruturas já existentes de associações ou clubes, e que possam ser melhoradas – e naturalmente, nesses casos, os clubes ter-se-iam de comprometer a abrir as suas instalações também aos cidadãos –, ou no caso em que não os haja, arranjar forma de criar esses parques desportivos, também por iniciativa da Câmara, ao serviço dos clubes e dos cidadãos. Obviamente isso será feito caso a caso, de acordo com as circunstâncias, de acordo com as disponibilidades – naturalmente – de terrenos, e sobretudo tendo em atenção que há freguesias que têm apetências por determinados desportos. Vamos ajudar a fazer esse esforço nomeadamente através de uma escola de desporto patrocinada pela Câmara, e que será fundamentalmente uma bolsa de monitores nas diversas áreas desportivas, que andará pelas escolas do ensino básico a mobilizar os miúdos para a prática desportiva e, sobretudo, dessas actividades em que há tradição nas respectivas freguesias, para também as fazer renascer, no caso em que deixaram de se praticar ou se praticam menos. Esse esforço tem que ser apoiado pela Câmara, sendo que nós não devemos ter um papel tutelador das associações e colectividades. Cada um tem as suas competências, cada um tem que as desempenhar da melhor maneira possível. Por um lado, no concelho ter como parceiros as colectividades, depois fora do concelho, pedir sempre que possível o contributo das universidades. Concretamente a Universidade do Porto que, sendo chamada do Porto serve toda a zona norte.

    AVE – Uma das carências em infra-estruturas que tem também referido é a questão dos transportes intra-concelho. Como é que via possível resolver essa carência, tendo até em conta a legislação actual nessa matéria?

    MJA – O concelho é muito visto como um fornecedor de mão-de-obra, portanto de gente que vai trabalhar para os concelhos limítrofes, Maia e sobretudo Porto. E portanto a lógica do transporte rodoviário e ferroviário é muito na lógica de que as pessoas vêm cá dormir e vão trabalhar para o Porto (ou para a Maia ou Gondomar). É evidente que isso existe e vai continuar e as pessoas têm que ter condições para sair e chegar aos seus locais de trabalho sem demorarem tempo excessivo. Mas para além disso, há pessoas que vivem no concelho e têm que se deslocar dentro dele. E as pessoas não podem ficar fechadas em casa. É evidente que terá de se estudar com as empresas concessionárias de transporte rodoviário que alternativas é preciso criar, mas não faz sentido que dentro do concelho não haja a possibilidade de as pessoas se deslocarem. Se uma pessoa vive em Sobrado e quer vir a Campo, ou a Valongo ou Alfena, tem que ter transporte público que lhe permita deslocar-se dentro do concelho, independentemente de ter ou não viatura própria. Isto para já não falar de zonas habitacionais que estão completamente desprovidas de qualquer tipo de transporte público, a saber alguns bairros camarários que foram construídos em ermos. A minha ideia é que o concelho possa vir a ser servido por uma rede interna de transportes rápidos, pequenos, mas que permita que as pessoas tenham mobilidade dentro do concelho. É evidente que isso será estudado com a STCP, com as empresas concessionadas de transporte colectivo e tanto quanto possível casando essa necessidade com a lógica do Andante, que é o mesmo bilhete (ou cartão) servir para utilizar em vários meios de transporte público.

    AVE – Parece-lhe possível (e desejável) a vinda do metro ao concelho?

    MJA – O metro está muito dependente da ligação a Gondomar e à Maia. Eu acho que, nesta altura, é cedo para se pensar nisso. É apenas uma hipótese que se pode considerar. A ligação ao Porto está resolvida pelo comboio, claramente. Não me parece, mesmo em termos de transportes internos, que seja essa a principal prioridade. Vamos esperar para ter a situação mais bem pesada e não embarcarmos em outros projectos megalómanos.

    O DESGASTE POLÍTICO

    DOS SOCIALISTAS

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    AVE – Em termos de prioridades, qual seria uma medida prioritária, tutelar, fundamental, do seu programa?

