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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 15-09-2005

    SECÇÃO: Cultura


    PASSIEO PEDESTRE À PONTE DOS SETE ARCOS EM CABEDA

    Ágora na rota dos espaços verdes

    A Ágorarte – Associação Cultural e Artística retomou no passado dia 10 de Setembro a realização dos passeios pedestres que tem vindo a promover em Ermesinde e através dos quais se vão conhecendo as belezas naturais, as narrativas do passado e as tradições de um burgo cada vez menos rural, cada vez mais aberto à voragem do urbanismo. Guiando esta viagem (a terceira) à periferia da bucólica Ermesinde esteve, como habitualmente, o professor e historiador Jacinto Soares.

    As nuvens, ameaçadoramente cinzentas, e a brisa fresca, que se fazia sentir manhã cedo, chegaram a causar alguma apreensão. Temia-se um dia chuvoso. Mas, nenhuma das cerca de quatro dezenas de pessoas, que a partir das oito horas começaram a concentrar-se no exterior do Fórum Cultural de Ermesinde, terá certamente pensado em desistir do circuito proposto.

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    Iniciando o trajecto pela Rua 5 de Outubro até ao parque de jogos de Ermesinde onde, antigamente, chegou a laborar a antiga fábrica de cerâmica, os caminhantes detiveram-se um pouco antes, na chamada quelha das Arregadas, via medieval que integrava os velhos caminhos de Santiago. E um pouco mais adiante, puderam ainda vislumbrar a Fonte dos Sonhos, que em tempos foi cantada e decantada pela voz do popular cantor Sousa Real. Tratava-se, afinal, de uma réplica à não menos popular cantiga inspirada na Fonte das Sete Bicas. Curioso foi saber-se que era ali, naquela fonte, que um conhecido fabricante dos célebres pirolitos se abastecia das suas águas límpidas – matéria prima de qualidade, ao que dizem – para a composição dessas bebidas gaseificadas que eram distribuídas em garrafas arrolhadas com pequenas esferas de vidro, aproveitadas, pelo rapazio, para o jogo do carolo.

    ESPIÃO OU “VOLFRAMISTA”?

    Entretanto, o Sol, agora radioso, associava-se à boa disposição patenteada pelos caminhantes que iam estabelecendo entre si uma salutar convivência. Era altura de rumarem até à Ponte dos Sete Arcos, tomando como acesso a rua onde se situa a chamada Quinta do Alemão, por ali ter vivido um cidadão germânico, que muitos admitem ter sido espião ao serviço de Hitler e que outros sustentam ter vindo para Portugal para explorar o tão desejado volfrâmio. Há ainda quem fabule as mais diferentes versões, ao sabor de mirabolantes imaginações. Tudo ou quase tudo ficaram, porém, a conhecer a respeito da Quinta do Alemão, que viria a ser comprada nos anos 60 pelos Maristas, e onde existiu, outrora, o belo castelo dos Sonhos, que afinal teria pertencido a Marques de Sousa. Dessa construção, que chegou a servir de torre de vigia (torre de ir à vela), já não restam quaisquer vestígios.

    Dali, partiram os viajantes para o chamado Outeiro da Vela de S. Lourenço, local onde, de acordo com um documento de 1689, se limitava a fronteira entre Ermesinde e Alfena. Trata-se da linha de cumeada dos Montes da Costa, soberbo miradouro de onde se avistam Susão, Reguengos (Terra de Rei) e ainda a Maia e o Porto, entre outras localidades.

    RESERVA NATURAL

    Abre-se aqui um parêntesis para realçar a imponência deste harmonioso pulmão que a todos surpreende, tanto pela extensão como pelas suas belezas naturais. Não obstante o flagelo dos fogos e de alguns lixos que ali se vão acumulando, como imagem de marca de incivilidade e abandono.

    Já em Setembro de 1987 havia sido aprovada, por unanimidade, uma deliberação camarária, que classificava este espaço como reserva natural a preservar. É altura de reavaliar a situação. Aquela zona tem condições para se transformar num belíssimo e protegido Parque Natural. Urge salvar a floresta. Aqui fica a sugestão.

    Finalmente, e depois de descerem uma íngreme ladeira, os passeantes chegaram à Ponte dos Sete Arcos, obra majestosa nos seus 127 metros de comprimento e 27 de altura. Inaugurada em 28 de Julho de 1875, em pleno período do fontismo, esta travessia serve ainda a linha ferroviária do Douro e atravessa a ribeira de Cabeda, afluente do rio Leça.

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    REGRESSO À INFÂNCIA

    Mas o passeio não terminou aqui. No regresso, houve tempo ainda para visitar a oficina do Sr. Manuel Ferreira, que há muitos anos se dedica ao fabrico dos célebres brinquedos artesanais. Brinquedos de cores garridas que têm povoado o imaginário de muitas gerações de crianças. Brinquedos feitos de ingenuidade! E tão distantes do agressivo mundo da violência electrónica! Que saudades do ciclista e do som da sua campainha, da pandeireta, da rela, do pássaro que bate as asas, da viola, da camioneta de tracção a cordel e de tantos outros!

    Mas chega de reflexões. Que os viandantes já estão perto de uma quase desconhecida ponte românica, assoreada, de pequeno porte e de um só arco, que o falecido pároco de Alfena, padre Nuno Cardoso descobrira em 1993 quando se erguia o Complexo Religioso de Nossa Senhora da Paz, construção que chegou a causar polémica devido à sua proximidade da foz da Ribeira de Cabeda, como explicou Jacinto Soares.

    Terminava assim mais um proveitoso passeio, tanto do ponto de vista lúdico, como cultural, sendo visível o agrado dos participantes, entre os quais se contavam algumas caras novas. Futuramente, outros percursos se seguirão no âmbito da programação cultural definida pelo Ágora, instituição que, pela acção já desenvolvida, tem vindo a captar um crescente número de amigos.

    Por ÁLVARO MENDONÇA

     

     

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