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    Arquivo: Edição de 15-07-2005

    SECÇÃO: Arte Nona


    Será a vida uma telenovela?

    PRANCHA DE ALBERTO BRECCIA
    PRANCHA DE ALBERTO BRECCIA
    Um olhar à “vol de oiseau” por sobre os outros, mas numa atitude que, ainda que lembre um pouco a mais despudorada atitude de voyeur, é muito mais o olhar cínico e implacável sobre a vida, numa volúpia de descobrir os mundos secretos povoados pelos que estão à nossa volta, é esse o ambiente de “Buscavidas”, obra que retira o nome de uma personagem, à guisa de protagonista e narrador, uma espécie de repórter em busca de estórias que possam ser contadas ou, mais acertadamente o despido e rigoroso desvendamento do mundo que passa (ao lado).

    Qualquer adjectivo é vulgar e inadequado para nos referirmos com o respeito que ela merece, a “Buscavidas”, obra editada agora em Portugal, sob chancela da Asa, mas que remonta já a 1981.

    Os autores são Alberto Breccia, genial quadrinista uruguaio, mas cuja carreira decorreu sobretudo na Argentina, e Carlos Trillo, argumentista também ele genial, e cujas estórias encontraram expressão nos desenhos de autores como Jordi Bernet, Juan Gimenez e Mandrafina, para só citar alguns.

    São várias estórias, autenticamente pescadas, nas ruas, nos bares, por onde calha, por uma personagem que as parece detectar por um qualquer instinto reptilíneo predatório. Nelas perpassa a imensa tragicomédia da vida humana, captada pelo olhar cirúrgico de Trillo.

    Quanto aos grafismos de Breccia (1919-1993), o mestre – que deu aulas na Escuela Panamericana de Arte de Buenos Aires (onde conheceu Hugo Pratt), que fundou revistas de banda desenhada e criou a sua própria escola, o Instituto de Arte, falecido – são sumptuosos, expressionistas, baseados no tratamento dos contrastes absolutos de branco e preto, que é sobretudo plasmado em generosas manchas, em que o figurativo pouco mais é do que o sugerido pelos borrões de tinta preta com que, nesta obra, se exprimiu Alberto Breccia.

    Uma refinada combinação de “close ups” com imagens mais panorâmicas, de picados que definem, por vezes o “distanciamento” do protagonistra-narrador, fazem desta obra (ou melhor, desta obra-prima), do ponto de vista narrativo e pictural, uma eloquente mostra de como a Banda Desenhada é, de corpo inteiro e sem favor, arte maior.

    Várias estórias compõem este livro, desde aquela que apresenta a tal personagem do narrador, que dá o nome à obra – “Buscavidas”, àquela que dá o nome a esta crítica – “Será a Vida uma Telenovela?”, ou a outras, igualmente sugestivas, tais como “A Avó”, “Perseguição”, “A Vida é um Bolero Absurdo” ou “Zero a Comportamento”, ao todo o “fatídico” número de treze, que têm entre elas, como fio condutor, o frio comentário “reportante”, sardónico e “irritante” de Buscavidas. A pergunta, expressa pelos autores fica assim a pairar: Será a vida uma telenovela?

    Por: LC

     

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