    MJA – Uma delas é a revisão do PDM, que é obrigatória. Sem isso nada é possível. A revisão já está atrasada, devia ter sido para ontem, e nós temos que acelerar obrigatoriamente isso, sobretudo tendo em atenção que esse documento tem que ser normativo, que salvaguarde e acautele a qualidade de vida das gerações futuras. Esse documento tem que ser muito bem pensado, têm que ser muito bem marcadas as áreas passíveis de construção, e sobretudo que não se entenda que desenvolvimento é igual a crescimento – não é! – e temos de lutar para que no concelho haja um desenvolvimento sustentado, que é aquilo que não existe. Fazer-se o ordenamento do território onde ainda for possível ser ordenado, e nos sítios onde haja aquilo que se pode definir como caos urbanístico, tentar corrigir o que é possível corrigir. É evidente que não podemos arrasar as coisas. Sobretudo não se deve permitir que se repitam experiências de excesso de cimento de que Ermesinde é exemplo.

    AVE – Porquê a escolha de uma figura jurídica como a da Área Protegida para as serras de Valongo (Santa Justa, Pias, Castiçal), em vez da do Parque Natural proposto pela CDU, por exemplo?

    MJA – O que é fundamental, qualquer que seja a figura jurídica ou o nome que se lhe dê, é que aquele espaço seja protegido e se salvaguarde essa riqueza. Se é parque ou área protegida, para mim é secundário. O fundamental é que se olhe com atenção para aquelas serras, e se consiga trabalhar com os concelhos vizinhos no sentido de salvaguardar aquela riqueza que é de todos nós. Por isso mesmo é que eu disse que, do ponto de vista simbólico, a área do ambiente ficava com o presidente da Câmara, no caso de ser eleita, obviamente. Não é porque não tenha pessoas na lista capazes de assumir essa competência, é uma equipa, de facto, capaz. É um gesto simbólico, porque o ambiente é uma área efectivamente de preocupação.

    AVE – No decurso da sua campanha, tem-se referido algumas vezes a declarações feitas pelo presidente da Câmara, Dr. Fernando Melo, relativamente à situação de «algum cansaço», «saturação» e até do surgimento de «poderes paralelos». Não lhe parece por isso positivo que, seja qual for o resultado das eleições, haja sempre uma remodelação camarária extensa, já que o máximo que pode acontecer é ser reeleito apenas um vereador além do actual presidente da Câmara?

    MJA – Não me pronuncio relativamente à lista do Dr. Fernando Melo, sei que a minha é boa! Não conheço as pessoas da lista do Dr. Fernando Melo, portanto não sei.

    AVE – Mas como se tinha referido a essa “saturação”...

    MJA – Eu não referi, quem referiu foi o Dr. Fernando Melo.

    AVE – Mas tem citado a frase dele...

    MJA – Tenho citado essa declaração em que o Dr. Fernando Melo afirma – em entrevista ao “Comércio do Porto” – que, ao fim de 12 anos, há saturação e há falta de criatividade, e estou completamente de acordo, porque esse cansaço e falta de criatividade são bem patentes na obra recente. E quando ele faz aquela referência aos poderes paralelos, não sei exactamente àquilo que se refere, só ele poderá explicar o que quer dizer com isso.

    AVE – Relativamente a algumas dúvidas que se levantaram do ponto de vista jurídico à actividade da Câmara nos mandatos anteriores, há alguma questão que a preocupe, ou pensa que são questões passadas e não vale a pena estar aí a mexer?

    MJA – Eu estou preocupada é com o próximo mandato, porque como espero ganhar a Câmara é esse mandato que me preocupa. Tenho um programa concreto, com propostas em diversas áreas, e é isso que eu ponho à consideração dos eleitores. E eu espero que os eleitores efectivamente vejam esse programa, o comparem com o que está feito ou que está prometido e não está feito, e que façam essa escolha conscienciosamente. Foi isso que eu me comprometi a fazer.

    AVE – Crê que a evolução da política nacional possa ter algum impacto relevante no resultado das autárquicas, concretamente um certo desgaste pela governação do PS nos últimos meses?

