Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 30-04-2025
Jornal Online

SECÇÃO: Destaque


51.º ANIVERSÁRIO DO 25 DE ABRIL

Intervenção de Esmeralda Carvalho (Partido Socialista)

FOTO HÉLDER TEIXEIRA (JFE)
FOTO HÉLDER TEIXEIRA (JFE)
Hoje, nesta data tão especial para os portugueses, irei partilhar a minha vivência sobre o 25 de Abril, o que significou para mim e como o vivi até aos dias de hoje. Sinto esta necessidade de partilha, pois, por mais longínqua que seja essa data, teve um sentimento e um impacto único nas nossas vidas, mas muito em particular na minha.

Assim, irei começar por fazer algumas comparações com o antes e o depois do 25 de Abril de 1974.

Na escola, por exemplo, as raparigas estavam separadas dos rapazes e as brincadeiras eram muito regradas. Na sala de aula, se por acaso se deixasse cair um lápis ao chão, a professora não autorizava que se apanhasse o mesmo, se falasse com a colega do lado ou levávamos uma reguada, ou levávamos com uma cana (bastante comprida) nas orelhas, o que doía imenso e por vezes nos fazia sangrar. Isto para uma criança, como eu fui naquela época, deixou a sua marca.

Em família, o meu pai, como muitas outras pessoas, ouvia as notícias à noite na rádio, com o som muito baixo, para que não fosse descoberto pela PIDE, pois eram notícias que o governo português não queria divulgar e que eram difundidas no estrangeiro, sendo desta forma que íamos sabendo o que se passava no nosso país. Esta preocupação com o estado da nação e a vontade de uma mudança do regime era, para a maioria dos portugueses, vivida com ansiedade e com um receio das represálias, pois sabíamos do que o regime era capaz. Desde prisões compulsivas sem julgamento sérios, a torturas e em muitos outros casos com obrigação de exilio. Esta situação também se verificou na minha família. O meu avô paterno, ferroviário e um lutador contra o regime, arriscou a vida, distribuindo propaganda contra o regime. Um dia foi preso.

Era eu criança quando isto aconteceu e recordo-me dos meus pais o irem visitar e a angústia que isso gerou. Lembro-me de quando o meu pai chegou junto de nós a minha mãe lhe ter perguntado como estava o meu avô, tendo o meu pai respondido que pouco tinha falado com ele, apenas o encontrou muito pálido e fraco, mas que antes de o visitar o levaram para uma sala e obrigaram-no a despir-se antes da visita.

Anos depois, era já uma adolescente, o meu avô em conversa comigo, disse- me: “Olha minha neta, isto vai mudar, e vai ser muito bom, só que eu já não estarei cá para viver esse momento”. A verdade é que isso se veio a verificar.

No dia 25 de Abril de 1974, saltei de alegria e chorei, foi um misto de emoções, ao lembrar-me do que o meu avô me tinha dito e por ele infelizmente já ter falecido e não poder partilhar esse momento connosco. A partir daí senti que devia participar e de algum modo ajudar a que este dia fosse sempre recordado. Assim, decidi entrar na vida política, pela defesa dos direitos laborais, pela saúde pública, pela escola pública, pelos direitos das mulheres, mas essencialmente para que o legado do 25 de Abril não se perca na espuma dos dias.

Por último, apelo, como mulher, à participação de todas mulheres na vida política, pois tenho a convicção que cada vez mais o nosso papel será preponderante no futuro político, não só do nosso país, mas também do mundo.

VIVA o 25 de Abril

VIVA PORTUGAL

 

 

este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
© 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
Comentários sobre o site: [email protected].