Incoerências
Muito justamente preocupado com o flagelo da sinistralidade rodoviária, Sua Excelência o Presidente da República dedicou-lhe uma presidência aberta, com início no 1º de Maio.
Nesse primeiro dia, o presidente foi conduzido num veículo banalizado da Brigada de Trânsito da GNR desde Lisboa, percorrendo a circular da capital e a A1 até à área de serviço de Santarém, onde se realizou a cerimónia oficial do início da presidência aberta.
Ainda na circular lisboeta, o Presidente verificou algumas manobras pouco ortodoxas de alguns condutores, que obviamente condenou.
Nas televisões pudemos acompanhar algumas dessas observações, à medida que eram feitas. O Presidente contava: desrespeito do traço contínuo, excesso de velocidade, duas. O agente acompanhante corrigia: falta de indicação de mudança de direcção (na realidade de fila)... O presidente insistia: duas.
|
Ilustração Rui Laginha |
Pouco depois, o acompanhante releva outra manobra perigosa: ultrapassagem pela direita. De facto, nos termos do disposto no artigo 36º do Código da Estrada, a ultrapassagem deve efectuar-se pela esquerda, com as excepções previstas no artigo 37º, que não se verificavam.
Curiosamente - ou talvez não -, nem os agentes da BT nem o Presidente denunciaram a infracção do condutor ultrapassado. É que se foi ultrapassado pela direita, isso significa muito simplesmente que se encontrava em flagrante violação do disposto nos artigos 13º e 14º do mesmo Código da Estrada, que dispõem que a circulação se deve fazer pela direita da faixa de rodagem e pela fila de trânsito mais à direita, podendo usar-se outra se: o não houver lugar naquela; o para ultrapassar; o para mudar de direcção. Ora, se foi ultrapassado pela direita, havia lugar na fila mais à direita, diria Monsieur de la Palisse!
Compreende-se a omissão: todos pudemos ver o carro da BT, que transportava o Presidente, a circular na fila mais à esquerda, havendo lugar nas outras!
Valha que S. Ex.a o Presidente, com a sua sabedoria e bom senso apurado, reconheceu que o limite de velocidade nas auto-estradas poderia ser mais elevado.
Por MANUEL GONÇALVES
|