    MJA – Eu acho que as pessoas são bem mais sábias do que aquilo que possa parecer. Têm consciência de que situação económica do País é grave, é complicada. E que, para situações complicadas, tem que haver soluções complicadas. Muitas vezes penosas. Eu acho que as pessoas já fizeram e perceberam essa leitura. E não há governo nenhum que, em consciência, tome as medidas que foram tomadas pelo PS sabendo que tem umas eleições à porta. Se as tomou foi mesmo porque tinha que as tomar e não havia alternativa. Eu acho que as pessoas entenderam que essas medidas eram urgentes, e que tinham de ser tomadas agora sob pena de nós, em termos de futuro, termos uma situação bem pior do que a que temos. Sinceramente não me parece que haja esse impacto negativo, até porque as pessoas também distinguem bem o que são umas eleições autárquicas e umas legislativas. Já votaram para as legislativas, agora para as eleições autárquicas vão votar noutra coisa: em programas locais, em caras conhecidas, e sobretudo vão votar em pessoas que podem, amanhã, falar com elas no meio da rua, pedir-lhes contas daquilo que estão a fazer. Como se sabe, o Poder Local tem essa grande vantagem, porque é um poder que está muito próximo do cidadão e portanto o cidadão também se sente mais seguro porque sabe que o Videira vai ser candidato à Câmara e encontra o Videira na rua e diz “Ó Sr. Videira, então isto e aquilo, como é?”. E essa proximidade do cidadão também permite que este, a escolher, muitas vezes nem sequer escolha de acordo com a sua ideologia ou o partido com que simpatiza mais, escolhe as pessoas ou escolhe os programas. É evidente que eu, como não fulanizo as questões, não estou à espera de que se escolham as pessoas, mas que se escolham os programas e, sobretudo, que também se olhe para as pessoas que foram escolhidas pelos respectivos partidos para desenvolver esses programas.

    AVE – O emagrecimento do número de vereadores eleitos pelo PSD já será uma vitória para o PS, ou longe disso?

    MJA – Vitória do PS é ganhar, nem que seja por um voto.

    AVE – Qualquer outro resultado é uma derrota, mesmo que haja um avanço do PS no concelho?

    MJA – Vitória é ganhar. Não conheço outra definição.

    AVE – Que expectativas tem relativamente à equipa que o PS apresenta para a Assembleia Municipal?

    MJA – As equipas que o PS apresenta quer para a Assembleia Municipal, quer para as assembleias de freguesia, quer para a Câmara Municipal, são boas equipas e, sobretudo, são equipas coesas, isto é nós vamos trabalhar todos juntos. Isto significa que a Câmara terá, na Assembleia, naturalmente se formos eleitos, o respaldo das suas propostas. E essa articulação entre o Executivo e a Assembleia Municipal é fundamental!

    Da mesma forma que a articulação entre a Câmara Municipal e as assembleias de freguesia se fará nas cinco freguesias, porque o projecto é um, é o projecto do PS, somos é diferentes protagonistas. Nem sequer somos protagonistas de importância diferente, somos todos importantes, cada um a desempenhar o seu papel. Essa articulação e trabalho conjunto da Câmara, da Assembleia e das juntas de Freguesia será uma das marcas diferentes do Partido Socialista, se ganhar o poder, como esperamos.

    AVE – Neste momento, dado o facto de, nalgumas das freguesias existir uma situação aparentemente favorável ao PS – em Valongo apresenta um candidato várias vezes vencedor com facilidade, em Alfena o PSD tem de se defrontar com uma lista de independentes que é praticamente uma cisão do PSD, em Ermesinde o PSD apresenta um candidato que não é muito conhecido – isto tudo não são circunstâncias muito favoráveis à sua candidatura? Mesmo que não seja líquido que se vote para a Câmara de forma igual à que se vota para outros órgãos. Isso não a “obriga” a ter bons resultados?

    MJA – Não me parece que seja por aí que se chega lá. O PS ganhará as eleições se conseguir transmitir aos eleitores que tem um bom programa, próprio para o concelho, que se vai traduzir na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Se o PS conseguir fazer chegar aos eleitores esta mensagem, com credibilidade e com seriedade, não precisa dessas circunstâncias, favoráveis, mas sobre as quais eu tenho as minhas dúvidas. Porque não me parece que isso possa influir tanto. O que de facto pode influir é um cidadão olhar para o programa e dizer: “Ah!, esta candidatura ou este partido oferece-me aquilo de que estava à espera”.

