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Edição de 30-04-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Crónicas


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A selva

Há muito que os homens saíram da selva. Não lhes servia tanta incerteza, tanto perigo de vida. Aos poucos, organizaram-se para autodefesa e assistência mútua.

Sem que o percebessem, os animais observavam-nos e acabaram por copiar o Conselho da Tribo. Reúne-se uma vez por ano ou a pedido de algum grupo. Por exemplo, há uns sessenta anos, foi realizada uma reunião a pedido dos castores.

- Caros companheiros silvícolas, estamos fartos de cortar e transportar árvores de sol a sol, sem a ajuda de ninguém - declarou um castor barbado com ar envelhecido. - Há milénios que o fazemos, sem lamúrias. Mas os tempos pedem mais apoio aos jovens e maior convívio familiar. Não queremos chegar a casa tão tarde e de ânimo derrubado por tanto trabalho. A partir de hoje, não queremos cortar nem mais um galho depois do entardecer.

Gerou-se um burburinho, algumas vozes manifestaram-se a favor, mas a grande maioria estava até escandalizada com a desfaçatez daquela reivindicação. Um gato gordo e lanudo foi o encarregado de resumir a superior posição conjunta do Conselho:

- Oiçam lá, amigos dentolas - verberou ele -, não venham para aqui com essa moda dos homens, das oito horas de trabalho, que aqui não há regras nem regulações; aqui é a selva!

ILUSTRAÇÃO @RODOLFO.BISPO77
ILUSTRAÇÃO @RODOLFO.BISPO77
A reunião foi dada por encerrada e não se falou mais nisso.

Há quarenta e tal anos, a passarada granívora pediu a reunião do Conselho. Um pardal empertigado, explicou a reivindicação:

- Temos andado a viver à míngua. Esquadrinhamos campos e mais campos, mas, entre grãos soltos e respigos, não conseguimos enganar a fome. O que reivindicamos é uma mesada, um papo mínimo de grãos, para podermos viver com dignidade, sem andar a pedir nem a roubar.

Como sempre, muito clamor, e a sábia decisão do Conselho:

- Ó companheiros dos bicos curtigrossos - explicou o falcão encarregado de divulgar a determinação -, vocês até podem ter muita razão, mas um tal pacto social obrigaria à criação de uma organização enorme, que iria agravar o problema. Além disso, nenhum ser que viva na selva pode reivindicar quaisquer direitos. Isso de salários mínimos são modas dos homens. Aqui, cada um que trate de si; é a selva. Porque não se tornam carnívoros?

A reunião terminou com muitos piados tristes e outros irados, mas a vida na selva prosseguiu como antes.

O plenário de há cinco anos foi especialmente participado:

- Tem havido muitos incêndios, há zonas em que o pasto, com a seca, desapareceu, mas há outras que se mantêm férteis - expôs um coelho. - Seria sensato que se reservasse uma parte do pasto das zonas fartas para apoiar as que o não têm.

Antes que se iniciasse a vozearia, o presidente da mesa, um javali, mandou avançar o segundo orador.

- Há muitos rios poluídos - alegou um sável -, os nossos irmãos têm de se deslocar para águas não poluídas, mas onde a comida não dá para todos. Seria inteligente criar uma bolsa de comida para distribuir pelos carenciados.

Novo gesto rápido do javali, novo orador.

- A população cresceu, mas há menos zonas livres de

(...)

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Por: Joaquim Bispo

 

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