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    Arquivo: Edição de 15-07-2005

    SECÇÃO: Crónicas


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    D. ERMESENDA, A DEVOTA (1)

    Leoneses e Borgonheses

    Coorria a era de 1093. D. Afonso VI de Leão, o Imperador, como se intitulava, ocupava o trono de Leão e Castela, após luta fratricida, à boa maneira goda, em que saiu vencedor dos seus dois irmãos Garcia e Sancho II, na disputa da herança de seu pai, o rei Fernando Magno. Sancho foi morto quando cercava as irmãs em Zamora e Garcia, que herdara o reino da Galiza, foi preso por Afonso no castelo de Luna, onde tinha morrido já há dois anos, no cárcere.

    Ilustração Arquivo
    Ilustração Arquivo
    O governo da Galiza que tinha pertencido ao encarcerado e falecido rei Garcia e que integrava o antigo Condado de Portugale, foi entregue a Raimundo de Borgonha, conde de Amous, que havia desposado a infanta Urraca. O nobre cavaleiro Raimundo, filho do conde de Borgonha, tinha vindo do reino dos Francos com um grupo de cavaleiros ajudar o rei de Leão e Castela na guerra que travava contra a moirama. Essa guerra tinha-se agudizado, há alguns anos, com a chegada dos radicais almorávidas, uma tribo de cameleiros berberes cujo chefe, Yusuf ben Tashufin, se tornou rei de Fez, em 1067, e agora estava determinado em suster o avanço cristão, resgatar as cidades perdidas e restaurar Al Andaluz das perdas sofridas pelas guerras entre os reis das taifas mouriscas. Era de tal ordem essa ameaça, principalmente a que vinha do q’aid de Sevilha, Sir ben Abu Bakr, que o rei da taifa de Badajoz, Abu-Hafs Omar Al Mutawakkil, a cujo reino pertencia todo o sul de Portugal, entregou as praças de Santarém, Lisboa e a alcáçova de Sintra a Afonso VI de Leão, em troca de protecção e ajuda. Afonso VI entregou essas praças à guarda do seu genro, conde D. Raimundo, e do seu lugar tenente, o prócere Soeiro Mendes da Maia. No ano seguinte, em 1094, voltaram ao domínio muçulmano, mas agora dos almorávidas, após Abu Bakr tomar Badajoz e matar Al Mutawakkil e o filho deste. Santarém e Lisboa só voltariam ao domínio cristão passados 53 anos, em 1147. Talvez para vingar o fracasso do seu avô, nessa conquista se distinguiu um neto de Soeiro Mendes, Pêro Pais da Maia, ao ponto de D. Afonso Henriques o nomear seu alferes, cargo que manteve durante 22 anos, até 1169.

    ADESTRAR-SE NAS ARTES DA GUERRAd

    Era nas Espanhas que os cavaleiros cristãos de além Pirenéus, da Aquitânia, Borgonha, França, Flandres e Germânia vinham adestrar-se na arte da guerra, lutando ao lado das mesnadas cristãs na guerra santa do Ocidente contra os fiéis de Mafoma.

    Em breve chegaria também D. Henrique de Borgonha, já famoso guerreiro, aventureiro e batalhador, mas de elevada educação e linhagem. Era filho menor de Roberto I, duque de Borgonha e sobrinho da rainha D. Constança, esposa do rei Afonso VI de Leão. D. Constança de Borgonha tinha falecido há dois dias e preparavam-se as cerimónias fúnebres no mosteiro beneditino de Sahagún, perto de Leão, a que vinha assistir o sobrinho D. Henrique, em representação do seu pai, o duque de Borgonha, irmão da rainha falecida. Já era a segunda vez que o Imperador enviuvava, após a morte da sua primeira esposa, Inês de Aquitânia. A rainha falecida era a mãe da infanta D. Urraca, futura rainha de Leão.

    DESTERROS E FIDELIDADES

    ENTRE VASSALOS DE LEONESES E BORGONHESES

    De facto, D. Henrique, acompanhado por um numeroso séquito de jovens cavaleiros armados, escudeiros, besteiros, peonagem e servos que conduziam as azémolas de carga carregadas com bagagens e alforjes de trebolha, havia deixado as montanhas da Gasconha (Euskadi) no reino de Navarra e, depois de atravessar o Ebro, entrava nas planuras secas de Burgos, terras de El Cid, o cavaleiro de Bivar que D. Afonso desterrou da sua corte talvez pela sua fidelidade ao seu assassinado irmão, Sancho II de Castela. D. Rodrigo Diaz, o Campeador, conhecido entre os mouros por El Cid, havia conquistado grandes territórios aos infiéis, entre os quais a luminosa cidade de Valência, seu baluarte. Mais tarde, o Campeador faria as pazes com o rei Afonso, por interferência de D. Henrique, quando este se tornasse noivo e esposo da infanta D. Teresa, filha do rei D. Afonso e da nobre dama D. Ximena Moniz, já falecida. Sua irmã D. Gontrode Moniz, esposa do valente adiantado na estremenha do Tejo e tenens de Sancta Aren (Santarém), Soeiro Mendes da Maia, tinha o amádigo de ter criado a infanta que era sua sobrinha que, nesse ano, entrando na maioridade, por ordem de D. Afonso, deveria regressar à corte de Leão que, desde 1086, havia passado para Toledo, antiga capital visigótica. Pelos serviços prestados ao rei de Leão, seu futuro sogro, a D. Henrique seria concedido, depois do seu casamento com a infanta D. Teresa, o governo do antigo Condado Portugalense, integrado no reino da Galiza do falecido rei Garcia e agora sob o governo do seu parente D. Raimundo. Desta forma, iria cimentar os alicerces do ocidental reino de Portugal que, mais tarde, seu filho, o valente guerreiro e conquistador Afonso Henriques, dotado também dum apurado sentido político, conseguiria concretizar, à força de pulso e argúcia.

    Por: Reinaldo Beça

     

     

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