    AVE – Acha que os munícipes têm capacidade para ler e conhecer os programas?

    MJA – Têm. As pessoas estão muito preocupadas com o que se passa na sua terra. Aliás, o programa do PS traduz também, de alguma forma, a auscultação que eu fiz junto de muita gente, muita gente. Opiniões, apreciações, aspirações que eu tento reflectir no programa que apresento. É evidente que não vamos chegar a todos os eleitores, mas àqueles a quem eu consiga chegar, a ideia é explicar que o nosso projecto é este e, sobretudo, que a nossa prática é completamente diferente. Nós pomos as pessoas em primeiro lugar, continuaremos a pô-las em primeiro lugar e o nosso projecto traduz um bocado isso. E é com esse projecto que nós temos que chegar lá. Para ser sincera, aquelas são circunstâncias que tanto podem ser favoráveis como não. Essa avaliação não é muito clara para mim. Mas o projecto é claro. Vamos trabalhar nele, porque o momento é difícil, quer ao nível nacional quer local. No PS, temos que juntar as forças dos diversos candidatos, no sentido de ser um único projecto e que, cada um, ao nível das suas competências, tem que procurar fazer o seu melhor.

    AVE – Se ganhar, como vê o relacionamento com a Oposição?

    MJA – Qualquer que seja a oposição, nós temos que respeitar o mandato conferido pelo povo. Por isso, seja qual for o quadro político-partidário, ele tem que ser respeitado, pois foi a vontade dos eleitores. As relações serão sempre boas com quem quer que seja que esteja na oposição. Nem consigo entender a democracia doutra forma.

    AVE – Relativamente a Ermesinde, sendo uma cidade tão importante no contexto do concelho, constitui para si – pensamos nós – uma preocupação fundamental. Acha que é preciso quase refundar a cidade de Ermesinde?

    MJA – É preciso olhar para Ermesinde com muita atenção, porque os problemas aqui, em certas partes da cidade, são de facto complicados, há zonas da cidade que não tiveram a mais pequena atenção, o caso da Gandra, o caso de Sampaio, o caso de Sonhos e, portanto, temos que olhar para a cidade – ou para a freguesia, se se quiser – de uma forma integrada. Nós não podemos, não queremos dar preferência a uma parte da cidade em detrimento da outra. E sobretudo, que seja uma cidade – como tem que ser um concelho, em que haja qualidade de vida. Porque é um dos locais, de facto, onde falta qualidade de vida. E vamos tentar, na medida do possível, elevar essa qualidade de vida com pequenas intervenções que têm tradução imediata e que respondem, de alguma forma, àquilo que as pessoas anseiam. E faremos o possível mesmo no âmbito de revisão do PDM, para que todos os espaços que estejam disponíveis, devolutos e que possam ser arrelvados, ajardinados, ou transformados em recanto informal para prática desportiva ou para as pessoas apenas estarem a conviver (como uma tabela de basquete ou um banco de jardim), por assim os aproveitar. Dentro daquilo que é possível, porque naturalmente não conseguimos fazer milagres, nem nesta altura andar a demolir só pelo prazer de demolir. Vamos olhar para a cidade com olhos de ver, com atenção. Sem perder de vista que o concelho são cinco freguesias e que todas elas merecem a nossa atenção, independentemente de haver mais população ou menos população.

    MEDIDAS

    DE URBANISMO

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    AVE – Que comentário faz àquilo que tem sido a expansão do parque urbano de Ermesinde e à alteração das propostas iniciais?

    MJA – Quanto àquela intervenção feita no âmbito do Polis, eu começo por lembrar que ele foi lançado pelo Eng. José Sócrates, era então ministro do Ambiente. E imagino que o Eng. José Sócrates quando lançou o Polis, não imaginaria que algumas respostas no seu âmbito tivessem tanto cimento como têm aqui em Ermesinde. O parque urbano é pena que não tenha mais verde.

    AVE – Tem propostas para aquele espaço ou a criação de um outro?

