Cavalos de várias cores
Resfolegando, nervosos, ébrios de asfalto, quixotes, eles vieram ao Parque, um dia destes.
Ficaram por ali, à sombra, momentos apenas, um breve segundo... marcado em memórias basbaques como as nossas, os cabelos em pé e um arrepio de gula na espinha. Um dia destes... LC
Poema
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Fotos Manuel Valdrez |
Quero um cavalo de várias cores
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir
Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva – nimbos e cerros –
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu
Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo aquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sozinho
Sem um cavalo de várias cores?
Reinaldo Ferreira
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