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    Arquivo: Edição de 15-07-2005

    SECÇÃO: Destaque


    À boleia de Aristóteles

    Maria Emília Traça esteve na Feira do Livro de Ermesinde, na passada segunda-feira, dia 11 de Julho, para uma palestra organizada pel’”A Voz de Ermesinde” e inserida na programação da Feira do Livro. O título da palestra tirou--o a pedagoga e investigadora na área da Literatura Infanto-Juvenil, de uma muito apropriada citação de Aristóteles: “Um Livro é um Animal Vivo”. No final da sessão foram entregues os prémios do Concurso Um Conto de Natal que o nosso jornal promoveu.

    Os livros ocupam a mesinha onde está, ocupam a cabeça, voam por sobre a assistência um pouco impaciente, que espera sobretudo que os seus pequenos campeões – de conto (o de Natal) – ganhem por fim e verdadeiramente os prémios.

    FOTOS MANUEL VALDREZ
    FOTOS MANUEL VALDREZ
    Com a sua voz de mãe desfeita de ternuras, Emília embala a barca empurrada de mãos que sobrepesam aqui um livro de viagens, ali um conto infantil bordado a ilustrações que evocam sombras chinesas, acolá é um romance, arremessa os livros direito ao coração dos que a escutam, os livros soltam-se, como dizia o grego, são animais vivos que andam por ali travessos a desafiar este e aquela: anda brincar comigo, anda!

    Os livros cuja ausência torna a vida insuportável, os livros escritos em papel de arroz cheiroso, fininho fininho, ora com as lamentações de Job ora com as citações de Mao, os livros que eles queimaram, fosse na fabulosa Alexandria de outras eras ou no meio das praças, porque eram insuportavelmente sediciosos, hereges, degenerados. Maria Emília Traça convoca-os ali, os livros todos, destes e daqueles, podiam ser poemas, reflexões de um filósofo, podiam ser fosse o que fosse, objecto mágico, cristal de portabilidade, compatíveis com tudo, como um computador absolutamente universal, com os seus programas prontos a lançarem-se no ilhéu mais remoto ou nas águas-furtadas de um velho prédio em qualquer cidade.

    Livros sobre cinema, sobre a geografia das nossas paixões, o viver das pessoas no Irian Jaya ou mesmo aqui à beira no lugar de Cabeda.

    Bem procurou Emília provocar os presentes, armadilhou a praia, deixou aqui uma casca de banana, ali dissimulou uma mina, um enorme buraco recoberto de colmo, os livros resfolegaram como cavalos acabados de correr, ronronaram como gatos, enroscaram-se à espera como a serpente aguarda o encantador.

    Ela gritou sobre o direito de ninguém nos chatear com livros engolidos às pazadas, de empreitada triste, por obrigação funcionária, pelo imperativo de um canudo, de uma nota de fim de período.

    Lembrou o Penac: temos o direito, por exemplo, de deixar de lado um livro à página 26 e não lhe pegar mais, de saltarmos à frente o enfadonho, de virmos repeti-lo uma e outra vez, a este livro que obsessivamente se nos vem impor, de o sorver como quem encontra uma fonte num jardim inesperado.

    Ela contou como tentaram roubar-nos o Camões de corpo inteiro, reduzido a estátua. E de como tivemos que o reconstituir, gostosamente.

    ENTREGA DOS PRÉMIOS

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    A Gisela faltou. O seu prémio de conto de Natal fica à espera dela. Mas estiveram os outros todos. As mais velhinhas – a Ana Graça e a Leonor chegaram um poucochinho depois. Vinham de longe, de Paredes, mas um incêndio daqueles mais façanhudos atravessou-se-lhes à frente do comboio e não as queria deixar passar, com a linha encerrada por uns instantes que se fizeram largos, muito largos.

    A Daniela, entre os mais pequeninos, estava presente, com os professores, tal como o Raúl, com o pai. As meninas da Agrela (Teresa e Bruna) receberam os prémios, mas de uma delas foi a mãe que o levou.

    DANIEL PENAC:

    O direitos do leitor

    1 - O direito de não ler.

    2 - O direito de saltar páginas.

    3 - O direito de não terminar um livro.

    4 - O direito de reler.

    5 - O direito de ler qualquer coisa.

    6 - O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).

    7 - O direito de ler em qualquer lugar.

    8 - O direito de ler uma frase aqui e outra ali.

    9 - O direito de ler em voz alta.

    10 - O direito de calar.

    Por: LC

     

     

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