    MJA – Aquele espaço que era de ampliação do parque urbano, que inclusivamente foi a justificação que foi dada ao presidente da Junta de Freguesia para não se construir ali a sede, no fim, não só não se construiu ali a sede da Junta de Freguesia, como se está a construir – não sei exactamente o quê –, mas por aquilo que tenho ouvido, até é para um investidor privado! Foi uma oportunidade perdida e que não é reversível, porque é evidente que não faz sentido, se ganharmos as eleições, depois deitarmos aquilo abaixo. Nós teríamos feito diferente.

    AVE – Tem alguma ideia para o antigo cinema de Ermesinde?

    MJA – Ideias eu tenho, resta saber quando chegar à Câmara – no caso de ganhar – se a Câmara terá capacidade financeira para dar resposta a essa preocupação. É evidente que, em termos absolutos, sem ter como referência a situação financeira da Câmara, que eu não conheço em pormenor, e portanto não me queria adiantar muito, mas por exemplo, esse teatro pode ser – eu não o conheço por dentro –, mas imagino até pela localização, que pode ser aproveitado para uma estrutura que, do ponto de vista da cultura, permita trazer a Valongo espectáculos para outros públicos culturais, nomeadamente de música clássica ou outro tipo de espectáculos não muito comuns e que não têm espaço aqui no concelho. É um espaço que valia a pena aproveitar, eventualmente para uma casa das associações – podia ser uma alternativa – mas tudo depende da capacidade financeira da Câmara. E dentro das intervenções que nós propomos, essa não é, claramente, das prioritárias.

    AVE – Acha que é “obrigatório” tentar colmatar-se a perda da vinda para o concelho da Escola Superior de Hotelaria com um equipamento de carácter semelhante – universitário –, até por uma questão de prestígio?

    MJA – É evidente que teria sido importante conseguir isso para o cinema. Tudo o que sejam iniciativas no concelho geradoras de mais-valias obviamente que têm interesse. E o ensino universitário tem-no. Tenho as minhas dúvidas se nesta fase, e de acordo com a nova política no que diz respeito ao ensino universitário, que haja grande caminho para essa alternativa. Mas é evidente que a Câmara tem que ter sempre a porta aberta para atrair para o concelho esse tipo de investimentos. Mas há outras alternativas no que respeita à educação, nomeadamente o ensino sócio-profissional, relativamente às quais podem ser criadas condições de atractividade, funcionando como complementares ao tecido económico-social do concelho e que possam também dar resposta a um problema do concelho que, embora não seja da área da Câmara, esta não pode passar ao lado dele, que é a questão do desemprego. E, portanto criar aqui estabelecimentos de ensino sócio-profissional, que é uma área em falta até no País (e no Porto também) parece-me que é uma alternativa porventura mais exequível do que continuar a pensar em pólos de ensino universitário, porque hoje em dia a sua excessiva disseminação está a ser contrariada pela actual política do Governo.

    AVE – Relativamente à zona industrial de Campo e à actual expansão industrial em Alfena, há alguma coisa que considere necessário mudar, ou entende que é um aspecto positivo do actual desenvolvimento do concelho?

    MJA – A zona industrial de Campo tem, de facto, virtualidades únicas, porque está na confluência de acessibilidades ao concelho quer ferroviárias, quer rodoviárias, e tem que ser necessariamente aproveitada. É evidente que se criou uma situação de expectativa para os investidores, a quem foi “prometido” irem ganhar ali muito dinheiro. Eu acho que é possível que as pessoas ganhem dinheiro, e quando as pessoas compram terrenos é nessa expectativa, mas temos que ter algum bom senso, isto é temos que sentar os protagonistas à mesa e as pessoas entenderem que, se calhar, toda a gente tem que perder alguma coisa para todos ganharem.

