Cidade... precisa-se
Hoje já se olha para as cidades como organismos que absorvem recursos e emitem resíduos.
O homem, como ser superior, conseguiu adaptar os ambientes para a sua própria utilização, usando meios jamais conseguidos por outros animais. A sua crença no progresso humano levou-o, em muitas situações, à sua própria destruição. A história é disso testemunho. Muitas das antigas sociedades urbanas desintegraram-se, talvez a primeira tenha sido a de Harappa, no vale do rio Indo, há cerca de 3 500/4 500 anos.
A destruição da cobertura florestal e a remoção da camada superior do solo impediram a retenção e infiltração das águas. Com a diminuição das chuvas, o declínio da fertilidade do solo e o crescimento populacional, a sociedade de Harappa perdeu a base dos seus recursos naturais e simplesmente desapareceu. O mesmo pode ter acontecido nos vales dos rios Tigres e Eufrates e no México pré-colombiano, assim como ainda hoje acontece em algumas faixas de Sahel e no continente Africano.
Várias são as razões que contribuíram para esses desaparecimentos, porém todas estão sujeitas a três variáveis: população, meio ambiente e recursos naturais.
A sobrevivência da sociedade sempre esteve dependente da manutenção do equilíbrio entre as variáveis de população, recursos naturais e meio ambiente.
«É uma ironia que as cidades, o habitat da humanidade, caracterizem-se como o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta». (1)
Nos Estados Unidos a poluição das cidades contribuiu para uma redução de 10% das plantações. A poluição da cidade de Londres, provocada pelo congestionamento do trânsito, é superior à provocada pela queima do carvão, no período anterior a 1956. No Japão, o lixo da cidade de Tóquio chega a um valor estimado de 20 milhões de toneladas por ano, lixo que já saturou toda a baía de Tóquio. A cidade do México é abastecida pela água de dois rios praticamente secos.
São realmente as cidades que originam a maioria dos gases causadores do efeito de estufa, e todos nós somos responsáveis por esta situação, uns mais do que outros, mas todos responsáveis.
Está na ordem do dia a educação para o ambiente e eu acredito que o aumento de uma consciência ecológica pode contribuir para o desenvolvimento de uma cultura urbana pós-industrial que seja socialmente responsável e ambientalmente consciente. O relatório das Nações Unidas, intitulado “Nosso Futuro Comum” propõe o conceito de “desenvolvimento sustentável” «como espinha dorsal de uma política económica global: atender às nossas necessidades actuais sem comprometer as futuras gerações e dirigir activamente o nosso desenvolvimento em favor da maioria do mundo – os mais pobres».
Este conceito de desenvolvimento sustentável implica uma redefinição da riqueza que terá obrigatoriamente de contemplar a riqueza natural: ar limpo, água potável, camada de ozono efectiva, mar sem poluição, terra fértil e abundante, diversidade de espécies.
Só com um desenvolvimento sustentável é possível deixar para as futuras gerações uma reserva de capital natural no mínimo igual à nossa própria herança.
Se as cidades são altamente responsáveis pelo desequilíbrio ecológico do nosso planeta é sinal que algo vai mal e desde o seu desenho ao seu desenvolvimento, aos nossos padrões de comportamento económico e social, tudo terá de ser reequacionado.
A cidade como centro privilegiado da sociedade de consumo desenvolveu políticas comerciais que destruíram os espaços urbanos. A vida da cidade vai morrendo aos poucos para se concentrar em volta das catedrais de consumo, onde todos os dias se realizam «as festas das compras», do necessário e do que apenas irá contribuir para o aumento do lixo da nossa cidade, e é neste ambiente festivo, que todos os dias todos nós matamos um pouco o nosso planeta.
(1) Richard Rogers + Philip Gumuchdjian: “Cidades para um pequeno planeta”. Gráfico extraído do mesmo livro.
Por:
Fernanda Lage
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