    É com essa filosofia de diálogo que eu espero – no caso de ganhar a Câmara – pegar nessa zona industrial de Campo e dar-lhe uma vida que ela efectivamente não tem. Em Alfena a mesma coisa e, sobretudo, é preciso criar no concelho condições de atractividade que têm que passar por programas negociados com o Governo de atribuição de incentivos, quer sejam ao nível governamental quer sejam incentivos da própria Câmara, nomeadamente isenção de taxas e outro tipo de facilidades. Isto é, condições para atrair e para fixar no concelho indústrias, sobretudo geradoras de mais-valias, por forma a também podermos acompanhar isso de uma resposta ao desemprego no concelho, que é muito grande nos últimos dois anos e casá-las também com a questão das escolas. É meu objectivo, na área económica, criar um Conselho Económico-Social, órgão consultivo da presidente da Câmara, onde terão assento os empresários, os sindicatos, as escolas, enfim todas as instituições que, de alguma forma, façam uma avaliação da situação económica do concelho. E onde a presidente da Câmara possa também escutar as sugestões que ali serão apresentadas. Mas as zonas industriais do concelho são pólos que têm que ser dinamizados na tal lógica metropolitana policêntrica.

    AVE – Tem já alguma proposta de implantação de qualquer equipamento junto do IC24 no concelho?

    MJA – Essas propostas não podem ser vistas desgarradamente. Temos que olhar para o mapa do concelho, fazer a revisão obrigatória do PDM, tendo em consideração obviamente essas mais-valias e criando as condições para que haja atractividade quer de equipamentos industriais quer de outros que se possam fixar no concelho. Por exemplo, a minha proposta que, na altura causou tanto brado, da instalação no concelho do Centro Materno--Infantil. A Câmara, comigo à frente, passará a propor que esses equipamentos venham para o concelho, quaisquer que eles sejam. Porque é assim que os outros concelhos têm conseguido levar para lá projectos-âncora. E tem que se ter capacidade reivindicativa. Por alguma razão, Valongo, com todas as condições de acessibilidades, não consegue esses equipamentos-âncora. Vão para Matosinhos, vão para Gaia ou para o Porto...

    AVE – O que é que no PDM pode ainda ser feito para intervir em situações, digamos perdidas, como, é o caso da Gandra, em Ermesinde, um dos melhores exemplos do que é o caos urbanístico resultante do desenvolvimento assente no cimento?

    MJA – Lá está. O que está consolidado é de muito difícil solução. Vai tentar-se, com uma equipa multidisciplinar e técnica de qualidade, que o PDM também dê resposta nessa matéria em termos de qualidade de vida, se bem que em situações como essa da Gandra, tal seja muito complicado. Mas vamos tentar fazer o que é possível fazer, rodeando-nos de gente tecnicamente qualificada. Eu imagino que na Câmara haverá esses técnicos, mas se não houver terão que ser contratados técnicos de fora. Temos a Universidade do Porto aqui tão perto, com a maior universidade do País. No caso concreto da Faculdade de Arquitectura, é uma das melhores faculdades de Arquitectura do mundo e, por isso, vamos aproveitar o que temos ao pé de casa e essa facilidade e obrigação que a Universidade tem de colaborar com as autarquias. Sempre que for possível e necessário, é minha intenção recorrer à Universidade para dar essa mais-valia em termos de conhecimento e, concretamente aqui, tem que ser chamada uma equipa que olhe para ali e diga como é que nós vamos tentar resolver. O ideal seria não haver ali nada e começar a construir de novo, mas é evidente que isso é completamente impensável. Não há nada que não tenha solução. Pode não ser a solução ideal, mas é a solução possível, e essa vamos procurá-la.

    AVE – Para o imbróglio dos parquímetros, vê uma solução?

    MJA – Vamos tentar. Para analisar os problemas existentes com o contrato de concessão e para verificar a situação de todos os parquímetros colocados, durante seis meses será suspenso o pagamento do estacionamento nas ruas de Ermesinde e Valongo.

    E serão retirados os parquímetros das ruas habitacionais, é uma garantia minha.

    AVE – Quer fazer uma espécie de apelo final?

    MJA – Quero pedir para o PS o benefício da dúvida. O actual Executivo está lá há doze anos e já demonstrou o que é capaz de fazer. As pessoas já fizeram essa avaliação, porque a têm feito. Eu peço é que os eleitores façam essa avaliação de uma forma séria e consciente, que se informem daquilo que está previsto, daquilo que está proposto pelos partidos e que escolham em consciência tendo em atenção que esta escolha vai ser muito importante. Vamos fazer diferente e, na nossa opinião, vamos fazer melhor!

    Por: LC

     

     

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